O que teria sinalizado ao então jovem diretor James Cameron de que ele marcaria a história do cinema ao lado de Sigourney Weaver? A resposta é: salto alto da atriz. Há mais de duas décadas, o cineasta esperava para conhecê-la em um hotel em Santa Bárbara, na Califórnia, e para vender suas ideias sobre um filme chamado “Aliens, o resgate”, que seria a continuação de “Alien, o oitavo passageiro”.
“Eu sabia que ela era uma garota alta”, lembra Cameron. “Fiquei pensando nos sapatos dela. Se ela estivesse usando salto alto, era sinal de que tinha uma personalidade dominante e seria difícil de convencê-la. Mas se ela estivesse usando sapatos baixos, era sinal de que ela era uma mulher consciente de sua altura”, lembra o cineasta.
“Na verdade, ela chegou usando sapatos de saltos médios e eu pensei: ‘ok, vai dar certo. Ela será firme e ousada, mas não vai querer perder o controle da situação’”, conta o diretor. Em 1985, Weaver assinou o contrato que a transformou na primeira atriz a ganhar US$ 1 milhão, e o filme foi lançado no ano seguinte.
Sua segunda missão espacial como Ellen Ripley – uma astronauta que enfrenta seus medos frente aos alienígenas inimigos que havia encontrado no filme anterior – garantiu a Sigourney Weaver uma indicação ao Oscar. Nos anos seguintes, Cameron também fez sucesso com “O exterminador do futuro 2” e venceu 11 estatuetas da Academia com o romance “Titanic”.
Recentemente, Cameron e Weaver aproveitaram seu reencontro na ficção científica “Avatar”, que chega aos cinemas este fim de semana, para discutir sua relação de anos trabalhando juntos. Na nova ficção científica, a atriz de 60 anos interpreta a cientista Grace Augustine, que assume forma de uma alienígena de três metros para explorar o planeta Pandora.
Cameron, qual é a sua opinião sobre o trabalho que você e Sigourney Weaver conquistaram juntos em “Aliens” com uma forte personagem feminina?
James Cameron – Essa personagem redefiniu o conceito de força. Não era só uma questão de lutas físicas, mas também de força emocional. A questão não era ser forte e corajosa, mas de que forma ela encarava seus próprios medos. Esse é o verdadeiro tema do filme.
Weaver, você lembra da história dos sapatos, de quando vocês dois se conheceram?
Sigourney Weaver – (risos) Eu tinha esquecido disso.
Cameron – Eu sabia que você era alta.
Weaver – Quase do tamanho dos alienígenas de “Avatar”.
Cameron – Exatamente. E é por isso mesmo que eu tremi quando fui te conhecer, eu queria que tudo desse certo. Eu queria muito fazer aquele filme, achava que poderíamos realizar algo incrível juntos. Eu não sabia se seria uma relação de combate ou se você ia se apropriar logo da personagem. Fui surpreendido positivamente pelo seu entusiasmo com o roteiro.
Weaver – O que me impressionou ao ler o roteiro foi que você conhecia a Ripley melhor do que eu mesma. Eu não sei como você foi capaz de conectar tudo isso e criar esse incrível universo dessa mulher, em outro tempo, isolada. Era um início fantástico para a história da personagem.
Cameron – É interessante ver que tanto Grace quanto Ripley são personagens desacreditadas pela estrutura de poder masculina. Eu acho que as mulheres sentem que não são ouvidas, que sua visão da situação nunca é tão considerada quanto a perspectiva masculina, seja no trabalho ou nos relacionamentos.
Por que você consegue entender as mulheres e personagens femininas dessa forma?
Cameron – Minha mãe é um ótimo modelo de comportamento, ela criou cinco filhos de forma tradicional. Ela sempre estimulou e apoiou tanto meus impulsos artísticos que acabou participando. Talvez seja porque eu era um garoto nerd e queria arrumar uma namorada, mesmo sem ser bonitão nem ser o capitão do time de futebol. Portanto, eu precisava começar a entender como as mulheres pensavam. Como cineasta, eu naturalmente segui o caminho que as pessoas não estavam seguindo, como uma forma de conseguir um diferencial. Fui inspirado por essa personagem de “Alien” e por outras boas personagens femininas que não eram tão comuns.
Weaver – É maravilhoso o jeito que você retrata as mulheres em filmes de ação. É empolgante ver personagens que não se entregam quando estão sob pressão. Você vê aquela mulher ser atacada e suportar tudo sem se entregar. E as mulheres costumam ser mais atacadas; elas têm mais dificuldade para assumir o poder.
Cameron – É como um experimento químico: coloco um pouco disso, um pouco daquilo e aí explode.
Weaver – É, realmente explodiu.
G1