No início dos anos 1990, quando se imaginava que a Guerra Fria tinha sido sepultada sob os escombros do Muro de Berlim, outros lances desse jogo estavam sendo dados no continente americano, com a infiltração de cinco agentes cubanos em organizações de extrema direita dos Estados Unidos, que vinham promovendo ataques terroristas em Cuba. Esta história está em Os Últimos Soldados da Guerra Fria, de Fernando Morais, livro que será lançado na próxima segunda-feira, às 19h, na Fundação Casa de José Américo, em João Pessoa. A sessão de autógrafos acontece após a palestra, pelo autor, “A Revolução Cubana e os Últimos Soldados da Guerra Fria”. O evento é promovido pela Universidade Estadual da Paraíba (UEPB) com apoio da Associação Paraibana de Imprensa (API), dentre outras instituições.
Além de narrar a aventura dos espiões cubanos em território americano – desde a entrada no país se passando por desertores, até a prisão, em 1998, quando deixaram de ser “heróis” e ficaram vários meses numa solitária à espera do julgamento –, revelando as ações de uma rede terrorista com sede na Flórida e com ramificações na América Central, que tem como objetivo desestabilizar o governo de Cuba. Para isso valia jogar pragas nas lavouras cubanas, interferir nas transmissões da torre de controle do aeroporto de Havana, sequestrar aviões que transportavam turistas, colocar bombas em hotéis e disparar rajadas de metralhadoras contra navios de passageiros e contra turistas estrangeiros em praias cubanas.
A ideia do livro surgiu em 1998, quando Fernando Morais ouviu, no rádio de uma táxi, a notícia da prisão de dez agentes cubanos nos Estados Unidos. Mas não foi fácil desvendar o mistério que cercava a missão dos agentes cubanos. O autor foi a Cuba para tentar levantar o assunto, mas não obteve sucesso. Até 2001, quando Cuba assumiu que os homens presos nos Estados Unidos eram agentes de inteligência, o tema era tratado como segredo de Estado. Também foi difícil encontrar informações oficiais nos Estados Unidos, pois os agentes do FBI são proibidos de dar declarações públicas. Morais foi ‘premiado’ pela persistência. Graças à lei que regula a liberação de documentos secretos, ele teve acesso à documentação apreendida na casa dos espiões cubanos.
Em 2008, dez anos depois da prisão dos agentes, o governo cubano liberou o material para Fernando Morais, permitindo que ele fizesse entrevistas até com mercenários estrangeiros condenados à morte por colocar bombas em hotéis e restaurantes turísticos de Cuba. O autor entrevistou pessoalmente Juan Pablo Roque, que fugiu para Cuba antes das prisões, o jornalista Larry Rohter, que denunciou a ligação de lideranças anticastristas da Flórida com os atentados a bomba contra Cuba e também líderes anticastristas, como José Basulto, da organização Hermanos al Rescate. Por e-mail, ele entrevistou um dos presos, o piloto René González, e os outros ele teve acesso por intermédio dos parentes.
Resultado de uma extensa pesquisa, Os Últimos Soldados da Guerra Fria impressiona pelo rigor investigativo do autor, que descobriu uma grande história ao ouvir uma notícia no rádio e se dedicou ao fato durante anos, buscando informações tanto em Cuba quanto nos Estados Unidos, e nunca desistiu de encontrar a verdade sobre o fato, até porque, como diz o próprio autor, o livro só deu os primeiros passos em 2005, ou seja, sete anos depois da descoberta e prisão dos espiões cubanos pelo FBI. A história dos agentes de Cuba deve chegar aos cinemas em breve. Os direitos de Os Últimos Soldados da Guerra Fria foram vendidos para o diretor Rodrigo Teixeira, da produtora RT Features.
Serviço
Título: Os Últimos Soldados da Guerra Fria
Autor: Fernando Morais
Editora: Companhia das Letras
Lançamento com palestra do autor: Segunda-feira, às 19h
Local: Fundação Casa de José Américo
Endereço: Av. Cabo Branco, 3336, em João Pessoa
A União