Em cada canto, há uma história para contar. A cada paciente e morador, o reflexo da bondade e caridade de voluntários e funcionários que trabalham a serviço das Obras Sociais Irmã Dulce (OSID), em Salvador.
O empreendimento foi criado por Maria Rita de Souza Brito Lopes Pontes, a Irmã Dulce, a partir de um terreno onde funcionava um galinheiro, que virou o complexo que abriga deficientes físicos e mentais, idosos, crianças e doentes. Atualmente, é o maior centro de saúde gratuito do país.
Fruto de um trabalho persistente de Irmã Dulce, também chamada de Anjo Bom da Bahia, e seus “discípulos”, a OSID tem a missão de manter os serviços de qualidade prestados à comunidade carente.
Diariamente, cerca de cinco mil pessoas frequentam a instituição, que conta com mais de 200 voluntários.
“Eu sempre digo que a grande marca de Irmã Dulce é exatamente a caridade. Mas por trás disso aí há uma figura com tamanha obstinação, extremamente empreendedora, que rompeu com uma série de obstáculos, sempre em nome dos menos favorecidos”, relata o museólogo Osvaldo Gouveia, responsável pelo Memorial Irmã Dulce.
Tinha muita gente na porta do hospital, mas ainda assim ela me viu e me chamou. A partir desse momento nunca mais faltou nada na minha vida. Tudo o que sou hoje eu devo a Irmã Dulce”
Marlene Teles
O empreendedorismo de Irmã Dulce, citado por Gouveia, evidencia-se no complexo iniciado e estruturado pela freira baiana e seus colaboradores.
Compõem o espaço que beneficia milhares de baianos o Hospital Santo Antônio, Hospital da Criança, Centro Geriátrico Júlia Magalhães, Centro de Reabilitação e Prevenção de Deficiências, Centro de Atendimento e Tratamento de Alcoolistas, Centro de Reabilitação de Anomalias Crânio Faciais, Ambulatório de Fisioterapia, Clínica da Mulher, Unidade de Coleta e Transfusão de Sangue, Comissão de Controle de Infecção Hospitalar (CCIH), Laboratório de Análises Clínicas e o Centro de Bio Imagem.
‘Tenha fé, continuo presente’
A frase espalhada por todos os cantos das Obras Sociais Irmã Dulce, acompanhada de uma foto da freira baiana, confirma um dos maiores feitos da Santa dos Pobres: o atendimento de qualidade e a multiplicação dos pacientes e internos que são atendidos no complexo criado em 1949.
“Atendemos a população carente e fazemos exames de alta complexidade. A gente tem serviços que o SUS não remunera muito bem e precisamos de doações para ter o mínimo de equilíbrio para honrar com os compromissos no final do mês”, conta Maria Rita Pontes, sobrinha de Irmã Dulce e diretora da OSID desde 1992.
A pedido da tia, Maria Rita assumiu a direção das Obras Sociais e, para ela, a beatificação, que acontece neste domingo (22), vai trazer muitos benefícios para o local.
“A beatificação vai ser muito importante para todos nós, para toda equipe de profissionais, além de aumentar as doações que mantêm as obras”, contou.
O mercado de souvenires também foi beneficiado. De acordo com George Silva, atendente da loja de produtos relacionados à feira baiana, as vendas aumentaram mais de 200%. “Os produtos mais procurados são as camisas com a imagem de Irmã Dulce, pois as pessoas querem ir à missa de beatificação vestidas com ela”, conta o vendedor, que faz parte da OSID há 12 anos.
Relatos de afeto e amor
Iraci Lordelo, 76, é uma das primeiras voluntárias das Obras Sociais Irmã Dulce. O olhar alegre e as ações de caridade que pratica há mais de 50 anos cumprem a missão ensinada pelo Anjo Bom da Bahia: a de amar ao próximo. “Nunca vi um amor como o que Irmã Dulce tinha pelos indigentes. Porque a pessoa deve ter bastante amor e sem ele a gente não adquire nada na vida. Ela tinha uma caridade imensa”, emociona-se Iraci.
Assim como a voluntária, Edna dos Santos, 50, iniciou a trajetória nas Obras Sociais aos 22 anos e atualmente cuida de 12 moradores do Centro de Reabilitação e Prevenção de Deficiências, CRPD. “Eu não seria essa pessoa que sou hoje se eu não tivesse conhecido Irmã Dulce. Eu vi o trabalho dela com os moradores e esses meninos eram tudo pra ela”, orgulha-se Edna. “Irmã Dulce que dava carinho para eles e nós estamos dando continuidade a esse amor que ela cultivou. Nós levamos eles para a horta, para passear e principalmente damos muito amor e atenção. É um trabalho muito bonito. Temos oficina de reciclagem, informática, aulas de capoeira. É um trabalho que Irmã Dulce sempre quis”, conta Ruth Santos Moreira, 55, que também atua no CRPD como cuidadora.
O relato da coordenadora de higienização Marlene Teles, 56, traduz o sentimento de muitas pessoas que foram assistidas por Irmã Dulce. Moradora de rua, certa vez, Marlene decidiu procurar o Anjo Bom da Bahia e diz que viu sua vida modificar para sempre. “Tinha muita gente na porta do hospital, mas ainda assim ela me viu e me chamou. A partir desse momento, nunca mais faltou nada na minha vida. Eu comecei a trabalhar como servente aos 17 anos e hoje sou encarregada da higienização. O que ela fez por nós em vida agora ela está recebendo com a beatificação. Tudo o que sou hoje eu devo a Irmã Dulce”, conclui Marlene.
Programação
Segundo a organização do evento, os portões serão abertos ao meio-dia de domingo. Programada para começar às 14h, a cerimônia de beatificação será aberta com a exibição do espetáculo Nasce uma Flor, apresentação que irá contar, em forma de dança, música e teatro, alguns momentos da trajetória de vida de Irmã Dulce.
Reunindo mais de 500 alunos do Centro Educacional Santo Antônio (CESA) – complexo de educação das Obras Sociais Irmã Dulce – com idades entre 6 e 15 anos, a peça trará cenas como a acolhida da religiosa às crianças que viviam nas ruas da capital e a célebre ocupação do galinheiro – episódio que marcou o nascimento do Hospital Santo Antônio.
Após a apresentação artística, terá início às 17h a celebração canônica com uma missa seguida do roteiro litúrgico do Rito de Beatificação do Vaticano. A cerimônia, que contará com a participação de mais de 500 religiosos – entre padres, arcebispos, bispos, diáconos e seminaristas de todo o Brasil – será presidida pelo cardeal Dom Geraldo Majella Agnelo, o delegado papal na solenidade, representando o Papa Bento XVI.
G1
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