Sessão especial proposta por vários parlamentares nordestinos homenageou, no Senado Federal, o centenário de nascimento de Luiz Gonzaga, o Rei do Baião, nascido em Exu (PE). Parlamentares como Inácio Arruda, do Ceará, e Vicente Cândido, do Piauí, revezaram-se na tribuna lembrando que a homenagem coincidiu com a ocorrência de uma das piores secas no Nordeste nos últimos 40 anos. Inácio Arruda, que é do PCdoB, afirmou no pronunciamento que Luiz Gonzaga foi uma voz forte a ecoar em defesa dos conterrâneos flagelados pela estiagem e na cobrança de providências a autoridades competentes para acudir o povo nos momentos de fome e sede. A Agência Senado reproduz, em sua página, artigo de Nelson Oliveira, ressaltando que Luiz Gonzaga, autor de uma obra musical de valor incomparável, também imprimiu à sua trajetória um sentido político, não necessariamente contestador. “A exemplo de sua música, a participação política de Luiz Gonzaga sempre foi espontânea, ausente de cálculo”, salientou.
Inácio Arruda qualificou Luiz Gonzaga como precursor das canções de protesto, ao gravar, em 1953, o hoje clássico Vozes da Seca, em parceria com Zé Dantas, autor da letra repleta de regionalismos e dos modos de falar da gente simples. Embora se dirigindo de maneira respeitosa aos governantes, os compositores são incisivos ao relatar o drama dos nordestinos vitimados pela seca e pedir urgência nas soluções não paternalistas, citando este trecho da composição: “mas, doutor, uma esmola, para um homem que é são, ou lhe mata de vergonha ou vicia o cidadão”.
Em João Pessoa, o Padre Djacy Oliveira, que atua na região sertaneja, voltou a fazer apelos, através das redes sociais, para a doação de alimentos aos sertanejos em piores condições. Na apreciação feita por Nelson Oliveira, Luiz Gonzaga, por não ter aderido a movimentos de contestação, foi cobrado pelo filho, o então universitário e artista iniciante Luiz Gonzaga Júnior, a assumir uma posição de rebeldia diante do regime militar. Mas o sanfoneiro entendia que a questão era mais complexa.
Nascido em Exu, Pernambuco, e de família humilde, Luiz Gonzaga demonstrou desde cedo muita coragem, mas tinha consciência das dificuldades de enfrentamento numa esfera mais ampla. Por conta da rejeição social, chegou na adolescência a enfrentar o poderoso da cidade, pai da jovem com quem pretendia se casar. Perseguido, engajou-se no Exército, saída usual para os rapazes sem instrução e perspectiva profissional. Só daria baixa para assumir a carreira de música. E foi nos primeiros tempos, no Rio de Janeiro, quando ainda passava o chapéu para sobreviver como cantor popular, que Luiz Gonzaga conheceu o estudante cearense Armando Falcão, que mais tarde foi ministro da Justiça de Juscelino Kubitscheck e do general Ernesto Geisel. A gratidão pela ajuda e a amizade de Falcão fizeram que o cantor o homenageasse durante o célebre show de 1972, no Teatro Thereza Rachel, no Rio.Nove anos depois, na noite de 30 de abril, Gonzaga estaria entre os que condenaram o atentado à bomba no Riocentro, onde se realizava um evento alusivo ao Dia do Trabalho, reunindo grandes estrelas da Música Popular Brasileira. Nenhum dos músicos ou da platéia se feriu. Apenas um capitão e um sargento (este mortalmente) que guardavam a bomba num Puma estacionado próximo ao ginásio.
“Como ídolo, o Rei do Baião pode não ter atendido a algumas expectativas, ma sua afirmação artística como nordestino, egresso da caatinga, contribuiu para assinalar de forma indelével na agenda nacional a necessidade de mudanças para uma região historicamente à espera de soluçoes”, afirma Nelson Oliveira.
Redação com ascom