O PT e o PMDB fizeram um acordo para encerrar a CPI do Cachoeira sem levar à frente investigações que poderiam elucidar o envolvimento de políticos no esquema do empresário Carlinhos Cachoeira.
Os dois partidos, que comandam a comissão, temem ser atingidos pela continuidade das apurações da CPI –cujo trabalho será retomado hoje, após um mês paralisado por causa das eleições.
A Folha apurou que o relator da CPI, deputado Odair Cunha (PT-MG), já avisou ao partido que apresentará seu relatório final em duas semanas, como estipulado pelo calendário da comissão, mesmo que haja pedidos de prorrogação das apurações.
O relatório não trará novidades ao que já foi investigado pela Polícia Federal nas operações Monte Carlo e Vegas, que focaram os negócios de Cachoeira, e não nos beneficiários de seus recursos, os quais a CPI se propôs inicialmente a identificar.
O esquema, segundo a apuração dos parlamentares da comissão, movimentou cerca de R$ 36 bilhões.
A decisão de Cunha cindiu o PT. “Se o relatório for apresentado a tempo não há porque prorrogar”, defende o deputado Paulo Teixeira (PT-SP). “Eu sou totalmente contra encerrar a CPI agora sem concluir as investigações”, discorda o deputado Cândido Vaccarezza (PT-SP).
A ala petista favorável à prorrogação da comissão quer esticar a sangria política do governador de Goiás, Marconi Perillo (PSDB), suspeito de beneficiar Cachoeira, e avançar na investigação das ligações de jornalistas com o empresário.
A Folha apurou que o relator age afinado com o Palácio do Planalto, que prefere encerrar os trabalhos a expor o governo a riscos.
O Planalto ficou preocupados com o depoimento à CPI de Luiz Antonio Pagot, ex-diretor do Dnit (órgão federal de estradas), que disse ter sido antiético um pedido feito a ele pela campanha de Dilma, em 2010, para listar arrecadadores entre empreiteiras.
Mesmo o indiciamento de Perillo, dado como certo antes do recesso eleitoral, já não era ponto pacífico ontem.
Para livrar o governador, o PSDB aceita deixar de pressionar pela prorrogação dos trabalhos. “Se teve acordo não me consultaram”, disse o senador Alvaro Dias (PSDB-PR), líder do partido.
O acordo entre petistas e peemedebistas deve ser o último de uma série de acertos que, ao longo dos trabalhos da comissão, buscaram blindar políticos e empresários.
Para continuar os trabalhos, são necessárias as assinaturas de 171 deputados e 27 senadores. Se relatório final não for aprovado em duas semanas, os trabalhos serão encerrados sem conclusão.
Hoje, o deputado federal Carlos Alberto Lereia (PSDB-GO), suspeito de ter recebido favores de Cachoeira, será ouvido pela comissão.
FOLHA