O Brasil é o país das contradições. Sabe vestir fantasias e fabricar ilusões. Todos dizem: A alegria está nas ruas! Mas, que alegria? O que estamos festejando?
Diariamente, milhares de crianças lotam as esquinas dos grandes centros urbanos, desfiguradas e sem fantasias, tentando sobreviver no país das ilusões. Os jovens, numa proporção dramática, estão sendo consumidos pela ilusão das drogas, vestindo a fantasia dos psicotrópicos e da cocaína. Os idosos, esses sim, são os que mais conhecem o gosto amargo da desilusão.
Assim, é o Brasil! A folia na rua, e a violência nas esquinas; o trio elétrico na avenida, e a solidão nos lares; as ruas ornamentadas, e a vida desfigurada pela desigualdade social; a harmonia na Escola de Samba, e os desencontros dentro de casa.
O Brasil é expert em fabricar ilusões. Se não vejamos: a polícia nas ruas, e a ilusão da segurança; escolas inauguradas, e a ilusão da educação; políticos no poder, e a ilusão da justiça social; a expansão imobiliária, e a ilusão de casa própria para todos; a previdência social, e a ilusão de uma velhice tranqüila; cultura religiosa, e a ilusão da espiritualidade; hospitais construídos, e a ilusão da saúde; a instalações de CPIs, e a ilusão da moralidade.
Ocorre que, a verdadeira alegria de um povo não cabe nas passarelas da ilusão; ela nasce no coração e na harmonia de uma vida plena de sentido. Ela não aparece ocasionalmente, como um produto das empresas de euforia; mas é como um rio perene, sobrevive no verão e transborda no inverno. É o barulho contagiante de um cálice transbordante. É a paz de um coração feliz. É o atestado da presença da felicidade.
A alegria verdadeira passeia pelos corredores da vida e faz da existência uma grande celebração. Ela é o reflexo de um interior cheio de beleza. Ela é tão bela em si mesma, que dispensa fantasias. A alegria de uma pessoa não pode depender da agenda dos carnavais, pois cada carnaval tem suas próprias fantasias e cria suas próprias ilusões.
Muito mais que folia de rua, precisamos “urgentemente” é de esperança, de lares restaurados, de jovens sem drogas, da paz vencendo a violência, do triunfo da felicidade sobre a ilusão.
Por isso mesmo, a felicidade não pode ser apenas de três dias. De tão grande, ela não cabe apenas nos corredores dos sambódromos; e de tão necessária, ela precisa desfilar por toda a existência.
Esta felicidade, que não é apenas coreográfica, é gerada em nós pela presença de Deus – fonte da verdadeira alegria. Quando nos vestimos com a sua beleza, a vida se enche de cores. Com Ele, a existência se torna uma grande festa – sem fantasias, sem ilusões. É uma alegria que transcende as circunstâncias, e que continua para além da 4ª feira, por todos os dias do ano.
(*) Estevam Fernandes de Oliveira, Pastor Sênior da 1a. Igreja Batista de João Pessoa, PB, conferencista internacional, é psicólogo, mestre e doutor em Ciências Sociais. Texto a ser publicado no Jornal Correio da Paraíba, edição de domingo, 11 de fevereiro de 2018 e divulgado entre amigos com autorização do autor.
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