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O bom pé de Serra não morre jamais

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Agora na Secretaria de Cultura de seu Estado, a Paraíba, Chico César, autor de Mama África e outros sucessos do cancioneiro nacional, passou a promover a vinda a São Paulo de vários colegas e grupos para que o Sudeste conheça a prata e a faiança de sua casa. Numa noite inesquecível no Auditório Ibirapuera, onde Oswaldinho do Acordeon emocionou a todos acompanhando o Clã Brasil em Escadaria, o teste fatal do bom sanfoneiro, composta pelo gaúcho Pedro Raimundo e tornada sucesso por Zé Calixto, foi também apresentado o irmão de Zé, Luisinho Calixto, autor de um manual único para ensinar um instrumento de dificílima execução, que é o fole de oito baixos, instrumento que Luiz Gonzaga imortalizou cantando a memória do pai em Respeita Januário.

A noite do Ibirapuera serviu para exibir algumas boas revelações. A primeira delas é que o chamado “forró universitário”, que invadiu os arraiais juninos do interior do Nordeste com o êxito do grupo Falamansa, de São Paulo, e o “forró de plástico”, indústria lucrativa do cearense Manuel Gurgel, são alternativos mas não substitutos do chamado “pé de serra”. Trata-se apenas de uma variação bem-sucedida de uma grande invenção de marketing do Rei do Baião, que é o forró, gênero assim denominado de uma corruptela da palavra portuguesa forrobodó, sem nada que ver com a expressão for all, usada pelos ingleses que foram ao Nordeste construir ferrovias e, segundo conta a tradição, assim chamavam suas festas. A segunda é que o massacre comercial dessas “corruptelas” da música regional não matou seus talentos, como se chegou a pensar quando grandes artistas do gênero – caso de Antônio Barros, autor de mais de 700 sucessos juninos (como Homem com Agá e Por Debaixo dos Panos, sucessos nacionais na voz de Ney Matogrosso) e sua mulher e parceira, Cecéu – passaram a abrir shows das bandas formadas por profissionais itinerantes e em rodízio sob o poder de Gurgel.

Luisinho Calixto, natural de Campina Grande, Paraíba, e residente em Fortaleza, Ceará, hoje percorre o interior, a partir de Caruaru, Pernambuco, concorrente de sua terra natal na disputa pelo título de “maior São João do mundo” ou do “universo” inteiro, ensinando jovens talentos a tocar o difícil instrumento camponês, que lembra um bandoneon portenho e cujas limitações dificulta o aprendizado e a execução. Trata-se de um mestre itinerante que mantém a tradição que veio de Januário, passou por Abdias e está hoje nas mãos dos irmãos Calixto.

E o Clã Brasil, com graça, alegria e competência musical, prova que o forró não morreu nos palcos do Nordeste. Isso apesar das dificuldades de transporte, pois o grupo é composto pelo professor universitário Badu, egresso do sertão do Vale do Piancó, sua mulher, Morena, os sobrinhos Fabiane e Francisco e as filhas Lizete, Laryssa e Lucyane (que deixei por último por ser a estrela mais fulgurante da constelação, sanfona e fole à mão). São 12 pessoas em movimento para mostrar a todos “como se canta e dança o forró” com simpatia, luz e energia.

Ao Ibirapuera o Clã Brasil levou dois projetos em andamento que resgatam o melhor da música regional nordestina. Num deles, homenageia o classificador de algodão pernambucano que viveu em Campina Grande (onde fazia o programa de rádio Forró de Zé Lagoa) Rosil Cavalcanti (autor de Sebastiana, sucesso de Jackson do Pandeiro), e Tropeiros da Borborema (gravado por Luiz Gonzaga). O objeto da outra homenagem é o Rei do Baião, inventor do trio de sanfona, zabumba e triângulo.

JOSÉ NÊUMANNE, POETA, JORNALISTA E ESCRITOR, É EDITORIALISTA DO JORNAL DA TARDE

 

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