A desidratação ocasionada pela diarréia constitui uma das maiores causas de morbimortalidade entre crianças de 0 a 5 anos, principalmente nos países em desenvolvimento. Embora tenha tido no Brasil uma queda acentuada na mortalidade por diarréia, atualmente responde por cerca de 8% do número total de mortes entre menores na referida faixa etária. Uma maneira simples, barata e eficaz de combater a desidratação é o uso do soro caseiro. O soro caseiro é a mistura na proporção de um litro de água mineral, filtrada ou fervida, com uma colher, do tipo de cafezinho, de sal e de uma colher, do tipo de sopa, de açúcar.
Médica Pediatra e Sanitarista, Zilda Arns aprofundou-se em saúde pública, visando salvar crianças pobres da mortalidade infantil, da desnutrição e da violência em seu contexto familiar e comunitário, baseando-se no milagre bíblico da multiplicação dos dois peixes e cinco pães, narrado no Evangelho de João.
Em 1983, fundou a Pastoral da Criança, permanecendo como Coordenadora Nacional até terça-feira (12). A Pastoral, após vinte e sete anos, acompanhou, aproximadamente, 1,9 milhões crianças menores de seis anos e 1,4 milhões de famílias pobres, em quatro mil municípios brasileiros, contando com a colaboração de mais de 260 mil voluntários.
Um litro e meio de água mineral custa em média R$ 1,50, um quilo de sal R$ 0,70, e um quilo de açúcar R$ 2,20. Os gestos simples da Dra. Zilda não têm preço. Suas ações tornaram latente o real valor da vida. Não era levar apenas a informação de como fazer o soro caseiro, mas, sobretudo amor e carinho. Como ela própria dizia: “Amar é acolher, amar é compreender, amar é fazer o outro crescer”.
Zilda Arns recebeu diversas menções especiais e títulos de cidadã honorária, além de sete prêmios e reconhecimento internacional. Foi indicada, no ano de 2001, para ocupar um dos assentos do Conselho da República, órgão consultivo da Presidência da República. Porém, pasmem: o Plenário da Câmara decidiu por 229 votos aprovar para o cargo o nome do Deputado Edmar Moreira, o do castelo. Em 2006, ela foi indicada ao Prêmio Nobel da Paz.
Numa aldeia, no Tocantins, foi homenageada, dançou e recebeu um apelido carinhoso dos índios Xerentes: Smikidí, pássaro pequeno que voa alto e longe.
Alfred Nobel, que já vinha desgostoso com o uso militar dos explosivos que havia criado, ficou chocado ao ver a edição de um jornal francês, que noticiou, por engano, a morte de seu irmão como sendo a sua, chamando-o de “mercador da morte”. Nobel, irritado, em seu testamento não deixou herança aos seus herdeiros diretos, mas determinou a criação de uma instituição à qual caberia recompensar, a cada ano, pessoas que prestaram grandes serviços à humanidade em vários segmentos, instituindo o Prêmio Nobel. Zilda Arns não ganhou o Prêmio Nobel da Paz, mas, com seu exemplo cristão, ganhou o Reino dos Céus.
Adeus Smikidí!
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