RIO – Em entrevista à Folha de S. Paulo no Palácio da Alvorada no último domingo, o presidente Michel Temer voltou a afirmar que não vai renunciar e acrescentou que se o fizesse seria uma admissão de culpa. “Se quiserem, me derrubem”, disse. Temer ainda falou que não sabia que Joesley Batista, delator da JBS, era investigado pela Justiça. E, sobre o deputado Rodrigo Rocha Loures (PMDB-PR), que teria sido indicado por ele para tratar dos assuntos da empresa e posteriormente foi flagrado recebendo propina, disse que mantinha apenas uma “relação institucional”.
O presidente disse que o empresário tentou três vez procurá-lo e que, após duas recusas, quando finalmente foi pego, ficou “sem graça de não atendê-lo. Temer conversou com Joesley fora da agenda, por volta de 22h30, no Palácio do Jaburu.
— Você (jornalista) sabe que muitas vezes eu marco cinco audiências e recebo 15 pessoas. Às vezes à noite, portanto inteiramente fora da agenda. Eu começo recebendo às vezes no café da manhã e vou para casa às 22h, tem alguém que quer conversar comigo. Até pode-se dizer, rigorosamente, deveria constar da agenda. Você (jornalista) tem razão — admitiu.
Temer, porém, negou que receber Joesley tenha sido uma falha e corrigiu: “foi, digamos, um hábito”. E, indagado se não seria um hábito ilegal, rebateu que não.
— Não é ilegal, porque não é da minha postura ao longo do tempo [está na lei 12.813/13]. Talvez eu tenha de tomar mais cuidado. Bastava ter um detector de metal para saber se ele tinha alguma coisa ou não, e não me gravaria — disse ele para, depois afirmar que não sabia das investigações em andamento contra Joesley:
— Eu nem sabia que ele estava sendo investigado — afirmou, acrescentando: — No primeiro momento não. Ele disse na fala comigo que as pessoas estavam tentando apanhá-lo, investigá-lo — explicou Temer, após o repórter dizer que o nome de Joesley como investigado já figurava no noticiário em diferentes operações.
Depois, diz que agiu com ingenuidade com Joesley.
— Fui ingênuo ao receber uma pessoa naquele momento.
TEMER SOBRE ROCHA LOURES: ‘BOA ÍNDOLE’
Na entrevista, Temer refere-se ao deputado Rodrigo Rocha Loures (PMDB-PR) como “um homem de muito boa índole”, apesar de ter errado. O presidente disse que a JBS poderia tratar de seus assuntos junto a Rocha Loures. Posteriormente, Rocha Loures foi filmado recebendo R$ 500 mil.
— Não vou dizer isso (que se sente traído por Loures), porque ele é um homem, coitado, ele é de boa índole, de muito boa índole. Eu o conheci como deputado, depois foi para o meu gabinete na Vice-Presidência, depois me acompanhou na Presidência, mas um homem de muito boa índole. Sempre tive a convicção de que ele tem muito boa índole. Agora, que esse gesto (receber R$ 500 mil) não é aprovável.
Questionado sobre a regra que definiu para ministros de seu governo de que se fossem denunciados na Justiça seriam afastados e, se virassem réus, seriam exonerados, Temer negou que o mesmo servisse para ele.
— Não, porque sou o chefe do Executivo. Os ministros são agentes do Executivo, de modo que a linha de corte que eu estabeleci para os ministros, por evidente não será a linha de corte para o presidente.
Jornal Extra