Engenheiro garante ao PB Agora que situação de Maceió está sob controle, mas risco de colapso ainda é iminente

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Um problema ambiental de graves proporções em um estado do Nordeste, mas que pode se repetir em várias cidades. A cidade de Maceió, capital do estado de Alagoas, está sob alerta máximo por causa do risco iminente de colapso de uma mina da petroquímica Braskem localizada no bairro do Mutange.

O risco iminente de um desastre ambiental de grandes proporções em Maceió, com a possibilidade de afundamento do solo em razão da exploração de sal gema feita no subsolo pela companhia Braskem, já gerou uma dramática situação humanitária com mais de 55 mil pessoas sendo obrigadas a abandonar os seus imóveis, muitas delas de forma urgente e sob ordem judicial. A situação é dramática para quem está sentindo na pele. Pessoas chorando. Sendo retiradas quase a força da área próxima da Mina 18. Trata-se do maior êxodo urbano em tempos de paz.

O PB Agora conversou por telefone com o professor da Universidade Federal de Alagoas, o engenheiro de pesca e biomédico Émerson Soares, um especialista na área que está diretamente envolvido no minucioso trabalho de análise do solo e dos efeitos da Mina 18.

Desde sábado, que a equipe chefiada por Émerson Soares, trabalha exaustivamente na área. Usando conhecimentos científicos e modernos equipamentos, eles buscam explicações para o risco de afundamento do solo. E não tem medido esforços. No momento, a equipe está mais nas análises da laguna e não do solo.

Após passar todo o final de semana coletando dados no local, o especialista garante que o risco de uma tragédia ambiental existe, mas o momento requer cuidado, visto, que no momento, a situação está normalizada e sob controle. Para ele, houve alarde.

“A Mina 18 se encontra numa área que adentra na lagoa e na parte do solo. Meio a meio. Uma parte na lagoa e outra na parte terrestre. A gente monitora aquela região há algum tempo. Nós temos dados. Fazemos mais de 120 parâmetros de qualidade do ambiente, da água e do fundo da lagoa e dos organismos. A Mina tem 32 metros de circunferências e já havia um perímetro de segurança na região, justamente pelo preenchimento das outras 35 minas existentes no local”, explicou.

Só que na Mina 18, o trabalho ainda não havia sido feito. Conforme explicou o engenheiro, quando a equipe iria começar o trabalho de enchimento, ela começou a apresentar problemas de oscilação conforme detectou equipamentos da Universidade Federal de Alagoas

Segundo ele, a medição mostrou a oscilação do relevo do terreno e o risco iminente de colapso.
“Foi detectado tremores. Eles não conseguiram preencher a Mina a tempo. A mina estava realmente com risco de colapso. Como se trata de um ambiente de 900 metros de profundidade em um raio de 32 metros aproximadamente de diâmetro, se houvesse um colapso repentino, é óbvio que iria acontecer uma grande entrada de água na região.

Para Émerson Soares, o deslocamento de várias pessoas das localidades ao redor da Mina 18, foi feito de forma preventiva e por motivos de segurança. Por preocupação.

“É questão preventiva. Porque inclusive, a área ali já não tem tantas pessoas desde 2018. Agora, foi aumentado a área de saída das pessoas por questão de segurança maior visto que o perigo existe. Houve tremores que ultrapassaram 2. da escala Richter. São tremores fracos, mas serviu de alerta para a região. Já não tem mais pessoas naquela região. Lá tem um perímetro de segurança que ninguém passa. Só os trabalhadores da área atuando” afirmou.

No momento, segundo Emerson, o que está acontecendo é uma estabilização do processo. Isso significa, conforme garantiu o engenheiro, que o solo está se moldando gradativamente, apesar de ter existindo um pequeno afundamento.

“Nessa parte entra a nossa equipe para verificar se com esses tremores, houve contato da água da Laguna com a Mina. Se isso acontecesse significaria que houve a ruptura e a água estaria entrando na cavidade. E teria o contato com a salmoura que é um cloreto de sódio com outros compostos. Ainda estamos analisando se isso iria impactar a biodiversidade e impactar também a Laguna” explicou.

Para ele a lagoa já se tornou uma “fossa a céu aberto”, com problemas de agrotóxico e esgotos. Na visão do especialista, os maiores poluidores da região, é a Prefeitura de Maceió que tem três fontes de esgotos, que brotam dos usineiros de cana de açúcar, e esgotamento de outras cidades que agridem o meio ambiente.

No caso da Braskem, especialmente da Mina 18, o que pode acontecer, segundo Émerson Soares, que se houver uma ruptura abrupta da região, a água iria preencher a cavidade no fundo, e depois os índices de cloreto de sódio iriam aumentar, contribuindo para uma maior contaminação.

Ele observou que o trabalho de análise realizado desde sábado, ainda não foi concluído. No entanto, os dados apontam para a normalização da situação.

“Até agora, pelas análises que realizamos, não houve um aumento significativo dos níveis de alguns compostos que poderiam ser decorrentes do encontro da água com a lacuna que existe dentro da mina. A gente viu que os dados estão dentro da normalidade quanto a alguns compostos na lagoa.

Apesar do engenheiro tranquilizar a população, desde quarta-feira (29/11), a Defesa Civil do município emitiu alerta para o possível colapso, famílias já foram retiradas de suas residências.

A área dos 5 bairros abrange 8,27 km2, ou 827 hectares, a área de desocupação até o momento nestes bairros é menor, em torno de 520 hectares. Desde 2018, os bairros Pinheiro, Mutange, Bebedouro, Bom Parto e Farol sofrem com a desocupação de mais de 60.000 famílias.

Enviado a Maceió (AL) para acompanhar o caso do colapso iminente de uma mina da petroquímica Braskem, o ministro dos Transportes, Renan Filho, afirmou que a empresa deve ser responsabilizada judicialmente pelo que chamou de “crime ambiental” na capital alagoana.

“A responsabilidade da Braskem é total. No Brasil, a legislação ambiental impõe o crime a quem o pratica. Quem praticou esse desastre ambiental foi a Braskem. Ela própria diz, em reiteradas manifestações, que já investiu R$ 15 bilhões em indenizações e tentativas de estabilização. Antes da investigação, eles negaram, tentaram colocar a responsabilidade em outras empresas e disseram que não era com eles. Mas não teve como; tecnicamente, ficou claro”, disse ele.

A extração de sal-gema na região se iniciou na década de 1970, mas a Braskem teve de desativar sua operação no local em meados de 2018, quando cinco bairros de Maceió começaram a afundar devido ao colapso do solo pela operação da companhia.

A ação da empresa deixou ao menos 50 mil desabrigados e resultou na desocupação de 17 mil imóveis. Em junho, a Braskem disse ter firmado um acordo de indenização com a prefeitura de Maceió no valor de R$ 1,7 bilhão.

As tratativas, no entanto, não envolveram o governo de Alagoas, que pede sua suspensão no Tribunal de Contas da União. Depois disso, o Tribunal de Justiça determinou que a petroquímica indenize o Estado por prejuízos causados pela erupção do solo. Um estudo recente constatou um passivo em torno de R$ 30 bilhões por parte da petroquímica.

A tragédia também já repercute forte na política e chegou a Brasília rapidamente nas últimas horas. “O cenário é grave, estamos falando de abalos sísmicos, bairros afundando, consequências de um possível crime socioambiental”, frisou o ministro.

Severino Lopes
PB Agora

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