Em tempos modernos em que o mundo evoluiu numa velocidade supersônica, e que todos os regimes ditatoriais e autoritários foram sepultados, o Brasil dá fortes indícios de um retrocesso. Em plena era da comunicação virtual e tecnológica, os princípios democráticos estão sendo esmagados, e o país, incontestavelmente, regressando para um longínquo passado que pensávamos não existir mais. Um apartheid disfarçado divide a nação e rasga a Constituição Federal de 1988. As marcas do regime de segregação racial implementado na África do Sul em 1948, estão em toda parte.
Nos últimos meses, o País tem assistido a uma série de declarações polêmicas do principal inquilino do Palácio do Planalto. Embora mereça todo respeito, até mesmo em função do cargo que exerce e da faixa que os brasileiros colocaram em seu peito, o presidente tem provocado fissuras nas colunas da democracia. Algumas de suas “célebres” frases, não só abalam o regime, mas criam invisivelmente uma espécie de “muro de Berlim” que se ergue na mente e corações dos brasileiros.
Inseguro, demonstrando ter pouco conhecimento, e ainda fazendo um governo de improviso, o chefe da nação dá a entender que foi eleito para promover a separação, estimular o preconceito; e criar vários ‘Brasis’ dentro de um mesmo País.
As suas declarações bombásticas chegam a instigar um sentimento de ódio entre os patriotas. Quando ele fala de economia, ,agita o humor do mercado, e deixa todo mundo “desconcertado”. Contudo, quando faz alguma declaração política, remete aos tempos ditatoriais.
São tempos difíceis que nos faz reviver os terríveis dias da Ditadura Militar, o regime mais torturante que a nação brasileira já viveu. A liberdade de expressão, uma das riquezas da democracia, nunca foi tão ameaçada. O presidente que foi eleito democraticamente com o voto soberano dos brasileiros, tenta cercear a voz de estudantes, jornalistas e de todos que, ideologicamente, pensam contrário a ele. E usa da força que o cargo lhe confere para praticar os atos inconsequentes como fez com o presidente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) Felipe Santa Cruz. E o que dizer dos ataques ao jornalista do site The Intercept Brasil Glenn Greenwald?
Em dias em que “o fantasma do passado nos atormenta”, os “famosos” decretos presidenciais, remetem ao autoritarismo e nos parece ser caminhos que levam para os sombrios tempos do período ditatorial, como o decreto assinado por Jair Bolsonaro que tira de reitores a autonomia para nomear os dirigentes de universidades e institutos federais. Os princípios ditatoriais também ressurgem no decreto que tenta interferir no conteúdo de uma produção audiovisual e controlar até o roteiro dos filmes nacionais. É como se ele estivesse podando uma árvore para depois fazer o corte e derruba-la.
A era Bolsonaro tem sido um regresso aos tempos, em que os algozes da democracia ditaram as regras. E silenciavam quem ousasse pensar diferente. O governo instalado há sete meses, não consegue viver com o contraditório. Tem se notabilizado por ser um governo perseguidor, desequilibrado e doentio. Estamos atravessando um dos momentos mais preocupantes de nossa história, pós 64, com um presidente que confronta os Poderes, agride as Instituições e extrapola os seus limites.
O governo, eleito com ajuda de um aplicativo de celular, mais que usa recursos da idade da pedra lascada, ataca a memória dos mortos na Ditadura Militar, persegue advogados, ameaça e se revolta contra formadores de opinião e sai na caça às “bruxas” a quem se opõe às regras palacianas, como fez com o ex diretor do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe),Ricardo Galvão, demitido por ele.
Ao descortinar um futuro, só nos resta torcer para que o sonho de um país, livre, democrático, justo e igualitário seja realizado, e que a semente da esperança brote. Mesmo em tempos obscuros turbulentos.
Severino Lopes
PB Agora
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