Por telefone, Mário Vilalva falou ao G1 sobre a catástrofe no Chile. ‘Não saiam de onde estão’, recomendou diplomata a brasileiros.
Embaixador do Brasil em Santiago, capital do Chile, Mário Vilalva conversou na manhã deste domingo, por telefone, com o G1 e disse trabalhar com a possibilidade de existência de brasileiros entre as vítimas do terremoto de 8,8 graus de magnitude, que atingiu a região central do país na madrugada deste sábado (27).
“Os números estão subindo. É possível ter brasileiros entre as vítimas. Não descartamos essa hipótese. Mas, felizmente, até o momento não registramos nada”, afirmou Vilalva.
O embaixador classificou o tremor de sábado como “o maior terremoto da história”. “É uma situação delicada. Foi o maior terremoto da história, muito maior que o registrado em 1985”, avaliou.
O Itamaraty estima em 12 mil o número de brasileiros residentes ou em passagem pelo Chile. Questionado sobre a orientação do momento, Vilalva aconselhou brasileiros a não se deslocar pelo país e observar as orientações repassadas pelo governo chileno. “Sigam as orientações do governo. Não saiam de hotéis, casas e não tentem viajar”, disse.
Segundo o embaixador, “há muitos pontos de estrangulamento na infraestrutura do país” e a tentativa de alguns brasileiros em tentar viajar por território chileno pode ser perigosa.
Vilalva disse não existir previsão de envio de aviões da Força Aérea Brasileira (FAB) para fazer o resgate dos brasileiros no país. Sobre a aeronave da FAB que chegou a Brasília na manhã deste domingo, o diplomata explicou que os 12 brasileiros seriam integrantes do governo: “Eram alguns funcionários da Presidência da República.”
Só neste sábado (27), a embaixada brasileira recebeu 200 chamados de brasileiros pedindo para deixar o Chile. “Desse grupo, 50 médicos, que estavam em um congresso, estão presos em um hotel e o telefone não para”, disse o diplomata.
Pelo menos 12 turistas do Rio de Janeiro, São Paulo e Pará estão alojados no saguão de um hotel em Santiago. Eles estocam comida e água porque não há previsão de voos para retornar ao Brasil. “Quando ficamos sabendo do avião da FAB, cinco de nós correram para a embaixada. Mas fomos proibidos de entrar”, relata um dos turistas do grupo brasileiro.
Santiago
A capital do Chile foi sacudida por um forte terremoto secundário na manhã deste domingo (28). O Centro de Pesquisas Geológicas dos EUA registrou um tremor de magnitude 6,2, depois revisada para 6,1, às 8h25 locais (mesmo horário de Brasília), na região de Maule, a 184 km ao sul de Santiago. O tremor, ocorrido no continente, foi localizado a uma profundidade de 32 km.
Apesar do susto, não há informações sobre novos danos ou vítimas com o tremor desta manhã. A região já teve mais de cem réplicas do tremor inicial, muitas delas com magnitude superior a 5, que podem provocar danos, segundo o Centro de Pesquisas Geológicas dos EUA. Essas réplicas devem continuar ao longo dos próximos dias, segundo os sismólogos.
O embaixador brasileiro disse que saiu neste sábado para dar uma volta de carro pela capital do Chile. Em Santiago, segundo Vilalva, o terremoto chegou a 7,7 graus de magnitude. Com estrutura mais frágil, a periferia da cidade foi a mais abalada. “Na área central, vi algumas rachaduras e alguns danos nos prédios, mas nada grave. O pior ocorreu na periferia, onde a estrutura é pior: tudo veio abaixo”, relata Vilalva.
Todo o atendimento a brasileiros no Chile está sendo realizado na sede da embaixada, que chegou a ser interditada para avaliação de estragos causados pelo tremor. O consulado brasileiro, que fica no 15º andar de um edifício em Santiago foi fechado e o trabalho transferido para a embaixada.
Aeroporto
Vilalva afirmou que o aeroporto de Santiago, fechado desde a ocorrência dos tremores, pode voltar a operar nas próximas 72 horas. O diplomata disse que o governo chileno realiza testes na torre de controle do aeroporto para retomar o serviço de pousos e decolagens no país.
Avião da FAB
Neste domingo, a aeronave da Força Aérea Brasileira (FAB), que levou autoridades chilenas ao país neste sábado (27), chegou à Base Aérea de Brasília com 12 brasileiros que estavam em Santiago, capital do Chile, por volta de 5h15 deste domingo (28).
Em nota divulgada mais cedo, o comando da FAB relatou o sentimento dos passageiros do VC-99 B Legacy. A estudante brasileira Rafaela Link morava havia dois meses em Santiago. Na noite de sábado, ela e amigos divertiam-se em um bar karaokê quando viu tudo tremer. “Parecia que tudo ia cair. Foi um pânico generalizado. Vi a morte bem de perto”, disse a estudante. “Quando o avião pousou, eu chorei. Fiquei muito emocionada por estar de volta”, complementou Rafaela, segundo a nota da FAB.
Amiga de Rafaela, a turista Alexia Moecke teve sensação parecida ao desembarcar na Base Aérea de Brasília. “Uma maravilha. Eu estou em casa”, disse. No momento do terremoto, ela estava dormindo no hotel em que estava hospedada e viu tudo tremer.
A primeira a desembarcar do avião da FAB foi Tatiana Soares. “Muito bom voltar ao nosso país maravilhoso. O que passamos lá foi uma situação muito ruim”.
A enfermeira Petra Rangel estava em Santiago para um congresso que aconteceria no sábado e, devido ao terremoto, foi cancelado. Também estava dormindo no hotel quando ocorreu o terremoto: “Fiquei superfeliz em voltar”.
A aeronave brasileira que trouxe os 12 brasileiros é a mesma que havia decolado de Brasília na tarde do sábado com o ministro da Justiça, Jorge Toledo, e com o procurador-geral da República, Chahuán Sabas. Eles estavam no Brasil e retornaram ao Chile para participar das coordenações governamentais depois do terremoto que atingiu o país.
A aeronave brasileira pousou no pátio militar em Santiago. Foi o primeiro avião estrangeiro a chegar depois da catástrofe. Segundo os pilotos, a pista e o controle de tráfego aéreo estão perfeitas em condições operacionais. O abalo se deu na infraestrutura do aeroporto. Segundo a FAB, “no retorno a Brasília da aeronave, a embaixada solicitou o traslado de brasileiros interessados em voltar ao País”.
Terremoto
Ainda na noite deste sábado, a diretora do Escritório Nacional de Emergência (Onemi, na sigla em espanhol), Carmen Fernández, informou que o terremoto no Chile fez 300 vítimas. Durante o dia, a presidente chilena Michelle Bachelet já havia dito que o desastre afetou de alguma maneira 2 milhões de pessoas. “As forças da natureza golpearam duramente nossa pátria e mais uma vez põem à prova nossa capacidade de enfrentar adversidades e ficarmos de pé”, declarou a presidente em um pronunciamento transmitido em cadeia de rádio e TVs.
Segundo Bachelet, que sobrevoou de helicóptero as áreas atingidas neste sábado, o terremoto afetou 80% do país, e há pelo menos 1 milhão de casas danificadas. A presidente mandou condolência e solidariedade às vítimas e pediu “força” aos cidadãos. “Todas as autoridades do governo vão colocar toda energia para a volta à normalidade. Temos adiante uma árdua tarefa, não será fácil, requer muito tempo e recursos, mas sobretudo a generosidade e voluntarismo de todos nós”, disse a presidente.
G1