Às 23 horas, do dia 18 de outubro de 2008, a voz da apresentadora do telejornal anunciou para a família Silva dos Anjos que Eloá Pimentel, 15 anos, tinha morrido.
A garota não sobreviveu após ser atingida por tiros disparados pelo ex-namorado Lindemberg Alves. Durante 4 dias, ele manteve o revólver apontado para a jovem, em um dos cárceres privados mais longos da história de São Paulo.
Sessenta minutos depois da notícia ecoar no apartamento da zona sul paulistana, a música gospel “Eu tenho um chamado” vibrou do celular de Maria Augusta Silva dos Anjos.
“Tinha acompanhado pela TV e pela internet todo o sequestro da Eloá. Orei muito por aquela menina. Chorei quando soube que ela morreu. Estava exausta, triste e, apesar de não desgrudar do telefone, deixei o aparelho em cima da mesa e fui tomar um banho para relaxar”, lembra Maria Augusta, em entrevista ao iG nesta terça (14).
As razões para o cansaço – e para tanto apego ao celular – eram as mesmas. Maria Augusta sofria de um problema grave no coração desde o nascimento. A doença deixava o fôlego curto, gerava desmaios constantes e dava a ela uma expectativa de vida reduzida. Tinha 39 anos na época e já estava na fila de espera para um transplante havia 2 anos e 4 meses.
“Eu ficava em sobressalto, grudada no telefone, na torcida para que o médico ligasse com a boa notícia de que meu doador tinha aparecido.”
O assassinato de Eloá – que hoje é julgado pelo segundo dia no Fórum de Santo André (ABC Paulista) – coincidiu com o início de uma vida que Maria Augusta nunca tinha saboreado: sem medicamentos e com privações até para beber água.
“Mas a informação de que o coração daquela garota, tão bonita e tão jovem, seria doado para mim deu um misto de sensações confusas”, lembra em retrospectiva Maria Augusta, após três anos e quatro meses do transplante.
“Eu estava muito feliz, mas ao mesmo tempo não conseguia esquecer a dor daquela mãe que perdeu a filha para a violência. Tinha poucas chances de sobreviver, talvez aquela fosse a única. Parti para o hospital Beneficência Portuguesa e, no caminho, rezei por aquela família e por mim.”
À meia-noite do dia 20 de outubro, Maria Augusta fez aniversário. No mesmo dia, os médicos lhe abriam o peito para o “presente sonhado por toda vida”, desde “o primeiro nascimento”, em 1969.
Histórias cruzadas
O final trágico da vida de um jovem, quase sempre, é o início da trajetória dos pacientes que esperam uma doação de órgão. Segundo informações da Associação Brasileira de Transplante de Órgãos (ABTO), a causa de morte de metade dos doadores de órgãos é o trauma (tiro, acidente de moto ou carro, quedas). A idade média de quem doa está entre 20 e 40 anos.
A morte inesperada e violenta é um dos motivos, acreditam os especialistas, para a negativa das famílias, quando solicitadas a doar os órgãos de seus parentes que, até ontem saudáveis, tiveram o diagnóstico de morte encefálica – condição para a doação.
No ano em que a mãe de Eloá, Ana Cristina Pimentel, aceitou doar os órgãos da filha – mesmo após o desfecho desastroso das 100 horas do sequestro, 1.329 famílias recusaram a doação.
Em contrapartida, anunciou a Central de Transplante de São Paulo em 2008, o chamado “caso Eloá” inspirou a população brasileira – foi um ano recorde de doações (superado agora em 2011). Duzentos pacientes receberam um coração. No peito de Maria Augusta, foi transplantado o da jovem de 15 anos.
“E eu descobri o que era viver aos 39 anos de idade. O Transplante me salvou”.
Depois do transplante Maria Augusta conheceu a mãe de Eloá e agradeceu muito a decisão “daquela mulher corajosa”. Não só Maria Augusta foi beneficiada pelo coração de Eloá, mas um homem que esperava um rim, uma jovem que aguardava as córneas e uma criança que necessitava de um pulmão.
“Eu e a Ana Cristina ficamos amigas. Levei ela para o Pará, na Ilha de Marajó, para conhecer meus pais. Faz tempo que ela não atende minhas ligações, mas eu sou e sempre serei eternamente grata por esse gesto de amor.”
Maria Augusta, a sétima “Maria” de 13 irmãos, saiu a cidade natal para fazer tratamento de saúde em São Paulo.
“Deixei para trás uma infância de privações. Nunca pude brincar com meus irmãos por causa da minha saúde. Com muito custo estudei até o final do Ensino Médio. Não era livre para subir escadas ou andar mais de um quarteirão.”
Sobre o julgamento de Lindemberg, Maria diz que não pensa muito sobre o assunto e só quer que seja feita justiça. Ela se sente mais confortável falando sobre planos para o futuro.
“Ainda moro em São Paulo. Quero aprender a andar de bicicleta e a nadar. Então, volto para a minha terra e vou brincar no solo e na água. Fazer tudo que o meu coração velho não permitiu.”
IG
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