Do colapso nos sistemas de saúde à ameaça de forte recessão econômica, são notórios os impactos negativos da pandemia do novo coronavírus na sociedade global. Mas o avanço da propagação da Covid-19 no mundo tem um outro lado, afirma ambientalistas. Eles revelam os efeitos devastadores da ação do homem sobre o meio ambiente ao longo das décadas e serve de alerta para o fato de que passou da hora de os habitantes do planeta pensarem em maneiras de conter a devastação ambiental ao mesmo tempo em que revisitam hábitos, costumes e culturas.
Para a professora doutora Weruska Brasileiro, chefe do Departamento de Engenharia Sanitária e Ambiental da Universidade Estadual da Paraíba (UEPB), a destruição do nosso planeta está afetando a nossa sobrevivência.
Segundo a especialista os surtos de doenças cada vez mais graves que podem atingir fortemente a humanidade, deve-se ao desenvolvimento econômico desenfreado que acelera a exploração dos recursos naturais, a urbanização, a agricultura intensiva, o desmatamento das florestas contribuem para que muitos animais silvestres percam seus habitats naturais.
“Um exemplo clássico é o morcego, que é o possível hospedeiro do novo coronavírus, entre outros vírus”. Se por um lado, esses patógenos não causam doenças aos animais silvestres, por outro, trazem inúmeros prejuízos à saúde do homem e a de outros animais não silvestres, como ocorre com a covid-19. “O ser humano não tem um sistema imunológico capaz de vencer o coronavírus, que provoca infecções difíceis para o organismo se recuperar. Não se pode pensar que iremos degradar o potencial natural do planeta e a natureza não irá responder. Infelizmente, as respostas são devastadoras, como é o caso do que estamos vivendo no atual momento em virtude da pandemia!”, disse Weruska.
Assim também pensa a ambientalista e doutora em Ecologia, Ana Lúcia Tourinho, onde destaca que o coronavírus é a bola da vez. Altamente contagioso e letal, por onde passa deixa um rastro de morte, como se viu na China e, posteriormente, na Itália. Mas antes dele vieram outros: HIV, ebola, SARS, MERS, o zika vírus e a febre chikungunya. Estudos apontam que desde 1940, centenas de micróbios patogênicos, que causam doenças, surgiram ou ressurgiram em novos territórios onde nunca haviam sido vistos e 60% deles se originam do meio animal.
Ainda não se sabe ao certo qual foi o transmissor do novo coronavírus, mas especula-se que o contágio ao ser humano tenha começado a partir de um pangolim, mamífero originário de países da Ásia e África, de uma espécie de morcego ou cobra, vendido em um mercado público da cidade chinesa de Wuhan, onde teve início o surto da doença. Em matéria publicada no último final de semana pelo jornal britânico The Independent, o pesquisador da Universidade de Harvard, Samuel Myers, lembra que nos mercados de Wuhan, na província central de Hubei, há um número extraordinário de espécies exóticas vivendo em gaiolas muito próximas umas das outras e dos humanos, de uma maneira jamais encontrada na natureza.
A perda da biodiversidade e o crescimento da população global, que deve passar dos atuais dois bilhões para 9,7 bilhões de pessoas em 2050, todas elas procurando por alimentos, não deixam dúvidas de que novas pandemias como a que estamos vivendo agora virão, afirmou Myers. A questão é: quando isso vai acontecer?
“Existe uma correlação entre o desmatamento e a destruição dos habitats florestais com o surgimento das doenças. Inclusive se sabe que as doenças causadas por mosquito (dengue, zika vírus, febre chikungunya, malária e leishmaniose, por exemplo) têm uma relação intrínseca com o desmatamento. Quando desmata mais, surgem os vírus. A fauna silvestre fica exposta e esses microrganismos se aproximam da gente”, explicou a doutora em Ecologia, Ana Lúcia Tourinho.
Redação
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