Professores de cursinho e servidores públicos especializados em matérias exigidas em concursos estão na mira da Delegacia de Combate ao Crime Organizado (Deco). Uma equipe de profissionais freelancers foi recrutada por Hélio Garcia Ortiz (foto em destaque), líder da organização criminosa, preso durante a Operação Panoptes na segunda-feira (21/8).
Agentes da Deco já identificaram comparsas que integravam o time de especialistas de Ortiz. Alguns atuam em cursinhos renomados do Distrito Federal. No entanto, a polícia não divulgará os nomes nem quantos são para não atrapalhar as investigações em curso.
O objetivo do chefe da Máfia dos Concursos era ter à disposição um rol de catedráticos em cada uma matérias que costumam cair nos concursos públicos. De acordo com as apurações, o esquema era bem organizado, e os profissionais costumavam ser acionados após a divulgação dos editais pelas bancas organizadoras. No dia dos exames, cada um dos recrutados fazia a prova da qual era especialista e deixava a sala após uma hora.
Do lado de fora, esses professores e servidores repassavam as respostas para um dos operadores do esquema, na maioria das vezes, Bruno Garcia Ortiz — filho do líder do grupo —, também detido na ação da última segunda (21).
Com as respostas em mãos, Bruno as passava por meio de ponto eletrônico ou celulares escondidos pelos candidatos.
Novos indícios
De acordo com o delegado Bruno Ornelas, os professores de cursinho e servidores que foram identificados pela polícia podem ser o próximo alvo da Panoptes. Ainda não se sabe quanto cada um dos comparsas ganhava para fazer as provas de concurso e repassar as respostas aos integrantes da quadrilha. “Ainda estamos analisando uma série de materiais apreendidos durante a primeira fase, mas já há vários indícios”, disse.
Os candidatos beneficiados pela Máfia dos Concursos chegavam a pagar até R$ 200 mil para conseguir a aprovação. Segundo os investigadores, era dado um sinal entre R$ 5 mil e R$ 10 mil. Se o nome constasse entre as primeiras colocações na divulgação do resultado, os aprovados desembolsavam até 20 vezes mais para concretizar o negócio. A suspeita é que pelo menos 100 pessoas tenham sido beneficiadas pelo esquema nos últimos anos.
De acordo com a polícia, a organização criminosa atuava nas portas das faculdades e cursinhos preparatórios angariando possíveis interessados em comprar uma vaga. E vendia o pacote completo, incluindo diplomas de graduação e pós-graduação, se fosse necessário. “Nos assustamos com o tamanho das fraudes. Para passar hoje, além de estudar muito, o candidato deve ter sorte. O processo [seletivo] não é seguro”, lamentou Ornelas.
A quadrilha, segundo a PCDF, agia de quatro formas: repassando informações por meio de ponto eletrônico, com celular escondido no local de prova, uso de documentos falsos por parte dos candidatos e envolvimento de pessoas que trabalham nas bancas organizadoras.
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