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A polarização nas urnas que antecipa as alianças eleitorais

Os resultados das recentes pesquisas eleitorais elevaram a tensão nos bastidores a ponto de alianças para o segundo turno começarem a ser tratadas, mesmo que de maneira tímida. Com os extremos representados por Jair Bolsonaro (PSL) e Fernando Haddad (PT), criam-se cenários de retroalimentação nas duas candidaturas. Como o deputado federal aparece na frente, o crescimento dele leva correligionários a sonharem com a vitória já em 7 de outubro, a partir do enfraquecimento das candidaturas de um terceiro pelotão formado por Henrique Meirelles (MDB), João Amoêdo (Rede) e Alvaro Dias (Podemos).

Ontem, o Ibope divulgou números que corroboram a situação, uma vez que Bolsonaro segue em primeiro, com 29%, mas Haddad subiu 11 pontos percentuais e já aparece em segundo, com 19%. O voto antipetista poderia, então, migrar em peso para o deputado federal. O receio por uma vitória no primeiro turno do candidato do PSL anteciparia, dessa forma, as alianças — inclusive uma inimaginável até quatro anos atrás. Os acordos políticos, até o momento, são negociados por uma frente formada entre petistas e tucanos e, por outra, entre demistas e apoiadores do capitão reformado.

Da parte dos petistas, conforme o Correio apurou, o maior entusiasta da aliança entre PT e PSDB é ex-governador da Bahia Jacques Wagner, candidato ao Senado. Ele é próximo de tucanos baianos e até mesmo de Alckmin, de quem foi colega na Câmara — ambos cumpriram mandatos de deputado federal nos anos 1990. Na quinta-feira passada, Wagner esteve em Brasília para a posse de Antonio Dias Toffoli na Presidência do Supremo Tribunal Federal (STF). Aproveitou para conversar com pessoas de vários partidos, mas especialmente com integrantes do PSDB. 

Wagner já falou publicamente sobre o desejo de acordo entre os dois partidos. Uma possível costura para o segundo turno apareceu pela primeira vez por meio do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. O tucano disse que não criaria objeção a um eventual apoio de Haddad a Alckmin. “Isso significa que também não haveria objeção ao contrário”, afirmou ele em entrevista ao jornal O Globo, em 20 de agosto.
Segundo Antonio Augusto de Queiroz, diretor de documentação do Departamento Intersindical de Análise Parlamentar (Diap), o próprio Haddad — próximo de FHC, entre outros integrantes do PSDB de São Paulo — atua na construção de uma aliança. Ainda que, neste momento, o acordo pareça implausível, Queiroz aposta em uma mudança de comportamento do candidato petista, que o tornará mais palatável para os eleitores de centro direita que têm aversão a Bolsonaro. “Neste momento, o discurso dele é principalmente de esquerda, para levantar o ânimo dos militantes petistas. Mas, no segundo turno, ele passará a ter um discurso mais de centro, ou mesmo de centro direita, se aproximando até mesmo do mercado financeiro”, afirmou.
 

DEM e o capitão

Dos apoiadores de Bolsonaro, os movimentos se aproximam do DEM e do Novo (Leia mais na matéria abaixo). No caso dos demistas, que assumiram a campanha de Geraldo Alckmin logo depois da desistência do deputado Rodrigo Maia da corrida ao Planalto, a equação é um pouco mais complexa. O interesse do partido é buscar a reeleição na presidência da Câmara, e tal ação poderia ser anulada com uma vitória petista. Por mais difícil que se possa prever a negociação com o Congresso, os primeiros meses de um presidente da República são historicamente mais tranquilos, o que o tornaria fortalecido na primeira composição para a Mesa da Casa.

Assim, a saída para Maia e o DEM estaria no apoio a Bolsonaro — e políticos como Alberto Fraga, candidato ao GDF, desde o início apontam para o posicionamento a favor do militar. Para o presidente nacional do DEM, ACM Neto, entretanto, o momento não é de debandada. “Tudo pode acontecer, mas, em princípio, não há cogitação de mudança de lado antes de ter o quadro do segundo turno formado”, disse um interlocutor.

Sociólogo e especialista em risco político, Thiago de Aragão diz que as alianças são iniciadas pelas personalidades dos partidos, mas não podem ser consideradas um movimento total das legendas. “Há uma ação de grandes figuras, mas que pode ser anulada pelo excesso de municipalização da política brasileira, na qual figuras no estado acabam não recebendo orientação dos partidos.”

Um dos casos mais emblemáticos é o deputado Ciro Nogueira (PP-PI), que, aliado oficial de Alckmin, fez campanha para Lula. “O que provocava as alianças no passado era a afinidade política e ideológica. Hoje, é a repulsa pelo outro ou por cálculos políticos para não perder votos”, diz Aragão. À parte dos acordos até aqui, Ciro Gomes (PDT) desconversou sobre uma declaração de Haddad prevendo uma aliança no segundo turno entre eles, independentemente de quem passar para a próxima fase. “O projeto que eu advogo para o Brasil não é o mesmo do PT. Quero ajudar a população a pôr fim nessa radicalização política que, infelizmente, está levando nossa economia para o brejo.”

 

 

Redação 

 


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