Já faz alguns séculos que a separação entre Estado e Igreja se consolidou nos países ocidentais. Todos nós sabemos, em alguma medida, que houve um período da história em que o Estado interferia nos assuntos da Igreja de forma direta e sistemática, como também sabemos que a Igreja se intrometia nas decisões do Estado. Foi um tremendo avanço separar essas duas esferas.
Contudo, cientes da separação entre Igreja e Estado, nós tendemos a cair em um engano: achar que a separação entre esses dois entes representa a separação entre política e religião. O termo religião não se refere apenas àquele aparato institucional para cultos e missas. Religião é muito mais amplo e se refere à dimensão humana de adotar crenças e valores tão fundamentais que só vêm à tona quando nós fazemos perguntas, digamos, complexas: de onde viemos? Para onde vamos? Quando alguém morre, o que acontece? E tantas outras questões perturbadoras.
Sim, todos nós somos religiosos. Nós oferecemos, de forma articulada ou não, respostas a essas questões complexas. Nós temos explicações sobre a vida que norteiam nossas decisões. Todos nós temos crenças fundamentais que são aceitas e confirmadas como sendo adequadas ao longo da vida. Essas crenças consolidam, consciente ou inconscientemente, a forma como vemos o mundo e explicamos aquilo que conhecemos.
Então, para onde formos, para onde olharmos, sobre o que pensarmos, nossas crenças religiosas ou fundamentais estarão conosco. Uma das dimensões da vida humana que mais expõe nossas crenças religiosas é a política. Seja à esquerda, seja à direita, toda pessoa que pensa ou se posiciona politicamente demonstra ter uma explicação abrangente do mundo.
Historicamente, a esquerda diz que o mal é a desigualdade social. A direita diz que o mal é um Estado grande que diminui a liberdade dos indivíduos. A esquerda diz que o Estado deve ser aumentado para pressionar por mais igualdade entre os cidadãos. A direita diz que o Estado deve ser diminuído para dar mais liberdade ao cidadão. Por fim, a esquerda diz que se um dia houver relativa igualdade entre todos, teremos uma sociedade mais justa. A direita diz que se o indivíduo for mais livre, a justiça do mérito prevalecerá.
Pense no caso brasileiro. Temos, hoje em dia, duas figuras políticas que, em tese, representam lados opostos: Lula e Bolsonaro. Os dois têm a capacidade de oferecer uma explicação sobre aquilo que está ruim no Brasil, o que fazer para melhorar, e o resultado a que se chegará se melhorar. Quer algo mais religioso? Uma narrativa completa para buscar um mundo melhor?
Há uma dimensão religiosa na política. O problema ocorre quando a dimensão religiosa da política se torna tão abrangente no coração dos indivíduos que os cega. E a cegueira política leva à falta de misericórdia e perdão e à perda de fraternidade. Chegamos a uma política que só constrói muros, não pontes. É a política do poder, isto é, cada grupo busca alcançar o poder logo e de qualquer forma, usando “fake news” se preciso, para impor sobre os adversários a vontade do vencedor.
A dimensão religiosa da política leva à criação de ídolos. Um líder, um partido, uma narrativa política se tornam formas de restaurar a felicidade da sociedade. Enquanto isso, famílias, amizades, instituições, entre outros, são quebrados. Todo ídolo é impiedoso, pois não quer apenas seu voto, mas sim sua lealdade e devoção. Contudo, adianta ganhar as eleições e rachar ainda mais o país? Adianta ganhar as eleições e perder os verdadeiros amigos e nossos familiares? “Do que adianta ganhar o mundo e perder a alma?”.
Coluna Anderson Paz
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