Um pastor adventista que mora na Bahia é autor de pelo menos um dos textos religiosos encontrados na casa de Wellington Menezes de Oliveira, 23, o atirador que invadiu a escola municipal Tasso da Silveira, na zona oeste do Rio, e matou 12 crianças na última quinta-feira (7). Uma missa e um ato ecumênico foram realizados nesta quarta-feira, no Rio, em homenagem às vítimas.
Havia pelo menos três textos de caráter religioso na casa de Wellington –leia todos eles aqui. Os temas dos textos do pastor eram inferno, alma e espírito, e morte e ressurreição. Nenhum deles induz a ataques homicidas nem faz apologia à violência.
Além desses impressos, a polícia também recolheu textos escritos de próprio punho pelo atirador, nos quais ele tece considerações sobre religião e conceitos de bem e mal.
Um trecho diz: “[…] faço todos os dias minha oração do meio-dia que é a de reconhecimento a Deus e as outras cinco que são de dedicação a Deus e umas 4 horas do dia passo lendo o Alcorão […] e algumas vezes medito no 11/09”.
Em outro trecho, o atirador registra: “meu tempo livre entrego a Deus ao invés de entregar aos prazeres passageiros do mundo… e sei que Deus olhará para meu sacrifício e minhas ações neste mundo com muito favor e satisfação e sei que serei muito bem recompensado.”
Procurado pela Folha, o pastor Demóstenes Neves da Silva, 53, confirmou a autoria do texto sobre o inferno e afirmou ser “muito provável” que os demais também sejam dele. Silva contou que até 2003 respondia perguntas de internautas sobre religião em um site adventista.
“Escrevi tanta coisa naquela época que não lembro de tudo, mas são temas correlatos e creio que todos sejam meus.”
O site ainda existe, mas o pastor não participa mais dele. Atualmente não é possível acessar nenhum de seus textos –segundo o pastor, por questão técnica. Mas outros sites copiaram e mantêm os textos no ar.
O pastor não faz pregações regulares porque se dedica exclusivamente à atividade docente nas Faculdades Adventistas da Bahia, na cidade baiana de Cachoeira (105 km de Salvador).
“Uma atitude dessa [o ataque do atirador] só pode ter sido cometida por alguém com um desvio muito sério”, avalia Silva.
Sigilo
Ontem, a Justiça autorizou a quebra do sigilo eletrônico de Wellington. Após autorização judicial dada na segunda (11), a polícia já tinha iniciado a análise dos e-mails recebidos e enviados pelo atirador, além de suas conversas por meio do MSN (serviço de mensagens instantâneas da Microsoft).
A decisão de ontem atinge os registros do atirador no Google. Segundo a juíza Alessandra de Araújo Bilac de Moreira Pinto, da 42ª Vara Criminal do Rio, a única forma de prosseguir com as investigações é vasculhar os vestígios virtuais armazenados pela empresa, “para conseguir mais informações sobre Wellington, e quaisquer outras pessoas que tenham participado do fato e os motivos que o levaram a cometê-lo.”
O pedido de quebra de sigilo foi feito após a polícia encontrar indícios de que o atirador participava de uma organização religiosa. Em manuscritos encontrados em sua casa, em Sepetiba (zona oeste), o atirador sugere que participa de um grupo com outras pessoas.
A polícia também trabalha com a hipótese de que as anotações sejam apenas fruto da imaginação de Wellington.
Ontem, o “Jornal Nacional”, da TV Globo, divulgou vídeos feitos pelo atirador em que ele fala sobre o planejamento do crime.
“A luta pelo qual muitos irmãos no passado morreram e eu morrerei não é exclusivamente pelo o que é conhecido como bullying. A nossa luta é contra pessoas cruéis, covardes, que se aproveitam da bondade, da inocência, da fraqueza de pessoas incapazes de se defenderem”, disse.
Wellington também afirmou que visitou a escola dois dias antes do massacre e disse que tirou a barba para não chamar atenção.
Folha online