Dono de belo timbre, cheio de bossa e um dos mais virtuosos intérpretes da MPB, Emílio Santiago vem da escola da noite. No começo da carreira ele era crooner do conjunto de baile de Ed Lincoln, o mais requisitado do Rio de Janeiro na década de 1960. Ao comemorar 40 anos de estrada, o cantor homenageou o organista que lhe deu o primeiro emprego, ao gravar o CD Só danço samba, e trazer de volta o estilo e a sonoridade criados por ele.
“O Ed Lincoln foi o cara que fez do órgão um instrumento de samba e criou uma escola, tendo como discípulos, Walter Vanderley e Eumir Deodato, entre outros. Pelo seu conjunto, passaram cantores e músicos como Orlandivo, Sílvio César e Márcio Montarroyos. Aprendi com ele ser um profissional da música e moldei minha maneira de interpretar como crooner do conjunto do Ed, um cearense que conquistou o Rio e, por extensão, o Brasil”, lembra Emílio.
Agradecido, o cantor conta que Eduardo Lincoln Barbosa Sabóia (nome verdadeiro do organista), hoje longe da música e morando em Teresópolis (RJ), “apostou em meu potencial quando eu era ainda bem moço. Fui acompanhado por ele em boates a como a Drink, a do Hotel Plaza e de outros locais da noite carioca. O Ed ficou muito feliz com a homenagem”.
Só danço samba, produzido por José Milton, inaugura um novo momento de Emílio que, aos 64 anos, estreia como dono de selo, o Santiago Music. “Como houve quem desse suporte para a gravação do disco — com distribuição pela Universal Music — , percebi que havia chegado a hora de eu investir no meu próprio selo”. Emílio destaca o fato de ter total controle sobre o repertório, os arranjos e a sonoridade pretendida. “Aos 40 anos de carreira, posso finalmente comemorar minha independência artística, cantar o que gosto sem nenhum tipo de ingerência da parte de gravadora.”
Para reproduzir a sonoridade criada por Ed Lincoln nos anos 1960, convocou músicos de reconhecida competência e talento instrumental, a começar por Julinho Teixeira, que criou arranjos para piano e órgão; José Carlos (violão e guitarra), Jamil Joanes (baixo), Paulo Braga (bateria), Jessé Sadoc (tompete e flugelhorn), Dircei Leite (sax e flauta) e Jorjão Barreto (arranjos e piano).
Até chegar às 16 músicas do álbum, Emílio se deteve numa lista bem maior de músicas pré-selecionadas. “A escolha não foi fácil, mas acredito ter gravado músicas que se adequaram melhor ao projeto. Não poderiam faltar, obviamente, algumas daquelas que fazem parte da obra do homenageado”, citando Olhou pra mim (Ed Lincoln e Sílvio César), Nunca mais (Ed Lincoln e Sílvio César),Deix’isso pra lá (Ed Lincoln e Luiz Paulo), Falaram tanto de você (Durval Ferreira e Orlandivo) e Zum zum zum (Orlandivo e Durval Ferreira
“Só danço samba (Tom Jobim e Vinicius de Moraes), que dá título ao CD foi uma das primeiras em que pensei para esse trabalho”, revela. Há, ainda, outras bossas como Samba de verão (Marcos e Paulo Sérgio Valle), Sambou, sambou (João Donato e João Melo) e Influência do jazz (Carlos Lyra). “A cada dia que passa é uma canção que gravei originalmente, no segundo disco independente de Antônio Adolfo, mas que ficou pouco conhecida. Aí quis regravá-la para reverenciar este grande músico brasileiro”, explica.
Três sambas, um antigo e dois conmpostos mais recentemente, também entraram no repertório. Na onda do berimbau (Oswaldo Nunes), Tendência (Dona Ivone Lara e Jorge Aragão) e Chega (Mart’nália e Mombaça). Emílio já percorre o país com a turnê do So danço samba. “Quero muito fazer este show em Brasília, onde vou desde o começo da carreira. Neste final de semana, vindo de Belém, estarei aí, mas para visitar meu amigo e artista plástico Zello Visconti”.
Correio Braziliense