Surf music, hard rock, funk, colagens eletrônicas, jazz, minimalismo. A música instrumental brasileira avança com intensidade por caminhos muito mais diversificados do que os habituais choro, samba-jazz e jazz-baião. Para dar uma panorâmica na crescente tendência nacional, que tem quebrado preconceitos entre o público jovem, começa hoje no CB Bar a segunda edição do PIB (Produto Instrumental Bruto).
Entre as atrações, de diversos estilos e origens, estão grupos novatos e outros já com a trilha bem traçada. É o caso dos baianos do Retrofoguetes e dos cuiabanos do Macaco Bong, que estão entre as bandas instrumentais com maior credibilidade hoje. A maioria é de São Paulo, mas, além dos já citados, há também grupos da Paraíba, do Rio Grande do Sul e do Rio (veja programação ao lado).
Um dos itens de seleção do festival, aliás, é a abrangência nacional. “A cena realmente está crescendo. Principalmente no Nordeste, a quantidade de boas bandas instrumentais que surgiram nestes dois anos é um absurdo”, diz Inti Queiroz, produtora do PIB. “O Fóssil, de Fortaleza, é superimportante. Por causa deles outras bandas surgiram no Nordeste.”
O Brasil tem uma infinidade de bons instrumentistas e grupos do gênero, mas a música instrumental ainda é tida como elitista por alguns, convencional, aborrecida ou velha por outros e inacessível ao grande público. “A ideia do festival é justamente acabar com essa impressão de que música instrumental é careta, chata. Não que a gente não goste de grupos mais tradicionais, mas o festival mostra uma geração nova de bandas, são músicos jovens (a maioria tem entre 25 e 30 anos), que já tocam na noite, mas trazem propostas mais modernas, mais de vanguarda”, diz Inti. “Mesmo na surf music, não procuramos os que tocam o óbvio, buscamos uma experimentação a mais, coisas também do underground, de criação própria.”
O festival é “mais ou menos competitivo”, como diz Inti. A cada noite o público e dois jurados escolhem o melhor show. O troféu é um instrumento feito de sucata pelo artista Flávio Cruz, que no domingo realiza uma das oficinas – a de construção de instrumentos musicais com material reciclável – na Casa das Caldeiras. A oficina de percussão em sucata será dada pelo músico e produtor Loop B. O VJ Spetto e o DJ e produtor Phantazma ensinam as técnicas para se preparar um show audiovisual. Alguns desses elementos visuais também fazem parte dos shows no CB Bar.
Da edição de 2007 voltam como bandas madrinhas Labirinto, Gasolines e Mama Gumbo. A Intravenal Groove S.A. é exceção. “Como em 2007 o festival só teve três noites, tivemos de escolher a quarta banda madrinha entre as 120 que se inscreveram para esta edição.” A Intravenal foi eleita por ser uma big band, por ter músicos mais experientes. “O impacto do show deles seria maior do que o das outras se fossem concorrer.”
Daniel Zacharias, guitarrista do Intravenal, diz que a banda procura fugir do funk comercial, “juntando a potência da metaleira com elementos brasileiros, como a Banda Black Rio antigamente”, mas nunca esquecendo “a parte dançante da música”. “A música instrumental é muito sofisticada, mas não chega à compreensão de quem não é musicista. Aí fica mais um papo de músico pra músico. A gente queria fazer uma coisa mais popular, digamos.”
Apesar de haver um mix de estilos em cada noite, cada uma tem um elemento natural como tema. “A noite aérea é basicamente dos eletrônicos, um som mais leve, mais etéreo, de viagem mesmo”, conta Inti. “Os aquáticos são da surf music e lances próximos disso, o dia terrestre é dos mais pesados, primitivos, e o os ígneos são ritmos mais quentes, black music, groove, jazz, blues.”
Além de ter participação garantida na próxima edição do PIB, as bandas concorrentes ganham troféus, kits de bateria, acessórios e promoção durante um ano, citadas como as principais do ano, seja em outros eventos ou em sites como o do PIB, Orkut, MySpace, Twitter. Foi por meio da internet, aliás, que se deu a movimentação não só em torno do PIB, mas para criar um intercâmbio capaz de configurar uma cena nacional, que “está se unindo muito”.
Yanaiã Benthroldo, baterista do Macaco Bong, concorda com Inti. “As bandas realmente estão se conectando cada vez mais e acho que isso se deve a alguns fatores: a internet e a maior circulação dessas bandas por festivais. E a Abrafin (Associação Brasileira de Festivais Independentes) tem um papel fundamental nisso”, aponta.
“Então, as bandas instrumentais que tinham dificuldade de circular, até por causa de um certo preconceito, puderam mostrar que existem várias vertentes nesse estilo.” O Calango, de Cuiabá, é um desses festivais exemplares. “A música instrumental brasileira vem deixando de ser uma coisa elitizada muito por causa de as bandas enxergarem a possibilidade de circulação em festivais, casas de shows, de se conversarem mais.”
Serviço
Festival Produto Instrumental Bruto. CB Bar (350 lug.). R. Brigadeiro Galvão, 871, Barra Funda, 3666-8971. De hoje a sábado, 21 h. R$ 15 e R$ 7,50
Programação
HOJE – TEMA “AR”
Bandas concorrentes:
Aerotrio (PB)
Tigre Dente de Sabre (SP)
Malditas Ovelhas (SP)
Banda madrinha: Labirinto
AMANHÃ – TEMA “ÁGUA”
Bandas concorrentes:
Retrofoguetes (BA)
Reverba Trio (RS)
The Violentures (SP)
Banda madrinha: Gasolines
SEXTA – TEMA “TERRA”
Bandas concorrentes:
Elma (SP)
Fantasmagore (RJ)
Macaco Bong (MT)
Banda madrinha: Mama Gumbo
SÁBADO – TEMA “FOGO”
Bandas concorrentes:
Chimpanzé Clube Trio (SP)
Grooverdose (SP)
Saunoflex (SP)
Banda madrinha: Intravenal Groove S.A.
DOMINGO
Na Casa das Caldeiras. Avenida Francisco Matarazzo, 2.000, Água Branca, 3873- 6696, com entrada franca: Feira cultural – das 15 h às 20 h
Oficina de produção audiovisual – das 15 h às 19 h
Oficina de construção de instrumentos – das 15h30 às 17h30
Oficina de percussão em sucata – das 15h30 às 17h30
Debate – das 16 h às 18 h
Apresentação das oficinas de percussão de sucata e de construção de instrumentos – das 18 h às 18h30
Show audiovisual Skizofrequencies (Phantazma, Spetto e Brita Sonic) – das 19 h às 20 h
Estadão