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Oliver Stone revela autoritarismo e insegurança de George W. Bush

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O cineasta norte-americano Oliver Stone acrescenta mais um capítulo à sua releitura de presidentes dos Estados Unidos com “W.”, que estreia em São Paulo e em Brasília. Depois de “JFK” (1991) e “Nixon” (1995), o diretor coloca em cena um dos mais controversos líderes de seu país, George W. Bush — vivido na tela por Josh Brolin (“Onde os Fracos Não Têm Vez”).
 

Dada a posição política de Stone, um dos críticos do governo Bush (encerrado no início deste ano), era de se esperar um filme mais corrosivo ou bombástico. No entanto, embora “W.” não traga muitas novidades sobre o assunto, o que importa é a visão que ele tem do ex-presidente, que na tela mais parece um bufão. O roteiro, assinado por Stanley Weiser (parceiro de Stone em “Wall Street”), acompanha o personagem desde a juventude até sua queda vertiginosa em seus últimos anos no governo.
 

Embora existam muitos fatos verídicos, este é um trabalho de ficção — nem chega a ser um revisionismo da história. Assim, vários fatos, embora bastante plausíveis em seu contexto fílmico, foram inventados. Antes de mais nada, “W.” é a história de uma relação conturbada entre pai e filho. Ambos políticos, ambos ex-presidentes dos Estados Unidos e ambos envolvidos em guerras polêmicas no Oriente Médio.

Bush, o filho, nunca agradou muito a Bush, o pai (James Cromwell, de “Homem-Aranha 3”). As brigas entre os dois são constantes, apesar dos esforços da matriarca Barbara (Ellen Burstyn, “Réquiem Para um Sonho”) para evitar os conflitos. Essa relação turbulenta é o que parece mover os interesses do herdeiro — provar para o pai que ele é capaz.

Na primeira cena, Bush está sozinho no meio de um campo de beisebol e usa uma camisa número 43 (ele foi o 43º presidente dos EUA), olhando para uma multidão nas arquibancadas que apenas imagina, porque não está lá. Para Oliver Stone, essa a imagem resume bem o espírito do filme e do governo do segundo Bush. O político está sempre à espera, à espera de que a bola de beisebol caia em sua mão, à espera de receber apoio de quem não está ao seu lado.

A lista de quem está, ou não, ao lado do presidente é longa, incluindo o vice-presidente Dick Cheney (Richard Dreyfuss, “Poseidon”), a conselheira de segurança nacional Condoleezza Rice (Thandie Newton, de “Crash – No Limite”) e o secretário de estado Colin Powell (Jeffrey Wright, de “007 – Quantum of Solace”). No entanto, às vezes, aqueles que teoricamente deveriam apoiar as decisões de Bush parecem conspirar às suas costas. O presidente sempre é o último a saber.
 

 

Na visão de Stone, o clã Bush fornece os personagens de uma comédia de erros, cujas consequências foram caras para o povo norte-americano. O horror e as tintas da tragédia, entretanto, chegam ao final do filme nos últimos anos do governo, com a morte de milhares no Iraque.

Ao contrário dos outros retratos presidenciais assinados por Stone, “W.” não tem excessos barrocos. Visualmente, o filme é bastante contido. Às vezes, está mais interessado na vida pessoal de Bush. Alguns momentos históricos, como o 11 de setembro, são apenas sugeridos. Assim, o diretor consegue passar sua visão de forma mais sutil e menos panfletária — mas não menos eficiente — do que Michael Moore e seu “Fahrenheit 11 de Setembro”.

Brolin, que assumiu o papel pouco antes do início da filmagem, quando Christian Bale (o atual Batman) desistiu do papel, faz uma interpretação impressionante. Embora não seja fisicamente parecido com o verdadeiro Bush, sendo bem mais jovem, a maquiagem também ajuda. Porém, a semelhança está no olhar. O ator consegue repetir o mesmo olhar vago do ex-presidente em momentos de tensão, muitas vezes flagrado pelas câmeras de televisão.

Num primeiro momento, pode parecer que Stone está inocentando Bush — afinal muita coisa é tramada sem que o presidente seja informado. Analisando mais a fundo, “W.” afirma que os Estados Unidos e o mundo estiveram sob o domínio de um bobo da corte, que fica olhando para cima esperando que uma bola de beisebol caia em sua mão, enquanto uma torcida inexistente vibra por ele.

UOL

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