O general Hamilton Mourão, que ganhou fama ao sugerir publicamente uma intervenção militar, planeja coordenar uma frente de candidatos das Forças Armadas para as eleições de 2018.
“Teremos muitos candidatos oriundos do meio militar – senão em todos, em grande número de estados. Embora concorrendo por diferentes lugares, eles terão uma linha-mestra de ação e um discurso mais ou menos aproximado, com os interesses da nação e dos militares. Eu serei um articulador disso aí”, declarou Mourão em entrevista à Piauí.
Na última quarta-feira, o general passou para a reserva depois de 46 anos na ativa. Sem dizer os nomes, ele contou ter sido procurado por três partidos para negociar uma candidatura, mas não se interessou.
“Fui sondado para [concorrer a] presidente, governador [do Rio e do DF], senador e deputado federal. Mas minha visão é que, face a essa fragmentação político-partidária, existe uma certa fragilidade para se entrar no jogo partidário sem estar devidamente organizado para isso.”
O general diz que, por ora, o deputado Jair Bolsonaro, pré-candidato à Presidência, tem o seu voto, mas não descarta mudar de ideia sobre concorrer caso haja uma “hecatombe nuclear”, acontecimento que ele descreveu como “se por acaso o processo político não transcorrer de forma organizada, se não tivermos mais candidatos que possam representar interesses de uma parcela da população e que eu me veja compelido a participar do jogo político como candidato.”
Mourão evitou nomear os candidatos militares em 2018 porque, segundo ele, a maioria ainda negocia com os partidos.
A tendência é que vários representantes militares tentem surfar na onda de prestígio que as Forças Armadas ganharam nos últimos tempos entre a população brasileira. Deputado há 27 anos, Bolsonaro é o único parlamentar oriundo das Forças Armadas no Congresso – há outros com origem na Polícia Militar.
O general aproveitou a entrevista ainda para criticar as medidas do governo federal que decidiu intervir na segurança pública do Rio. “É uma intervenção meia-sola. Acho que foi uma péssima linha de ação. No século XIX, quando o Caxias era nomeado interventor para conter revoltas, recebia tanto poder político como militar. Agora o interventor recebe só poder militar, mas não tem o poder político, num estado em que o crime organizado ataca nos dois níveis – no do colarinho-branco e no da bandidagem. Então, nós ficamos numa guerra e de mãos atadas.”
Em sua fala na cerimônia de passagem para a reserva nesta quarta-feira, Mourão voltou a elogiar o coronel Carlos Brilhante Ustra, acusado de torturas e assassinatos durante a ditadura e único militar, a quem chamou de “herói”.
O general afirmou ainda que o Judiciário precisa “expurgar da vida pública” o presidente Michel Temer e todos os que “não têm condições de participar dela”. Ele, porém, mudou o discurso de que seria necessário uma intervenção militar no país inteiro e passou a falar que a solução tem de ser pelo voto.
Mourão ganhou as manchetes em setembro de 2015 quando afirmou, sobre uma eventual substituição de Dilma, que “a vantagem da mudança seria o descarte da incompetência, má gestão e corrupção”. As declarações custaram o cargo dele no Comando Militar do Sul.
Em 2017, durante uma palestra numa loja maçônica de Brasília, quando Temer acabara de se safar no Congresso de ser investigado, Mourão foi questionado se não seria o momento de uma
[sic] ‘intervenção constitucional’ com o emprego das Forças Armadas”. Ele respondeu:
“É óbvio que quando olhamos com temor e com tristeza os fatos que estão nos cercando a gente diz: porque que nós não vamos derrubar esse troço todo? Na minha visão, e a minha visão coincide com a dos meus companheiros do Alto Comando do Exército, nós estamos numa situação daquilo que poderíamos lembrar lá da tábua de logaritmo, né? Aproximações sucessivas, até chegar o momento em que ou as instituições solucionam o problema político, pela ação do Judiciário, retirando da vida pública esses elementos envolvidos em todos os ilícitos, ou então nós teremos que impor isso.”
Apesar da pressão, o comandante Villas Bôas o manteve na função. Embora tenha recuado na entrevista coletiva, Mourão afirmou àPiauí que não se arrepende do que falou. “Em absoluto. Respondi uma pergunta hipotética de um debatedor e expressei aquilo que penso de forma clara e concisa. Todo mundo do Exército conhece claramente meu pensamento. Quando o país se vê lançado às portas do caos, quando ninguém obedece mais ninguém e a Justiça e o direito não operam, é necessário que haja algum tipo de intervenção – como está sendo feito agora no Rio.”
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