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A Grande Família completa 10 anos

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Dona Nenê achou um cigarrinho diferente em casa. “Sem começo nem fim”, definiu Seu Floriano, antes de acender e dar o primeiro trago. Agostinho sentiu o cheiro e encostou o sogro na parede: era maconha. Lineu comeu biscoitos estranhos, teve crise de riso e dançou durante o jantar. Mais maconha.

Seguem-se frases sobre “todo mundo ter seu viciozinho”, sobre a droga não causar “tanta onda” quanto se diz. O espectador está diante de “A Grande Família” –em sua exceção.

O roteiro passou por vários departamentos de análise da Globo, segundo o ator Marco Nanini, até virar o episódio “Um Tapinha Não Dói” em 2002, segundo ano do programa, que estreia, no próximo dia 8, a décima temporada.

Série brasileira há mais tempo no ar, casa um elenco de grandes atores (Dona Nenê é interpretada por Marieta Severo, Lineu é Marco Nanini, Agostinho é Pedro Cardoso, entre outros) ao que o próprio elenco costuma classificar como “talento inegável” dos autores, Bernardo Guilherme, 44, e Marcelo Gonçalves, 39.

Os dois começaram a carreira na equipe de Cláudio Paiva, supervisor de texto de “TV Pirata” (1988 a 1992), que, na época, era redator final de “Sai de Baixo” (1996 a 2002).

Quando deram início ao texto de “A Grande Família”, em 2001, tinham em mãos os originais de Oduvaldo Vianna Filho, o Vianninha (1936-1974), para a primeira versão do programa, exibido de 1972 a 1975.

A ideia era adaptar 12 textos, mas a equipe produziu roteiros inéditos e ganhou espaço fixo na Globo.

Além da linguagem mais lenta do original, a nova versão perdeu um personagem político (Júnior, vivido por Osmar Prado).

Em comum, manteve a proposta de elenco de qualidade –Jorge Dória e Eloísa Machado eram Lineu e Dona Nenê nos anos 70– e das boas histórias. “O humor não deve ser finalidade, mas ferramenta. Não temos piadas, o que temos são situações engraçadas”, diz Bernardo Guilherme.

Segundo o diretor-geral, Maurício Farias, “há, na verdade, um grande controle de temas”. “Não tem humor preconceituoso, apelativo. Dificilmente se faz piada com ‘a’ gostosa ou ‘o’ pária. O humor passa pelo cotidiano da classe média baixa”, avalia Farias.

Tom “correto”

O tom “correto, mas não reacionário”, como define Marcelo Gonçalves, sustenta-se na “pretensão de falar para todo mundo”. O programa está entre as maiores audiências da Globo (no ano passado, teve média de 33 pontos).

Ao todo, sete roteiristas escrevem os episódios de “A Grande Família”. Os atores podem consultá-los, sugerir mudanças e até derrubar histórias.

Lúcio Mauro Filho, o Tuco, por exemplo, não se sentia à vontade para fazer graça sobre a confusão do jogador Ronaldo com um travesti –e a cena caiu. “Conseguimos fazer graça sem vulgarizar”, diz o ator.

Para Marco Nanini, “tudo o que não contribuir para contar a história, é dispensável”.

“A moral é muito díspar. Você tem que seguir uma base que tenha coerência com uma família de subúrbio. E é preciso arranjar um jeito de introduzir temas mais ousados, como a maconha”, afirma.

 

Folha Online

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