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Conselheiro de Bolsonaro diz que saída é jogar o povo contra o Congresso

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O cafezinho pós-almoço era servido na tarde de um sábado de maio, na varanda de uma casa do Núcleo Bandeirante, nos arredores de Brasília, quando a conversa foi interrompida pelo toque do Hino Nacional no celular de Waldir Luiz Ferraz, de 66 anos. Quando os versos “És belo, és forte, impávido colosso/e o teu futuro espelha essa grandeza” ecoaram, o homem altíssimo (ele tem 1,88 metro), grisalho, vestindo bermuda, camiseta e chinelos, olhou a tela do smartphone e não disfarçou o contentamento. “É ele!”, disse, exibindo no visor o nome Messias 17 BR. A imagem de fundo do contato era uma bandeira do Brasil. “Fala, esperto”, atendeu Ferraz, com forte sotaque carioca, reforçando a intimidade construída há mais de 30 anos com o interlocutor.
Ferraz conhece Bolsonaro desde sua turbulenta saída do Exército, em 1986. Foi funcionário de seu gabinete desde os tempos da Câmara Municipal do Rio de Janeiro e permaneceu ao lado do amigo durante seus sete mandatos como deputado federal. A ascensão do chefe ao Palácio do Planalto, no entanto, não lhe garantiu promoção. Ferraz, chamado de “primo” por Bolsonaro, justifica que não gosta de andar de terno, traje obrigatório para quem transita pelos corredores de Brasília, e alega que prefere fazer articulação nas ruas e andar à vontade. Além de sua própria incompatibilidade com os ritos do poder, contribuiu para seu isolamento o fato de Gustavo Bebianno, então homem forte da campanha, ter alijado o assessor — distanciamento que o reprimiu até mesmo de visitar Bolsonaro no hospital, após a facada de que fora vítima em Juiz de Fora.

Ferraz está empregado como assessor no diretório do PSL do Rio, comandado pelo senador e filho do presidente, Flávio Bolsonaro. Recebe R$ 8 mil por mês. “Me deram um cargo lá, nem sei qual é”, disse ele, que é suplente da Comissão Executiva do partido no estado.

Depois da “geladeira” imposta por Bebianno, Ferraz voltou a se reaproximar do presidente no período da transição. Relatou os conselhos que tem passado a Bolsonaro em suas conversas com ele: “Cara, esquece desse Congresso. Você não precisa do Congresso. Quer aprovar alguma coisa? Joga. Se o cara não aprovar, o problema é dele, não é teu. Convoca a imprensa e diz: “Eu estou com vontade de melhorar a vida de vocês, mas o Congresso não quer’. Joga o povo contra o Congresso (…) Só tem bandido ali, não tem ninguém decente naquele Congresso. Se você tirar 5% de gente decente ali é muito (…) Você é diferente. Você deve favores ao povo. Então você pode se lixar para o Congresso”, contou Ferraz sobre uma das conversas com o mandatário. Para o assessor, o ministro-chefe da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, é o “câncer do Bolsonaro”, por aconselhar o presidente a negociar com o parlamento.

 

Revista Época

 


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