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Antônio Barros e Cecéu comemoram Lei que os tornaram patrimônio cultural da Paraíba

Uma carreira brilhante. Quase 50 anos de estrada, divulgando os valores, tradições, costumes e as raízes do Nordeste. A dupla de paraibanos Antônio Barros e Cecéu, representa o que existe de mais autêntico na arte de produzir o forró pé de serra. A obra desses artistas, ele, natural de Queimadas no Agreste do Estado, e ela, de Campina Grande, tem um valor inestimável e incomensurável, para a cultura nordestina.  Por sua imensa contribuição para a cultura regional, e o legado que já produziu para as futuras gerações, os dois se tornaram Patrimônio Cultural e Imaterial da Paraíba.

Em entrevista, articulada pela filha do casal, Mayra Barros, Cecéu Cecéu falou da trajetória da dupla, da carreira, da parceria com Jackson do Pandeiro, no longínquo anos de 50; destacou os sucessos,  bem como,  da saudade do palco e do público nesse tempo de pandemia.

Sempre bem humorada e esbanjando simpatia,  Cecéu agradeceu aos deputados estaduais que por unanimidade, aprovaram o projeto de Lei que tornou a dupla Patrimônio Cultural Imaterial da Paraíba. Para ela, o gesto da Casa de Epitácio Pessoa,  grande significado, foi um reconhecimento por tudo que os dois compositores já realizaram pela música regional.
“Estamos agradecidos pela forma como o projeto foi aprovado por unanimidade pelos deputados. É muito gratificante. Acho que esse título é importante para a gente e para o povo da Paraíba. Agora nós pertencemos a vocês” brincou.

Antônio Barros nasceu em 1930 e começou a compor na década de 1950. Mas só conheceu sua esposa, Mary Maciel Ribeiro, a Cecéu, 20 anos depois, quando se mudou para Campina Grande.

Cecéu aproveitou o momento para relembrar o início da carreira da dupla e os primeiros encontros dos dois que renderam frutos na vida. Ela lembrou que Antônio Barros iniciou mais cedo na música, no final da década de 50, gravando com Jackson do Pandeiro, Marinês e Luiz Gonzaga. Ainda desconhecido, Antônio Barros teve como padrinho Jackson do Pandeiro, que fez a ponte que permitiu ao paraibano ser contratado pela gravadora Copacabana no Rio de Janeiro. Dai para frente, o sucesso foi questão de tempo.

Cecéu revelou que passou a sua infância sonhando com o mundo artístico. Com ouvido no rádio, escutava seus artistas preferidos. Ela disse que quando adolescente colecionava revistas dos rádios e acompanhava os programas de auditórios de artistas como Dalva de Oliveira, Cauby Peixoto entre outros, que faziam sucesso  na Rádio Nacional. No entanto, nunca imaginava que um dia também se tornaria uma artista de reconhecimento nacional.

O casal Antônio Barros e Marly Maciel Ribeiro, artisticamente conhecida como Cecéu , são duas lendas vivas da música nordestina.  A dupla é uma verdadeira usina de fazer forró de qualidade, genuinamente nordestino, movido ao son inconfundível da sanfona, e ao toque do triângulo e a batida do zabumba.
“Poucos compositores tem tantas músicas gravadas e registradas. Em um ano nós chegamos a gravar 52 músicas. Nós vamos deixar um legado para o Brasil. Nós temos músicas gravadas em Hebraíco e em vários países como Portugal” contou Cecéu.

Juntos desde 1972, no amor e no palco, Antônio Barros e Cecéu já escreveram e gravaram pelo menos 708, canções, sendo alguns sucessos imortais como, “É proibido cochilar”, “Bate Coração”, “Homem com h”, “Por Debaixo dos Panos” “Procurando tu” , “Forró do Poeirão”, “Forró do Xenhenhém” e “Óia Eu Aqui de Novo”,  além de várias outras clássicos que embalam as festas juninas de todo o País.

Com autoridade de quem atravessou décadas compondo músicas de qualidade, Antônio Barros e Cecéu destacaram o valor das canções que falam aos corações, e expressam sentimentos como o amor. Reclamaram das músicas sem qualidade e expressividade.

Questionada sobre a atual safra de compositores, que não produzem mais canções com conteúdo, e qualidade, Cecéu apontou para o sistema. Ela negou que esteja faltando talento e inspiração dos compositores contemporâneos. Para ela, o fim do CD e o advento das plataformas digitais, tem desestimulado os compositores e influenciado negativamente no surgimento de novos sucessos.
“Falta de inspiração nunca deixou de existir no artista. Porque esse é um dom Divino. O que falta é oportunidade e o sistema mudou muito. Eu entendo que a vida é feita de evolução. Mas tudo tem limite e não pode acabar com a história. Quando acabaram o CD, acabaram com a vida da gente. O CD é como um livro “, observou.

Em um desabafo, a cantora e compositora lamentou como muitos artistas tradicionais defensores do autêntico forró pé de serra, tem sido tratado em algumas festas juninas. Cecéu disse que em muitas festas,  os artistas do chamado forró raiz, não tem recebido o mesmo tratamento que é dispensado a outros artistas nacionais que estão na moda. Chegam a tocar em palcos menores, o que se configura uma discriminação.
Ela clamou para os gestores não deixarem o “forró original acabar”, e valorizem os artistas que tem resistido.

Sobre a pandemia, Cecéu disse que tem sido difícil para a dupla atravessar esse tempo difícil. Como vivem de música, ela revelou que os dois sentem falta dos shows, e principalmente da energia que vem do público.

Morando atualmente em João Pessoa, Cecéu agradeceu a recepção e a forma carinhosa como a dupla foi acolhida pelos pessoenses.
“João Pessoa é uma cidade fantástica e nos acolheu muito bem. Somos gratos a todos que reconhecem o nosso trabalho” disse.

Das mais de 700 músicas da dupla, pelo menos,  134 delas foram consagradas nas vozes de cantores como Elba Ramalho, Fagner, Luiz Gonzaga, Gilberto Gil, Ney Matogrosso, Ivete Sangalo, Gal Costa, Genival Lacerda, Alcione além dos ícones Jackson do Pandeiro, Luiz Gonzaga e Marinês. O casal de compositores paraibanos aparecem entre os 20 autores com maior rendimento em festas juninas no ranking do Escritório Central de Arrecadação e Distribuição (Ecad).

Como reconhecimento à obra dois dois forrozeiros e sua inestimável contribuição para o Nordeste, a Assembleia Legislativa da Paraíba (ALPB), aprovou recentemente por unanimidade, o projeto de lei 840/2019, de autoria da deputada Estela Bezerra, reconhecendo a obra de Antônio Barros e Cecéu como patrimônio cultural imaterial do Estado da Paraíba. Antes de ser aprovado por unanimidade pelo Plenário,  o projeto foi aprovado pela Comissão de Educação, Cultura e Desportos da ALPB,

Antônio Barros e Cecéu são dois artistas consagrados, que fazem parte da história cultural da Paraíba, mas suas obras extrapolaram o limite da regionalidade. Muitos paraibanos cresceram escutando sucessos dessa dupla. Nos arraiais, é difícil encontrar algum forrozeiro que um dia não ouviu ou arrastou o pé ao som de canções que nasceram do talento dessa dupla genuinamente paraibana.

Severino Lopes
PB Agora

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