Tirei a sandália para melhor sentir o contato da areia úmida, compacta da beira da praia aos meus pés; pedras e seixos molhados roçavam, acariciavam-me os dedos; e então sentei à sombra da barreira do Cabo Branco que, àquela hora, às quatro da tarde, já escondia o sol se pondo entre os coqueiros. À minha frente o mar uma vez mais cantava seu canto mítico de ondas quebrando e estendendo as águas na areia refletindo a luz.
Um homem sozinho corria tão perto da maré seca que de vez em quando molhava as pernas. Tudo brilhava e enternecia nessa paisagem cinzenta, quando de repente um raio de sol furou as nuvens e iluminou-me diretamente os ombros, a face e essa mão que vos escreve. Porque esse canto é para vós, leitor imaginário, para que vossos olhos se iluminem e diante da natureza a alma reze.
O mar marrom, azul e verde, a quase fria luz por entre as nuvens e a dança que o mar traz no ir e vir de suas ondas emana tanta beleza que é a prova de que Deus existe. Só ele com sua paz e complacência pintaria cores tão leves. Só ele com sua benevolência, interpretaria assim o êxtase.
Um pastor alemão branco passeia na areia com seu dono. Levanto-me e começo a andar molhando os pés na água quente. Estar assim eternamente, num lugar em frente ao mar, eis um sonho que gosto de sonhar. O dia nublado escurece, daqui a pouco é hora de voltar, penso a ouvir o mar; e os versos me vêm como uma prece:
“È doce morrer no mar, nas ondas verdes do mar…”
“O pescador tem dois amor, um bem na terra, um bem no mar…”
“O mar quando quebra na praia é bonito, é bonito…”
*Os versos citados são de canções do compositor baiano Dorival Caymmi, que cantou o mar como ninguém.
* A praia de Cabo Branco é uma faixa estreita de litoral no extremo leste de João Pessoa-PB, delimitada pelo mar, de um lado, e de outro pela Barreira do Cabo Branco. Na parte superior da barreira encontra-se o Farol do Cabo Branco e o espaço Estação Ciência, Cultura e Artes, projetado por Oscar Niemeyer.
Amneres