Indiscutivelmente vivemos tempos conturbados. Atravessamos dias difíceis com o inexplicável crescimento das crises existenciais e conflitos interiores de toda ordem. O “inimigo invisível” tira a paz de muita gente.
A impressão que temos é que o mundo está doente e sedento por encontrar o lago que faz jorrar o sentido da existência humana. Por isso tantas igrejas e consultórios psicológicos lotados. Sem dúvida, a fé é a razão estão juntas nessa cruzada pela vida e busca da plena e repleta felicidade. Utopia?
Nestes tempos marcados por profundas transformações, principalmente com a modernidade e o advento da era tecnológica, semear o Evangelho sem deturpar a essência da mensagem transformadora, se tornou um desafio maior. O Evangelho é Boa Nova. É amor, perdão, paz, libertação e salvação.
Em tempos de extremismo e radicalismo, a mensagem do Homem de Nazaré que ao longo de mais de 2 mil anos de história ressoou nos corações de muita gente, e as fez mudar de vida, ligando a terra ao céu, tem sido mal interpretada.
Ao mergulharmos nas páginas dos quatro evangelhos canônicos, percebemos facilmente, mesmo aqueles avessos à religião, que a Boa Nova não surgiu para julgar, condenar, apontar os erros dos outros e, alimentar pregações que se transformam em lições de moral. Não. O Evangelho não é gritaria, agitação e julgamento. É suavidade, calmaria e brisa leve no meio das tempestades. Por isso, a essência do cristianismo deve ser o Amor. Assim viveu e ensinou o Cristo.
Sem dúvida, a mensagem da Boa Nova é um apelo à mudança de vida, à conversão e à felicidade, agora e na eternidade. Uma conversão diária que deve ser buscada do nascer ao pôr do sol. É lógico que não podemos esquecer que o Evangelho também tem as suas exigências. Valores inegociáveis. Não é não. Sim é sim. Sem relativismo. O que passa disso vem do maligno.
Só que nos últimos tempos, temos assistido a um radicalismo exacerbado e a um liberalismo desenfreado. Um dualismo intrigante. Neste paradoxo, os opostos se enfrentam e fazem guerra. E cada um quer gritar mais alto do que o outro.
De um lado, em um mundo marcado pela secularidade, os liberais pregam uma sociedade sem valores éticos e morais onde tudo é permitido. Para estes, é como se não houvessem leis, decretos, mandamentos e as normas que regem a sociedade. Tudo pode. E pecado é coisa do passado. Ultrapassado. Obsoleto. Aliás, o apóstolo Paulo já disse em uma de suas cartas. Tudo é permitido, mas nem tudo convém.
No extremo dos pensamentos, surgem os conservadores dos tempos modernos que chegaram forte no século 21 e apontando o dedo para todos os lados.
Um conservadorismo doentio que aflorou na religião, na política e na nova ordem mundial. Para os defensores dessa corrente, tudo é proibido. Tudo tá errado. Tudo é pecado. As pregações se tornaram verdadeiras lições de morais. Um radicalismo doentio que sepulta a lei do amor e faz brotar elementos que mais oprimem que liberta.
Com o avanço do conservadorismo, esses radicais, alguns beirando ao fanatismo, deixam transparecer que estão com a mente presa aos tempos medievais, um tempo sombrio da história de perseguições e mortes. Estes que se pudessem, trariam de volta os velhos castelos da Idade média, e a fogueira Santa para nela jogar os bruxos de hoje também conhecidos como “comunistas”.
Estaríamos enfrentando uma nova forma de “cruzadas, com muitas pessoas condenadas neste “tribunal ” a indiferença, a rejeição e as chamas ardentes do lugar que ninguém quer ir.
Na cabeça dessas pessoas, a intolerância reina. Apenas elas estão certas. Apenas a sua “religião salva”. E os outros que se “convertam” se não quiser ir tostar no fogo do “inferno”. Neste mundo conturbado e de conflitos, falta o amor ao próximo e a misericórdia que deveriam brotar de um coração sincero e verdadeiro de quem conhece a essência e o valor da vida.
Com forte apelo popular, esta mensagem de defesa da vida é dos valores da família, está umbilicalmente associada disfarçadamente a ideologias políticas e traduz a expansão do neoconservadorismo onde há muita hipocrisia de pessoas que pregam uma justiça sem amor.
Basta ver a onda que se espalhou pelo mundo afora com apoio das massas. As loucuras de alguns patéticos, insanos e caricatos líderes mundiais, são reflexos dessa nova onda de neoconservadorismo que se alastra pelo planeta, querendo trazer de volta, práticas que mais escravizam do que libertam.
Em toda sociedade e civilização, todo tipo de exagero, fanatismo e extremismo é tóxico e desvirtua a essência da mensagem de Jesus que há mais de 2 mil anos, tem transformado vidas. O extremismo e a intolerância geram conflitos, provocam guerras entre as nações e ameaçam a paz. É o que temos assistidos.
Acredito que bastaria uma frase simples, curta, mas profunda para resolver todos os problemas da humanidade, ou pelo menos, parte deles . “Amai-vos uns aos outros como eu vos amei”.
Severino Lopes