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Apesar das boas intenções, ‘Rio sex comedy’ fica devendo

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De boas intenções, “Rio sex comedy”, novo filme de Jonathan Nossiter (do documentário “Mondovino”) que passa no Festival do Rio, está cheio. Mas como isso não é o suficiente para fazer um bom longa-metragem, a produção que se propõe rir de clichês nacionais, e apoiada num elenco internacional, com nomes como a inglesa Charlotte Rampling, os americanos Bill Pullman e Fisher Stevens, e a francesa Irène Jacob, fica devendo.

As boas intenções de Nossiter ficam por conta de uma série de entrevistas que o diretor faz com moradores cariocas sobre os três pontos centrais de sua trama – a saber: a relação entre empregados domésticos e patrões; a fascinação carioca pelo corpo, que se traduz numa procura por cirurgias plásticas; e o encontro, nem sempre amistoso, entre favela e asfalto.

O processo seria até interessante se não atrapalhasse o restante do filme. Primeiro porque aumenta o tempo de projeção consideravelmente – que já seria longo o suficiente, sem isso. Segundo porque tira o pouco de coerência que uma obra que se propõe exagerada e sem medo do ridículo pode ter.

No filme, há esses três grandes núcleos que, durante o filme, se interligam, muito timidamente. O núcleo americano, liderado por Pullman (o cônsul William) e com a participação de Fish (Stevens), se passa prioritariamente na favela. William não quer saber mais de trabalhar no consulado e se exila num morro carioca. Lá, fica tocado pelos problemas enfrentados pelos mais pobres e decide arranjar um jeito de ajudá-los. Para evitar que o reconheçam, ele se fantasia e vai em empresas pedir auxílio para a sua recém-criada ONG.

Rampling é a cirurgiã plástica inglesa Charlotte, amiga de Ivo Pitanguy – que aparece no filme interpretando a si mesmo – que tenta entender essa vontade brasileira de fazer operações de embelezamento, e convencer os brasileiros que isso não é necessário.

Já Irène Jacob é Irène, uma francesa que – novamente – tenta entender como funciona a relação entre empregados domésticos e patrões, em um documentário, mas acaba se envolvendo com o concunhado, que faz as câmeras desse filme dentro do filme.

Caricatura para todos
Mas se há um ponto em que se faz justiça é que não há diferença de tratamento entre estrangeiros e brasileiros: todos são tratados de maneira caricata. Franceses são intelectuais, americanos, aproveitadores, ingleses, frios.

O filme ainda peca por ter situações que beiram o constrangedor, como a vinda de uma tribo indígena para o Rio de Janeiro, onde se instala ao lado de uma favela, dentro da mata, para se tornar atração para turistas.

Aliás, se a produção se propõe ser uma comédia – como anuncia o título –, faltou acrescentar graça às situações bem-humoradas. Colocar uma peruca no ator Bill Pullman, ou deixar que Fisher Stevens faça caretas à vontade não quer dizer que o resultado será cômico. Pode ser, como nos casos, risível, no sentido de vergonhoso. Humor tem a ver com timing, não com uma coleção de atributos externos.

O diretor Nossiter não pode – ou não deveria – ser considerado um gringo comum, desses que só enxergam no Brasil seu exotismo. Nascido nos EUA, e criado na Europa e Índia, ele é morador do Rio, casado com uma brasileira e pai de três filhos nascidos aqui. Portanto, pode argumentar que queria exatamente fazer piada dos clichês. Não pareceu conseguir. Ao prestigiar a sessão de gala do Festival, afirmou que o seu “Rio sex comedy” não agradaria os politicamente-corretos, mas seu longa desagradou a mais tipos de espectadores.

G1

 

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