Apontada como a redenção do Nordeste e que quando estiver pronta vai beneficiar mais de 12 milhões de nordestinos nos estados da Paraíba, Pernambuco, Ceará e Rio Grande do Nordeste, a transposição do Rio São Francisco depende de situações hidrológicas favoráveis em Sobradinho. No entanto, mesmo precisando ser revitalizado, o rio tem condições de garantir o abastecimento da região e matar a sede de milhões de nordestinos.
A garantia foi dada pelo presidente da Agência Nacional Águas (ANA), Vicente Andreu. Em entrevista publicada no Correio Brasiliense e reproduzida no PBAgora, ele deixou claro, que a transposição será a solução definitiva para a crise de abastecimento de água no Nordeste.
O presidente da ANA no entanto fez uma alerta. A crise de abastecimento de água veio para ficar, e o País segundo ele precisa se preparar para uma crise hídrica de médio e de longo prazos, com componentes muito complexos”.
Segundo ele, 2015 será pior que os anos anteriores. Os brasileiros segundo ele, precisam estar preparados para atravessar um deserto no ano que vem.
Confira abaixo os principais trechos da entrevista, concedida em Petrolina (PE), às margens do rio São Francisco.
Haverá água para a transposição do São Francisco?
A quantidade de água a ser utilizada na transposição é de 26m³ por segundo, na primeira fase. A vazão de Sobradinho, no pior momento, será de 900m³ por segundo. Os canais da transposição estão projetados para receberem até 127m³ por segundo. Mas, para operar em mais de 26m³, a transposição precisa de situações hidrológicas favoráveis em Sobradinho. Hoje elas não estão dadas. Portanto, se a transposição começasse a funcionar hoje, a resposta é sim, há água.
O ano de 2015 vai ser pior ou melhor que o de 2014?
Aqui na Bacia do São Francisco, a minha opinião é que vai piorar. Porque não houve recarga nos principais reservatórios do Semiárido. Não acumulou água. A perspectiva para o próximo período é de maior gravidade em relação a 2014. Vai exigir que não se diminua nenhuma das medidas que estão sendo tomadas. E é preciso considerar outras medidas ainda mais restritivas. Não se pode contar com uma volta à normalidade que ninguém sabe se virá. O presidente da Sabesp (Jerson Kelman) disse que nosso desafio era atravessar o deserto de 2015. Se soubéssemos que o deserto acaba, seria fácil. E se não acabar? Temos que ter a responsabilidade de dar para as pessoas a dimensão da crise, em lugar de passar um nível de segurança que, na minha opinião, não existe. Essa é uma mensagem desmobilizadora.
A crise veio para ficar?
Precisamos nos preparar para uma crise hídrica de médio e de longo prazos, com componentes muito complexos. Crises de escassez de água vão ocorrer com muito mais frequência, infelizmente. A irregularidade das chuvas veio para ficar. É muito provável que tenhamos que enfrentar períodos de seca mais frequentes. Chove num lugar e não chove noutro. A água no planeta é sempre a mesma. Na Amazônia, há uma sucessão de secas e enchentes. Salvador esteve debaixo d’água, enquanto a 100km dali há escassez. O ciclo hidrológico está alterado e isso potencializa as fragilidades que já existiam. Precisamos mudar nossos padrões de consumo. Fala-se muito no consumo da agricultura, mas 85% da população brasileira mora em cidades, o Brasil é urbano. E os padrões de consumo nas cidades são muito elevados se comparados com os indicadores internacionais. Em São Paulo, hoje, no meio da pior seca já registrada na cidade, cada habitante gasta, em média, 220 litros de água por dia. Isso precisa mudar.
Redação com Correio
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