A “pressa” do Ministério da Educação em expandir o Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) é a principal explicação para problemas no exame, diz o pesquisador da Universidade Federal de Juiz de Fora, Tufi Machado Soares, um dos maiores especialistas em avaliação do país.
Em 2009, após menos de um ano de discussões, o ministério decidiu criar um sistema que usa a prova como seleção de vagas em universidades federais. Até então, a principal função do Enem era avaliar os formandos.
Para isso, foi necessário aumentar o número de questões de 63 para 180 e passar a se preocupar com assuntos como sigilo e segurança.
“Se o MEC preparasse a mudança por três ou quatro anos, e começasse com um banco já com umas 10 mil questões por disciplina, os riscos seriam menores”, disse o professor da universidade mineira.
O Enem avalia 15 componentes curriculares e hoje possui 20 mil questões em seu banco. O MEC não se pronunciou sobre as declarações.
Na quarta (25), o ministério decidiu cancelar a prova de 639 estudantes do colégio Christus, de Fortaleza (CE), após reconhecer que um simulado feito pelo colégio, duas semanas antes do Enem, continha oito questões idênticas às do exame –aplicado no fim de semana passado para 5,4 milhões de alunos em todo o país.
Folha – Como o sr. avalia a antecipação das questões feita pelo colégio no Ceará?
Tufi Machado Soares – Pode ter havido roubo deliberado da prova inteira ou problemas no pré-teste, o que acho mais provável. Este é o momento mais vulnerável dos exames, talvez por deficiência na fiscalização.
Mas o principal problema foi a pressa para a mudança do Enem. Deveria ter levado três ou quatro anos.
Se já começasse com um banco de questões maior, com uns 10 mil itens por disciplina, não precisaria testar a questão em um ano para aplicar já no outro.
É muito difícil aumentar o banco de questões do Enem?
O serviço público tem entraves burocráticos complicados. Mas prejudicou também a constante troca de presidentes do Inep [a atual é a terceira em dois anos].
O Inep terá de mudar algo após o problema no Ceará?
Terá de melhorar a segurança no pré-teste.
FOLHA.COM
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