O copeiro Paulo Cezar dos Santos, de 41 anos, tenta provar há cinco meses que está vivo. Um erro supostamente do hospital onde ele passava por um tratamento fez com que um corpo fosse enterrado no Cemitério da Vila Rio, em Guarulhos, na Grande São Paulo, com os dados do copeiro. “Estou vivo, mas ao mesmo tempo morto e enterrado”, afirma.
Santos passava por um tratamento desde 2006 no Hospital Padre Bento, em Guarulhos, após ser atingido por três tiros no rosto durante uma tentativa de assalto. Ao voltar ao hospital para marcar uma consulta, em agosto do ano passado, ele teve uma surpresa. Na ficha, constava que ele estava morto. “Ela [a funcionária] puxou meus dados no computador e encontrou meu prontuário como morto”, conta o copeiro.
O homem diz que recebeu a promessa de que tudo seria resolvido. No dia 30 de agosto, ele conta ter ido até uma agência do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) para retirar um benefício, mas ele já constava como morto e teve o pagamento cancelado. Em um cartório, descobriu que havia sido “enterrado” no Cemitério da Vila Rio.
“Fui até o cemitério e um funcionário me deu o número do meu túmulo, era o 35. Foi uma coisa ridícula você estar vivo e se encontrar nessa situação. Tirei uma foto e voltei”, contou. O copeiro diz que não havia nenhuma lápide que identificasse o morto, apenas o registro na administração do cemitério. A data da morte, segundo ele, foi 7 de agosto de 2008.
O hospital diz que, na época dessa morte, encaminhou o corpo ao Serviço de Verificação de Óbitos (SVO) porque o paciente “não possuía documentos”. “Por um equívoco, que está sendo apurado internamente, o corpo foi encaminhado com os dados de um paciente vivo”, diz uma nota divulgada pelo hospital sobre o caso.
A direção do hospital afirma ainda que, identificado o problema, “comunicou o fato ao SVO, ao IML (Instituto Médico-Legal), ao cartório onde a certidão de óbito foi emitida e à Procuradoria Geral do Estado”. O hospital completa que “recebeu o paciente Paulo Cezar dos Santos e seu advogado para explicar o que estava ocorrendo e as providências que tinha adotado para auxiliar na resolução do caso”.
Em relação ao tratamento do paciente vivo, o hospital garante que o atendimento médico a ele ocorre normalmente. “Sua última consulta foi em 6 de janeiro, quando foram prescritos medicamentos para tratar uma infecção. Posteriormente o paciente será avaliado pela equipe médica para a realização de uma cirurgia.”
Ação judicial
O advogado que representa o copeiro, Ademar Gomes, diz que será necessária uma ação judicial para que o erro seja retificado. “Vamos promover uma ação civil para restabelecer o direito dele de cidadão e provar na Justiça que ele está vivo”, afirmou ao G1. A segunda etapa, segundo ele, é solicitar ao INSS que o benefício volte a ser pago.
Paulo Santos diz que os R$ 520 que recebia de auxílio-doença eram a única renda que tinha para sustentar as duas filhas, de 8 e 10 anos. “Um homem sem documentos deixa de ser cidadão. Eu não tenho saúde para um trabalho normal e não tenho como comprar mais os meus remédios”, lamentou o copeiro.
O advogado adianta que pedirá uma indenização por danos morais e materiais. Um dos motivos apontados por ele é que a história provocou constrangimentos às filhas do copeiro. Uma delas chorava muito, segundo o advogado, quando os amigos diziam que ela era filha de um “morto-vivo”. “Virou motivo de gozação”, completa Santos.
G1