Procurado pela Interpol e com prisão decretada na 36ª Fase da Lava-Jato, o advogado Rodrigo Taclan Duran é suspeito de ter faturado R$ 61 milhões, entre 2011 e 2013, atuando como operador de propina. Deste total, R$ 54,1 milhões foram pagos por empresas que tiveram contratos com a administração pública. Ele também recebeu valores de outros operadores, como Adir Assad e Júlio Camargo.
Segundo o Ministério Público Federal, ele controlava mais de 12 contas offshores que receberam milhões de dólares de diversas fornecedoras da administração pública. No Brasil, suas empresas fecharam contratos que alcançam pelo menos R$ 97 milhões com empresas como Mendes Junior, UTC, SP Paulista, EIT
Os executivos da UTC, que fecharam acordo de delação premiada, afirmaram que fecharam R$ 56 milhões em contratos com o escritório de Duran. Os contratos da Mendes Junior somaram R$ 35 milhões. Duran ficava com parte do dinheiro e devolvia o restante por meio de doleiros, que geravam dinheiro em espécie para pagamento de propina a agentes públicos. Apenas o empresário Adir Assad, já condenado na Lava-Jato, repassou R$ 24 milhões para empresas de Duran.
Segundo o MPF, os contratos fechados pelo advogado não tinham qualquer finalidade, a não ser lavar dinheiro.
– Há evidência de que os operadores atuaram de forma contínua, fizeram da lavagem de dinheiro sua profissão. Lavagem de dinheiro não é profissão. O Estado não pode tolear que pessoas façam da lavagem uma profissão – afirmou o procurador Júlio Noronha.
– Caixa 2 é crime, caixa 2 é produto de crime. Ela vem de uma prática de lavar dinheiro de crimes antecedentes, de corrupção, organizacoes criminosas. Muito nos preocupa o contexto em que nossos agentes politicos façam uma anistia de caixa dois, uma anistia de lavagem de capitais e de corrupção – disse o procurador Roberson Pozzobon.
Pozzobon explicou que Duran servia como um verdadeiro elo de dois contextos criminosos, os corruptores e os corruptos. Por isso, podem ser muito ricas as provas apreendidas em seus endereços.
Duran tem nacionalidade espanhola e brasileira e está fora do Brasil desde abril passado. Em oito anos, ele fez 80 viagens internacionais, todas com rápido retorno. A prisão preventiva dele é o único mandado ainda não cumprido nessa fase da operação. A Polícia Federal acredita que ele está nos Estados Unidos e já entrou em contato com as autoridades norte-americanas. Adir Assad, que também teve prisão preventiva decretada, já está preso.
Embora não tenha afirmado que Duran deixou o país para evitar a prisão pela Lava Jato, Pozzobon disse que pedidos de informações feitos ao advogado pela Receita Federal podem tê-lo alertado de que estava na mira da investigação.
Duran é dono de três empresas – Econocel, TWC e Tacla Duran Sociedade de Advogados. A quebra do sigilo bancário mostrou que ele recebeu, entre 2011 e 2013, R$ 2,7 milhões do Grupo Triunfo (Triunfo Participações e concessionária Econorte), R$ 2,1 milhões da Triunfo Construtora, que teria sido desmembrada do grupo em 2006. A Triunfo Participações atua no ramo de concessões e é sócia da UTC no aeroporto de Viracopos.
Ricardo Pessoa, da UTC Engenharia, é colaborador da Lava-Jato. Segundo o MPF, Duran teria recebido da UTC para consultar se a empresa era alvo de processos no Tribunal de Contas da União (TCU). O escritório de advocacia gerou centenas de documentos para mostrar que a empreiteira não estava em determinados processos, quando, segundo Pozzobon, bastaria consultar o nome da empresa no site do TCU.
– Revela um grau mais sofisticado de lavagem, que distancia o contrato da origem dos recursos – explicou. – Das dezenas de milhões de reais, o destinatário foi o próprio operador financeiro, beneficiado por meio de saques ou depósitos com R$ 61 milhões. A empresa transferia para o escritório, Duran sacava e devolvia em parte para a própria empreiteira.
Jornal Extra