No Brejo Paraibano, o projeto de extensão ‘Revitalizando o Caminho de Roma de Padre Ibiapina’, da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), ajuda a recriar uma das quatro rotas de peregrinação que reproduzem as andanças de Padre Ibiapina, importante líder religioso no Nordeste do século XIX, pela região. A ação está fazendo a diferença no resgate da memória do sacerdote e inspirou a realização do ‘Caminhos de Cedro’, um curta-metragem sobre o circuito de peregrinação.
O projeto integra o ‘UFPB no seu Município’, edital da extensão da UFPB que promove ações em municípios interioranos com menos de 150 mil habitantes, e foi concebido pelo servidor técnico-administrativo André Queiroga, atual coordenador da iniciativa. A ideia surgiu em 2023, quando Queiroga e sua esposa, Rosa Dutra, realizaram o Caminho de Roma pela primeira vez, como peregrinos, um percurso de 60 km que parte do Santuário de Frei Damião, em Guarabira, até o distrito de Santa Fé, em Solânea, onde se encontra o Santuário do Padre Ibiapina.
Durante o trajeto, ele percebeu a falta de informações e sinalizações adequadas para os peregrinos. O Caminho de Roma atravessa localidades como Pirpirituba, Borborema, o distrito de Roma, em Bananeiras, que empresta o nome ao trajeto, e Solânea. É o único dos trajetos que não se perdeu, em parte da memória popular, com o tempo. Ao longo de sua extensão, proporciona vistas panorâmicas do Brejo Paraibano, além de acesso a pontos turísticos como o Cruzeiro de Roma e a cachoeira do Roncador.
A primeira etapa do projeto consistiu no georreferenciamento completo da trilha, para facilitar futuras peregrinações, e na criação de protocolo para os peregrinos, com identidade visual e orientações sobre o grau de dificuldade do percurso. O projeto foi renovado em 2024 e, com o resultado dos produtos gerados em sua primeira fase, a expectativa é de formalizar parcerias com as prefeituras, a paróquia de Solânea e a diocese de Guarabira, responsável pelo Santuário do Padre Ibiapina, para recebimento de recursos, com vistas a instalação de sinalização e garantir a manutenção do Caminho. Outro objetivo da segunda fase do projeto é a implementação de um sistema de registro para os peregrinos, semelhante ao utilizado no Caminho de Santiago de Compostela, na Espanha, onde os viajantes podem carimbar um ‘passaporte’ ao longo do trajeto.
A transformação em filme
A oportunidade de retratar o circuito de peregrinação como o curta documental ‘Caminhos de Cedro’ se deu, em 2023, com a inscrição do projeto para o filme em um edital da Lei Paulo Gustavo, que destina recursos públicos ao setor cultural, severamente atingido pela pandemia de Covid-19. O curta recebeu um financiamento de R$ 50.000,00* e, com o fim do estado de emergência sanitária, o prazo para utilização dos recursos foi estendido até o final de 2024, permitindo que projetos como o ‘Caminhos de Cedro’ fossem executados. O filme também conta com o apoio logístico das prefeituras da região e de empresas locais, que ofereceram suporte para transporte e alimentação da equipe de filmagem.
As gravações tiveram início em fevereiro de 2024, na romaria da cidade de Solânea em comemoração à Páscoa do Padre Ibiapina, a qual os peregrinos que fazem o Caminho de Roma podem se juntar se realizarem o trajeto no período. Em agosto do mesmo ano, as gravações continuaram, com foco na fé e no sacrifício de quatro peregrinos – André, sua esposa, Roberta Alves (amiga do casal), e o guia Givaldo Lima – durante o percurso do caminho de Roma.
“Para além de resgatar o Caminho de Roma, queremos transmitir ao espectador duas facetas: as emoções que surgem durante a peregrinação, uma experiência mais introspectiva, e durante a romaria, que tem um caráter mais coletivo e comunitário”, explica Sebastião Formiga, diretor do curta-metragem.
O curta está atualmente na fase de pós-produção. A definição da data de estreia e os locais de exibição serão feitos pela Secretaria de Cultura da Paraíba (Secult-PB), mas Queiroga espera lançar o material em fevereiro de 2025, exatamente 1 ano após o início das gravações, durante a mesma celebração religiosa em reverência ao Padre Ibiapina.
Tendo realizado o Caminho de Roma, de 60km, três vezes – como peregrino, para a execução do projeto de extensão e durante as gravações – Queiroga expressa a emoção de ver o projeto de extensão se transformar em filme e reflete sobre as diferentes experiências vividas.
“Na primeira vez, o sentimento ao final era de incredulidade, diante do cansaço, e de superação. Já durante as gravações, me comovi ao lembrar de tudo o que foi percorrido, o desenrolar burocrático, para transformar um projeto de extensão em filme, que será como um legado para a posteridade. Desde a primeira peregrinação, tudo tem sido uma jornada emocionante”, compartilha Queiroga.
Sobre o Padre Ibiapina
Padre Ibiapina, que percorreu diversas regiões do Nordeste realizando obras de caridade, é considerado um dos mais importantes sacerdotes do século XIX. Suas ações incluíram a construção de cemitérios, casas de acolhimento, barragens e orfanatos, além de inspirarem outros líderes religiosos de grande devoção no Nordeste, como Padre Cícero e Antônio Conselheiro.
Natural do Ceará, ele escolheu a região do Brejo Paraibano para seu descanso final. Seus restos mortais estão no Santuário de Santa Fé, em Solânea, próximo a uma árvore de Cedro, razão pela o curta documental é intitulado ‘Caminhos de Cedro’.
Conheça a equipe do projeto de extensão ‘Revitalizando o Caminho de Roma de Padre Ibiapina’
Ana Beatriz Moura Reis – discente da graduação em Ciências Biológicas (voluntária)
Ana Paula Moura da Costa – discente da graduação em História (voluntária)
André Luiz Queiroga Reis – servidor técnico-administrativo (coordenador)
Henrique Elias Pessoa Gutierres – servidor técnico-administrativo (colaborador)
George Emmanuel Cavalcanti de Miranda – Professor do Departamento de Ciências Biológicas da UFPB (colaborador)
Joelma Abrantes Guedes Temoteo – professora do Departamento de Turismo e Hotelaria da UFPB (coordenadora-adjunta)
Rosa Virgínia Dutra de Oliveira – membro externo (Coordenadora-adjunta)
Tuane Bruna de Souza Viana – discente da graduação em Hotelaria (bolsista)
Utaiguara da Nóbrega Borges – professor do Departamento de Geociências da UFPB (colaborador)
*O filme ‘Caminhos de Cedro’ está sendo produzido com recursos provenientes da Lei Paulo Gustavo. A produção foi selecionada através de edital da Secretaria de Cultura da Paraíba (Secult-PB), Ministério da Cultura (MinC) e Governo Federal.