Nesta semana que antecedeu este 8 de março, Dia Internacional das Mulheres, vi muitas postagens nas redes sociais onde mulheres declaravam que hoje queriam sim presentes, flores, bombons, pois merecem, já que “ser mulher dá muito trabalho e a moça aqui tá cansada” diz trecho da postagem.
Não julgo!
Porém, a ‘moça’ que vos escreve também está cansada, mas não são flores, chocolates ou presentes que irão amenizar esse cansaço.
A ‘moça’ aqui, como tantas outras em todo o mundo, carrega nas costas um peso que nem um homem carrega, apenas pelo fato de ter nascido do sexo feminino. “Sexo frágil” eles dizem, “que mentira absurda” respondo, ao som de Erasmo Carlos.
No dia de hoje o que diminuiria o meu cansaço, ou, para melhor dizer, amenizaria a minha luta, começaria da coisa mais simples e mais óbvia – saber que em cada casa desse mundo garotos e garotas são ensinados que, independentemente do seu sexo, eles têm as mesmas reponsabilidades, direitos e deveres.
O que também ajudaria a diminuir esse peso seria saber que meninos e meninas estão crescendo tendo consciência que na vida adulta as responsabilidades com a casa, com os filhos, com o relacionamento, devem ser dos dois. Que mulheres não têm mais aptidão do que homens para os trabalhos domésticos e de cuidado com a família. E isso só acontece porque somos ensinadas desde crianças a cuidar das nossas bonecas e da nossa ‘casinha’. Se meninos também fossem assim ensinados, que bons esposos e pais maravilhosos teríamos!
Minha luta amenizaria infinitamente se eu ganhasse de presente, no dia de hoje, o fato de que nenhum homem ache que tem o direito de bater em mulheres, subjugá-las, de explorá-las, violentá-las, abandoná-las e aos seus filhos, como se estes não fossem responsabilidade sua.
Também que nenhuma mulher temesse andar sozinha, ou pegar um aplicativo com motorista homem, nem pensasse duas vezes antes de vestir determinada roupa, ou antes de usar determinada maquiagem ou frequentar algum lugar. O medo – infelizmente – é companheiro inseparável da mulher.
O que diminuiria meu cansaço no dia de hoje seria saber que homens e mulheres recebem o mesmo salário caso ocupem a mesma função. Que mais e mais mulheres estão chegando aos cargos de chefia. Que nenhum patrão evita contratar mulheres, “porque elas podem engravidar”.
Eu ficaria extremamente descansada se soubesse que todas as políticas para a valorização das mulheres estão sendo respeitadas, aprofundadas e consolidadas.
No entanto, hoje, 8 de março de 2022, as realidades ainda utópicas citadas por mim acima, entre tantas outras que merecemos, parecem ainda estar longe.
Hoje, Dia Internacional das Mulheres, o estômago da ‘moça’ aqui ainda revira ao lembrar da frase tão divulgada nos últimos dias, que saiu da boca de um representante público brasileiro em meio a um país em guerra: “Elas são fáceis porque são pobres”.
Hoje, a ‘moça’ aqui ainda chora a lágrima de cada mãe solo que não vê outra alternativa senão seguir em frente, do jeito que dá e apesar dos pesares, porque o pai da criança achou que tem o direito de cair fora e sumir. Rezo a prece de cada mãe que pede a Deus, aos céus, aos orixás, que nunca permitam que sua filha passe por abusos ou violência.
Ainda sinto o cansaço e a dor silenciosa daquelas que saem de casa cedo, trabalham duro e na volta ainda têm casa pra arrumar, comida pra fazer, criança pra cuidar enquanto seus companheiros acham que isso é trabalho de mulher.
Ainda me angustio e luto contra cada ato violento, cada sexo sem consentimento, cada palavra que machuca, cada silêncio que ecoa contra nós.
Por isso hoje, não é chocolate, nem flores, nem presentes que acabarão com meu cansaço e amenizarão minha luta. O que eu quero hoje e sempre é maior, mas ao mesmo tempo tão simples.
Não quero que mulheres sejam mais do que homens. Quero que ambos sejam iguais e nada mais, o que, para os padrões de hoje, me faz apenas pedir:
O que eu quero é respeito e justiça.
Thatiane Sonally