Escritor reclama que Enem errou ao citar trecho de livro
Laurentino Gomes diz que pergunta de história tem data errada. Professores de cursinho viram erros em outras questões.
O escritor Laurentino Gomes, autor dos livros “1808” e “1822”, criticou nesta segunda-feira (8) a falta de uma revisão mais rigorosa no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). Um trecho do livro do autor foi citado com erros de informação na prova de ciências humanas, aplicada no sábado (6).
A questão cita a data de 1810 como ano da abertura dos portos no Brasil. Segundo Gomes, o ano correto é 1808. “Quando fiquei sabendo, fiquei assustadíssimo. Corri para ver se o erro era do livro, mas não era”, afirmou.
Gomes usou o Twitter para se defender. Na rede social, postou: “A prova do Enem, que usa meu livro 1808 como fonte, cita 1810 como data da abertura dos portos. O correto é 1808. Erro do MEC, não meu!”
Em seu site, o escritor afirmou ainda: “Erros de revisão costumam ser relativamente comuns em jornais, revistas e livros. Nas primeiras edições do próprio ‘1808’ o nome de Tiradentes aparecia como José Joaquim da Silva Xavier, quando o correto é Joaquim José. Mas uma prova do Enem, alvo frequente de críticas de professores e estudantes, deveria merecer uma checagem mais cuidadosa.”
Em entrevista ao G1, nesta segunda-feira, Gomes afirmou que considera o Enem um avanço para a educação brasileira, pela necessidade de avaliação dos estudantes, mas disse que deveria haver mais cuidado na elaboração. “Quem prepara as provas têm que ser mais cuidadoso”.
Para o autor, quem elaborou a questão confundiu a abertura dos portos no país, em 1808, com o tratado comercial com a Inglaterra, firmado em 1810, que funcionou como uma espécie de ampliação da abertura dos portos.
A professora de história do cursinho Objetivo, Selma dos Santos Rofino, também viu o erro de data. “É 1808, não 1810, mas não compromete a questão”, afirmou.
A resolução comentada do cursinho Anglo cita o erro de data também. A correção diz: “Das cinco alternativas, a C é a única possível como resposta, já que as demais contêm erros históricos evidentes. Tão evidentes quanto as falhas de elaboração da questão. Primeiro: não foi conquistada a ‘região do Rio da Prata’, mas apenas a que corresponde ao atual Uruguai. Segundo: mais do que uma represália à aliança franco-espanhola, a ocupação da Banda Oriental foi a concretização de um antigo projeto lusitano na região platina. Terceiro: a conquista da Banda Oriental não foi consequência de nenhum dos eventos citados na questão. Quarto: três dos eventos relatados contêm erros: D. João não fugiu de ‘um possível ataque de Napoleão’, e sim do ataque; a abertura dos portos foi decretada em 1808, não em 1810; e, por fim, D. João tornou-se rei de Portugal em 1818, não em 1816.”
Procurado, o Ministério da Educação ainda não respondeu se a questão pode ser anulada.
Outros erros em questões foram relatados por professores de cursinho. Veja alguns exemplos:
O professor de geografia do Anglo, Reinaldo Scalzaretto, vê erro no enunciado da questão 1 do exame (prova azul), que fala sobre concentração de terras no Brasil. Segundo o professor, no lugar de dizer que o gráfico representa a “totalidade dos imóveis rurais no Brasil”, o enunciado deveria dizer que representa as “áreas ocupadas pelos imóveis”. “Está errado. Não há resposta correta”, disse.
Marcelo Dias Carvalho, coordenador de matemática do Etapa, disse que a questão 156 (prova amarela) e 147 (prova azul) admite uma interpretação dupla. Segundo Carvalho, se o aluno interpretar que houve engarrafamento nos dois trajetos, chega à resposta da alternativa B. Se interpretar que o engarrafamento ocorria no primeiro trecho, ou no segundo, ou nos dois, pode apontar a alternativa D como correta. “Para mim, o ideal é que as duas respostas sejam aceitas.”
Segundo o coordenador de física do cursinho Etapa, Marcelo Monte Forte da Fonseca, a questão 54 (prova azul), que fala sobre Júpiter tem problemas. “Fizeram a pergunta em cima de uma coisa que não tem resposta. É uma brincadeira boba”, disse. De acordo com o professor, a notícia usada como fonte afirma que ainda se busca uma explicação para o fenômeno citado na questão, que é o desaparecimento de uma das faixas do planeta.
O professor de história do Brasil do Anglo, José Carlos Moura, cita ainda uma questão sobre a Guerra de Canudos, de número 21 (prova azul). Há duas respostas possíveis, segundo o professor. A alternativa A e a D. Na resolução comentada do cursinho, o professor diz: “A questão é problemática, há duas possibilidades de resposta. A alternativa A elenca conjuntos de objetos e motivos para justificar o interesse do Iphan pela região. Contudo a alternativa D também aponta razões para o reconhecimento das ruínas pelo Instituto, pois elas constituiriam documentos das ‘práticas e representações de uma sociedade’, afirma a resolução comentada do cursinho.”
G1