O encontro dos encontros, era Nicodemos membro ativo do Sinédrio nos dias de Cristo Jesus (uma instituição em termos de poder comparada hoje ao STF brasileiro ou a Suprema Corte Americana). Nicodemos atuava no setor jurídico e religioso de Israel, com sede no templo de Salomão, por certo era um judeu erudito, criado e instruído na mais alta cultura de seu tempo. Quem sabe frequentou a escola do mestre Gamaliel e de outros intelectuais de seus dias.
Pelo caráter da visita que fez Nicodemos a Jesus, nos faz entender que ele possuía no “DNA” de seu sangue, a primícia de aprendiz, ou seja, de um discípulo aplicado. Nicodemos conhecia muito bem a verdade dentro dos preceitos jurídicos estabelecidos dentro dos ensinos de Moisés, que foram entregues por Deus lá no monte Sinai. Com certeza era conhecedor da cultura romana, egípcia, grega etc. Porém, quando o Mestre da Galiléia, nascido na minúscula cidade de Belém, sem tradição teológica ou intelectual, começou aos 30 anos de idade a encher Jerusalém, desde o púlpito do templo, nas bancas das sinagogas e às multidões nas ruas, com um ensino vivo, verdadeiro e eficaz, isso por certo pôs Nicodemos em parafuso (polvorosa). O assombro aumentou quando soube que aos 12 anos de idade, o adolescente Jesus, fazia perguntas a letrados rabinos nas dependências do Templo em Jerusalém. Era a lei, através do jovem Jesus, sendo levada a auditórios e ao povo em geral, pelos próprios lábios do Mestre da Galiléia, que encantava a eruditos e plebeus.
Um novo caminho e ensino estava se abrindo através do jovem Galileu nas cidades de Israel e além fronteiras, tendo como plataforma, a oratória polida do Messias, que hoje a conhecemos como a era da Graça. Sem anular em nenhum til a Lei, Cristo Jesus, estava anunciando um novo capítulo, ou seja, o início de um novo caminho que foi pré anunciado séculos atrás como profecia messiânica no livro do Gênesis, porém não captada claramente pelos eruditos religiosos dos dias de Nicodemos (“Porei inimizade entre você e a mulher, entre a sua descendência e o descendente dela; este lhe ferirá a cabeça, e você lhe ferirá o calcanhar”. Gênesis 3.15). Até eu mesmo, já tive dificuldade de entender esse texto.
Nicodemos, assombrado com os ensinos precisos do Messias, seu íntegro comportamento de vida, sabedoria que extrapolava sua formação acadêmica terrenal, e demonstração de sinais jamais vistos, sendo operados por esse jovem judeu, em Jerusalém e suas adjacências, sem busca de proveito próprio mas sim, dos demais, isso na verdade deixou alucinado a Nicodemos e o fez arquitetar um plano para estar cara a cara com esse rabino que o desafiava durante o dia com seus discursos e sinais e que durante as noites, não o deixava conciliar o sono.
Chegou o esperado momento, não sei se enviou previamente interlocutores a Jesus para que uma audiência fosse agendada ou se foi algo repentino (pelo perfil de Nicodemos como rabino, eu creio que algo foi marcado com antecedência). Nicodemos por certo preparou uma série de perguntas, não com a intenção de confundir o Mestre, porém, queria sair daquele encontro sem nenhuma sombra de dúvida em sua mente. O saudou e foi logo acrescentando: “Sabemos que és uma pérola especial, [Mestre em Israel], e que vens da parte de Deus, pois ninguém pode fazer sinais com a conduta, caráter, palavras e ações tão contundentes como as fazes tu, se o “Eterno”, El Shaday, não estiver com ele”. Muita verdade, respeito, e algo que poderia envaidecer a qualquer ser humano e quebrar força e resistência de qualquer oponente.
Jesus foi ao grão e deixou Nicodemos todavia mais assombrado: Quem não nascer de novo Nicodemos, não pode entrar, nem ver o Reino de Deus. A frase nascer de novo, não era estranha a Nicodemos, pois os Judeus exigiam um renascimento religioso a todo aquele que não era Judeu e desejava integrar-se à comunidade religiosa judaica. Era um rito, fazer um juramento e firmar papéis.
Jesus estava falando de um nascimento diferente, que tinha haver com o ser interior do homem, envolvendo corpo, alma e espírito; submisso não a rituais humanos mas sim, celestial. No encontro registrado unicamente no evangelho de João, capítulo 3, anotado pelas mãos do próprio escritor sagrado; Apóstolo João, que possuía uma mente lúcida, brilhante e teológica. Nesse texto, lemos o essencial desse encontro, porém, com certeza, a conversação começou às seis da tarde e entrou pela madrugada.
“Nascer de Novo”! Desafiar um rabino judeu a nascer de novo, era quase um insulto, estava Jesus a dizer a Nicodemos, que ele devia repensar seus conceitos religiosos. O mesmo saiu dessa reunião com uma nova cabeça e atitude. Quem sabe, no momento não entendeu o todo que Jesus derramou sobre sua mente e espírito, porém, o admitiu de uma forma humilde, pois o texto sagrado não nos aponta uma discussão ferrenha entre Jesus e Nicodemos. É bem provável que ao sair daquele recinto, Nicodemos não fez nenhuma promessa mirabolante de tornar-se um seguidor ferrenho de Cristo Jesus e de sua mensagem, porém, lá adiante, o vemos com José de Arimateia no ato de crucificação de Jesus, juntando-se para dar-lhe uma sepultura digna. João, 19. 38-42. O Apóstolo João ficou tão admirado com o perfil de Nicodemos, que é o único escritor do Novo Testamento que o menciona no seu evangelho, por três vezes.
Ainda hoje a mensagem de novo nascimento é difícil de ser assimilada, pois requer, humildade, espírito de aprendiz, abertura mental e espiritual, assim como teve Nicodemos nesse encontro espetacular com Cristo Jesus. Só atuando dessa forma é que vamos entender o real sentido do que significa nascer da “Água” e do Espírito, assim como Jesus expôs a Nicodemos. Até hoje, Israel e grande parte do mundo sofre, por não se dispor, assim como Nicodemos, a escolher uma noite da semana e ir ao encontro de Jesus em sua residência e ter um bate-papo com o mesmo, cara a cara.
Lute, amigo leitor desse texto, para ter a iniciativa de Nicodemos, indo ao encontro de Jesús, em busca da verdade real. Com certeza, um novo dia, claro e límpido, iluminará seu corpo, alma e espírito.
Obs.: A tradição cristã em alguns de seus escritos, nos diz que Nicodemos foi batizado por Pedro e João,destituído do Sinédrio, perseguido e martirizado. Não há provas contundentes quanto a isso, porém, esse era o preço naquela época que pagava um judeu de renome por abraçar a doutrina do Messias.
Elcio Nunes
Cidadão Brasileiro
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