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Jovens brasileiros estão se destacando na criação de games e abrindo empresas próprias

O sonho de muitos jovens de desenvolver jogos de videogame no Brasil pode estar um pouco mais fácil de ser realizado. Jovens desenvolvedores produziram trabalhos que conseguiram colocar o país em evidência na área, permitindo um aquecimento no mercado nacional de criação de jogos e a possibilidade de crescimento nos próximos anos.

O destaque do Brasil na criação de jogos se prova com resultados recentes: o país é campeão na categoria na competição Imagine Cup 2011, uma espécie de olimpíada de desenvolvimento promovida pela Microsoft. Nos últimos anos, brasileiros desenvolveram inúmeros títulos para PC, redes sociais, advergames (jogos para a publicidade) e games para celulares e tablets, como o iPhone e iPad. Além disso, alguns desenvolvedores já olham o filão principal do mercado, que é produzir jogos para consoles como o PlayStation 3 e o Xbox 360.

Segundo dados da Associação Brasileira das Desenvolvedoras de Jogos Eletrônicos (Abragames) com informações do consultor da Associação para Promoção da Excelência do Software Brasileiro (Softex) Bernardo Manfredini, o Brasil possui cerca 50 empresas que desenvolvem games cadastradas. E se o destaque que o país tem no cenário de criação de jogos servir como perspectiva de crescimento, o futuro para quem deseja trabalhar nesta área é promissor.

Novos desenvolvedores
Após ter vencido a etapa brasileira da Imagine Cup (uma espécie de olimpíada de desenvolvimento tecnológico promovida pela Microsoft) na categoria “Game Design: Windows / Xbox”, a equipe Signum Games, da Universidade Positivo, de Curitiba, foi a campeã mundial do evento realizado em Nova York, nos Estados Unidos, com o game “Ucan”. Esta foi a terceira vez que o Brasil é reconhecido na categoria de games na história da competição. Em 2011, o evento contou com a participação de 358 mil jovens de 183 países.

“Fomos em uma palestra sobre Imagine Cup, estudamos as metas do milênio e quais os games tinham sido vencedores no passado da competição além dos critérios os juízes tinham avaliado”, conta Thiago Ribeiro, um dos integrantes da equipe campeã, que ainda tem Rafael Sales, Rafael Kamineko, Fernanda da Costa e Rafaela Costa como integrantes. “O importante é fazer um game com uma mensagem clara, dentro dos objetivos da Imagine Cup, mas que seja educativo e divertido ao mesmo tempo, fazendo com que as pessoas joguem”.

Segundo ele, os rigorosos juízes da Imagine Cup avaliam o quanto o jogo está pronto, completo, sua dificuldade, se ele muda o mercado e o quanto ele está amarrado ao tema do evento. Desse modo, “Ucan” foi desenvolvido em um ano para ser um game de estratégia, em que os jogadores possam pensar. O personagem está em uma cidade e deve resolver problemas com boas ações e voluntariado, assim ele passa para a próxima fase”, conta Ribeiro.

Embora o game ainda tenha uma fase, feita para a Imagine Cup, ele afirma que o trabalho está pronto para ser comercializado. “O jogo está preparado para que o jogador comece resolvendo problemas em cidades pequenas e aprenda a jogar por meio de tutoriais, com personagens secundários que dão missões”, explica. “Assim as pessoas aprendem como jogar e acabam, no final, resolvendo problemas de todo o mundo”. Para comercializar o game, Ribeiro afirma que tenta parceria com a fabricante de computadores Positivo para colocar o título nas máquinas que serão vendidas. “Assim, alcançaremos muitas escolas e estudantes. Mas lá nos EUA, vimos diversas possibilidades de negócios”.

A Imagine Cup, segundo Ribeiro, abriu portas. Além do prêmio de US$ 8 mil, já receberam convite para fazer parte de empresa de professores dentro da universidade e empresas chamaram para poder publicar o título. “Além de nos prepararem para criar um projeto, ensinando como criar um negócio, recebemos conselhos de pessoas de grandes produtoras de games sobre o que melhorar em ‘Ucan'”, conta.

 

Ele acredita que exemplos de empresas pequenas como PopCap, de “Bejeweled”, Zynga, de “Farmvile”, e Rovio, de “Angry Birds”, que tem games de enorme sucesso, estimulam os jovens desenvolvedores. “Hoje, é mais atrativo transformar um game em um negócio próprio do que ser empregado [em uma grande empresa]. Acredito que é possível abrirmos uma empresa após esse reconhecimento na Imagine Cup”.

Para Marines Gomes, gerente de programas acadêmicos da Microsoft Brasil, a vitória da equipe de Curitiba pode servir de estímulo para que mais jovens criem games e participem de competições de desenvolvimento.

“Quando alguém se destaca em uma categoria da Imagine Cup, serve para chamar a atenção de outros. Em games, a cada ano tem um estado diferente do Brasil em evidência”. Para ela, ‘Ucan’ atendia todos os requisitos do campeonato e, por isso, foi o vencedor. “O game atingiu as metas da competição. Quando se tornaram finalistas, a Microsoft deu todos os recursos para que eles apresentassem bem o projeto, ajudando a ter um bom resultado na competição”.

Após vitória, criação de empresa própria
Vencedores da categoria “Game Design” em 2008 com o game “City Rain” os integrantes do mgaia studio (assim mesmo, em minúsculas) hoje têm sede própria e trabalham em projetos mais ambiciosos. “Nosso objetivo agora e produzir um hit a longo prazo, algo que dê repercussão, que faça sucesso”, conta Túlio Soria, um dos sócios do estúdio.

O game com temática autossustentável “City Rain”, que une o estilo de jogo de “Tetris” com “Sim City”, apresentando peças como casas, escolas, shoppings, aterros sanitários e indústrias que caem do céu e é preciso pensar rápido para colocá-las no lugar certo sem prejudicar a natureza, deu ao grupo a vitória na Imagine Cup 2008. Após a vitória, o game foi traduzido para o português, foi colocado à venda em um site internacional, e hoje também pode ser encontrado em escolas na versão educacional, e gratuita, chamada “Cidade Verde”. O grupo lançou para celulares Android o game “Vovó fuja dos Zumbis” (ou “Whack-a-Zombie”, em inglês), que exige tocar na tela para bater nos zumbis que aparecem na tela, e que já teve mais de 10 mil downloads.

O grupo usou os US$ 25 mil de prêmio da Imagine Cup para montar o estúdio na cidade de Bauru, no interior de São Paulo. “Abrimos as portas em abril de 2009 e focamos na exportação de games. Mas tivemos que adiar a exportação para focar no mercado interno. Fomos apresentar nosso trabalho em diversas feiras no exterior, mas a falta de conhecimento do setor público brasileiro sobre o que é o mercado de games acaba refletindo na falta de incentivos. São legislações que nos fazem nadar contra a maré”, afirma.

Para conseguir se manter, hoje o mgaia produz advergames e jogos para empresas. “Procuramos criar games híbridos, feitos para empresas, distribuídos aos jogadores gratuitamente, mas que possamos ganhar com a venda de itens, por exemplo”, diz Soria. “O mercado interno [de games brasileiro] está aquecido pois empresas de publicidade estão procurando meios digitais de se chegar ao consumidor”, explica. “Temos que fazer do jeitinho brasileiro, usando games com baixo orçamento que consiga trazer o máximo de diversão. Conseguimos este objetivo”.

Os planos do mgaia, segundo Soria, é conseguir investimentos e ter capital para expandir a empresa. “Depois, queremos formar uma equipe sólida e ter boa liquidez para arriscar no mercado de exportação já no início de 2012”, comenta.

Momento bom para jovens desenvolvedores
Nos últimos anos, o desenvolvimento de games brasileiro teve bons frutos. Para PlayStation 3 saiu “Freekscape”, do extinto estúdio Kidguru. No Xbox 360 apareceu “Guardião”, que deve ser lançado em setembro. Para iPhone e iPad, o estúdio Doubleleft lançou um game do skatista Bob Burnquist e “Garbageman”. Nas redes sociais, apareceram games do deputado federal Tiririca e outro que brincava com as explosões dos bueiros do Rio de Janeiro. E estes são alguns poucos exemplos do que os desenvolvedores brasileiros vêm trabalhando.

“As ferramentas atuais disponíveis em qualquer lugar tornam este momento o mais propício para o desenvolvimento de jogos independentes”, afirma Jason Rohrer, designer de games responsável por “Chain World”. “Sem precisar depender de grandes produtoras, o desenvolvedor precisa apenas usar sua imaginação para criar o título”.

Para J. Allen Brack, diretor de produção de “World of Warcraft” há mais de seis anos, “os fãs brasileiros de games são muito apaixonados e criam muito conteúdo”. “Veremos muitos estúdios novos surgindo por aqui. Embora agora seja um momento de criação de jogos mais simples, contudo divertidos, que atinjam um público que esteja usando equipamentos também mais simples, há muitas ferramentas disponíveis, redes sociais para divulgação e onde é muito fácil publicar o seu trabalho”.

O professor Rogério Félix, coordenador do curso Play Game da escola Saga, acredita que, nos próximos anos, o Brasil ficará em evidência no mercado mundial de desenvolvimento de jogos. “As empresas olharão para cá, verão que estamos bem economicamente, haverá mais investimentos do governo da criação de jogos e teremos mão de obra qualificada e suficiente. Entre 2012 e 2015, veremos grande retorno de quem hoje está estudando ou começando a produzir games no país”.

Buscando espaço no mercado
Durante o evento Anime Friends, realizado entre os dias 16 e 17 de julho na capital paulista, alunos da escola apresentaram 13 jogos, que puderam ser testados pelos visitantes. Os títulos fazem parte do curso de desenvolvimento de games, que tem duração de 15 meses. “Uma turma já está formada, mas o restante irá ser graduado em março”, explica Rogério Félix. “Os alunos estão dispostos a trabalhar em cima de projetos, saindo da teoria e indo para a prática”.

O objetivo do curso, chamado Play Game e que tem mensalidade de R$ 700, não está apenas em criar projetos de jogos ou demos para mostrar para os amigos. De acordo com Félix, o aluno aprende como criar sua empresa. “Ele aprende a montar uma equipe de projeto, como criar um cronograma de desenvolvimento, o que cada integrante deve fazer, quanto custa cada decisão do projeto. O foco é aprender como trabalhar com um estúdio grande”, conta.

Ao longo do projeto, muitas das ideias dos alunos são descartadas pelo professor. “Temos nosso objetivo que é levar games para uma feira, por exemplo. Aí, vamos aprovando ou descartando ideias, mostrando os prós e os contras de acordo com o mercado que aquele game se destina”.

Entre os títulos (confira tabela com os 13 jogos abaixo) está “Elements”, desenvolvido para iPad pela turma do Triskele Estúdio. No game, o jogador deve explorar o cenário, resolvendo quebra-cabeças, para evitar que o mundo se congele. “O game foi feito para PC, mas foi reestruturado para rodar no IPad”, conta Mauro Fidélis, um dos integrantes da equipe. Eles terminarão o curso Play Game em abril de 2012.

Ele conta que a recepção do game foi muito boa. “Gostaram da ideia do jogo, todos falaram que é um jogo educativo, que não era nosso foco. Como tem informações reais sobre os elementos, quem testou achou muito informativo”, conta.
 

 

G1

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