Com o rosto inchado e sujo de terra, o corpo de Dorothy Stang é encontrado crivado de balas, jogado em uma estrada no meio da floresta. A fotografia da freira morta fica na cabeça de quem assiste ao documentário “Mataram Irmã Dorothy”, que estreia nesta sexta-feira (17) nos cinemas brasileiros.
É assim, mostrando o que muita gente não quer ver, que o filme dirigido pelo norte-americano Daniel Junge conta a história do assassinato da missionária e explora os bastidores do julgamento de quatro dos cinco acusados pelo crime.
Stang foi morta com seis tiros em 12 de fevereiro de 2005 no município de Anapu (PA), a sudoeste de Belém. Ela lutava pela implantação de um Projeto de Desenvolvimento Sustentável (PDS), um tipo de assentamento de reforma agrária que causa menos impacto ao meio ambiente.
Em 94 minutos, Junge consegue retratar em detalhes a realidade da fronteira amazônica, onde a floresta cede lugar aos pastos e a Justiça está longe do alcance da maioria da população. “É muito difícil você sobreviver quando aborrece alguma pessoa naquela região”, sentencia, durante o filme, o advogado Américo Leal, chefe da equipe que defende os acusados pela morte da freira.
O documentário começa com lugares-comuns, mostrando a beleza da selva, os caminhões carregados de madeira, a prisão dos pistoleiros e a chegada do irmão de Dorothy ao Brasil. A história começa a mudar, contudo, quando são ouvidas as lideranças locais, que não encaravam com bons olhos a presença da missionária em Anapu.
A tensão – e a indignação – cresce com o início do julgamento dos acusados. Os pistoleiros que confessaram o crime mudam várias vezes seu depoimento ao longo do processo, isentando de culpa os supostos mandantes. A acusação se vê perdida no meio dos papéis na frente do juiz, e a defesa acusa a própria Dorothy de incitar a violência na região.
O filme não toma partido na história, mas é clara a crítica ao sistema judiciário brasileiro. “Quem tem dinheiro no Brasil não vai preso”, resume no documentário o pistoleiro Clodoaldo Batista, condenado a 17 anos de reclusão por participar do assassinato.
Ego