A categoria esquerda/direita política foi criada na Europa em um contexto de clara oposição entre conservadores e progressistas. Apesar de mudanças no uso desses conceitos, o núcleo duro da oposição reformistas/progressistas na Europa ainda permanece.
No caso brasileiro, precisamos questionar a extensão do poder explicativo dessa categoria. Historicamente, o Brasil tem sido dominado por elites políticas e burocráticas que, com a força do Estado, monopolizam a riqueza e o poder político nacional, deixando pouco espaço para mobilidade social e questionamento das próprias elites.
No Brasil, o poder político tem dono: as elites políticas e burocráticas formam um “estamento”, isto é, grupos tradicionais utilizam o poder estatal para manter o próprio poder e os próprios benefícios.
No cenário brasileiro, apesar de a categoria esquerda/direita política ter sentido na distinção entre cosmovisões progressistas e conservadoras, parece mais relevante pensar que a questão política principal é a oposição entre elites/povo.
Há uma certa oposição entre interesses das elites e de parte significativa do povo. No Brasil, as elites permitem pouca mobilidade social, não permitem a retirada de seus privilégios, impedem qualquer movimento político que questione seu monopólio, utilizam de procedimentos jurídicos para se proteger e pesam o Estado sobre o povo com crescentes taxações.
Existem muitos motivos para entender que no Brasil a polarização principal não é direita/esquerda, mas sim elite/povo. Precisamos desenvolver uma cultura de profunda crítica às elites “donas do poder” político. É necessário termos uma postura crítica às elites nacionais que usam do Estado para se beneficiar e fustigar o povo brasileiro.
Anderson Paz
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