O fértil terreno nordestino sempre serviu de inspiração. Para ele, escrever é um dom. Contar as coisas do Nordeste, em toda a sua essência, é uma missão. Seguindo os passos de grandes nomes da literatura regional, o escritor de Monteiro, no Agreste paraibano, Efigênio Moura, já figura entre os grandes autores da região. Com 15 livros lançados, “alma” de nordestino e uma vasta obra sobre a cultura regional, o escritor paraibano Efigênio Moura, recebeu esta semana, uma notícia que pode consagrar a sua carreira.
Neto do poeta alagoano Efigênio Teixeira de Moura, nascido em Pindoba, o escritor paraibano Efigênio Moura, tem como característica os cenários da região paraibana do Cariri, e utiliza também como marcante, a oralidade ainda persistente no interior do Brasil, resgatando costumes e tradições. Cada livro seu é acompanhado internamente por um glossário.
Efigênio é o único paraibano que está concorrendo à vaga na Academia Brasileira de Letras. A vaga aberta é da cadeira número 27, que tem como patrono o poeta Maciel Monteiro e recentemente era ocupada pelo poeta Antônio Cícero de Lima, que morreu em 23 de outubro, na Suíça. O espaço também já foi ocupado por Joaquim Nabuco, Dantas Barreto e Eduardo Portela.
Ao todo, a Academia Brasileira de Letras tem 15 candidatos inscritos para a eleição da Cadeira 27, que será realizada no dia 11 de dezembro. Os principais concorrentes a vaga aberta do Acadêmico Antonio Cicero, morto em outubro, são o escritor, cineasta e embaixador Edgard Telles Ribeiro e o jornalista e escritor Uelinton Farias Alves, conhecido como Tom Farias.
Após ter o nome confirmado como concorrente a se tornar “Imortal” da Academia Brasileira de Letras, Efigênio conversou com o PB Agora e e falou da emoção da indicação e da perspectiva de sentar na Cadeira 27 da ABL. Efigênio Moura já é membro da Academia de Letras de Campina Grande, ocupando a cadeira 18, cujo patrono é o escritor Salatiel Pimentel.
“Muito feliz com poder concorrer à vaga na Academia Brasileira de Letras. Acredito que é um sonho de todo escritor. Acredito muito no que o Nordeste escreve” afirmou.
José Efigênio Eloi Moura faz questão de transpor para a sua obra, a linguagem e os elementos típicos da cultura nordestina. A maior fonte de inspiração para Efigênio é o ambiente onde cresceu e viveu. Sua obra reflete as paisagens, as tradições e a simplicidade do interior, retratando a essência da cultura nordestina. Esse estilo é destaque em seu livro “Ciço de Luzia”, que foi escolhido em 2013 para compor a lista de leituras obrigatórias do vestibular da Universidade Estadual da Paraíba (UEPB). A obra chegou a ser traduzida para o inglês.
Com uma obra marcada pelo compromisso de dar voz ao interior nordestino, Efigênio Moura revisita em títulos como Eita Gota! e Ciço de Luzia as nuances da vida sertaneja e os costumes que definem o Cariri paraibano.
Efigênio Moura é conhecido por obras marcantes como “Eita Gota!” e “Ciço de Luzia”,Santana de Congo”,” Caderneta de Fiado”, “Apurado de Contos” , “Sertão de Bodocongó” “Carolino”, além da trilogia “Pedro Jeremias, uma obra que explora as realidades da vida sertaneja e os costumes do Cariri paraibano. Ele tem um compromisso forte em dar voz ao interior nordestino, colocando em evidências questões sociais, culturais e linguísticas que moldam a identidade da região.
Sua trilogia Pedro Jeremias, ambientada no universo do cangaço, é um exemplo claro de como o autor busca preservar as expressões e o imaginário populares em cada página.
Como reconhecimento a sua obra, Efigênio Moura já foi agraciado com a Medalha Augusto dos Anjos, concedida pela Assembleia Legislativa da Paraíba (ALPB)
O PB Agora mergulhou na obra do candidato a “Imortal” e detalhou aspectos de seus principais livros.
Eita Gota! ( uma viagem paraibana)
Situado na paisagem do Cariri paraibano, o livro narra a jornada de Das Neves, uma monteirense da Rua dos Pereiros, e seu neto em uma promessa feita à Basílica de Nossa Senhora das Neves ( João Pessoa/PB). Em sua subida pela ladeira da Borborema, enfrentam mais do que apenas uma subida íngreme. Após cumprirem sua promessa, retornam a Monteiro, um dos últimos recantos do Cariri paraibano, em uma velha Veraneio de 1973. Junto a figuras icônicas como Horácio, Flora, Quitéria e o motorista excêntrico, Seu Agripino, vivem uma viagem cheia de percalços.
Primeiro livrode Efigênio, a obra conta com três edições.
Este romance aborda o amor entre Ciço Romão, trabalhador incansável da Fazenda Macaxeira, e Luzia, filha do patrão. Ciço, honesto e humilde, apaixona-se por Luzia, jovem ingênua e amável. O enredo, situado nos anos 70, explora encontros e desencontros, ciúmes e provocações, trazendo ao leitor os sentimentos contraditórios e as peculiaridades linguísticas do Cariri e Sertão paraibano. Esta história é uma prova da paixão incontrolável e dos desafios enfrentados pelo casal em um contexto de diferenças sociais e rígidas normas familiares.
Santana do Congo
A obra conta a história de Késsy Jones, que em busca de seu pai, encontra-se em meio à festa de Santana, padroeira de Congo, na Paraíba. Em meio a promessas e tradições, Késsy é levado a uma caminhada de autodescoberta e amor ao conhecer Fatinha de Zé Triango. Nesta comédia romanceada com nuances do Nordeste, Efigênio Moura revela com graça as tradições e a magia das festividades regionais, onde fé, saudade e humor se entrelaçam na narrativa.
Caderneta de Fiado
Neste livro, o autor tece uma história de desilusões e buscas afetivas da protagonista, Zéfa, uma mulher forte e determinada que tenta encontrar o amor ideal. A história, situada entre Alagoas e o Cariri paraibano, revive as contas não pagas e os desejos de uma vida melhor. Em uma cidade antiga e repleta de memórias, Efigênio Moura mostra as dificuldades, conquistas e a nostalgia em Taperoá, onde as lembranças de um passado simples contrastam com os sonhos frustrados da protagonista.
Apurado de Contos
Nesta coleção de contos, Efigênio Moura continua explorando o Cariri paraibano, trazendo histórias que combinam humor e a realidade do cotidiano nordestino. Histórias como Sequestro em Coxixola e Dia de Jogo na Abadia cativam pela simplicidade e autenticidade, retratando o amor de um menino pelo Campinense Clube e seu apego ao futebol paraibano. O livro reflete a paixão do autor por sua terra natal e por esse esporte, abordando temas universais como amizade, rivalidade e identidade cultural com uma leveza característica.
Pedro Jeremias
No primeiro volume de sua trilogia, Efigênio Moura ambienta a narrativa no cangaço pós-Lampião, trazendo à vida o personagem fictício Pedro Jeremias, um cangaceiro que busca um novo destino após a morte de Virgulino. Decidido a encerrar sua carreira, Pedro atravessa o Nordeste para “botar as armas em riba da cova de Padre Cíço”.Com uma profunda pesquisa histórica, a obra aborda o primeiro campo de concentração do mundo em Fortaleza, Ceará, misturando fatos e ficção para criar uma narrativa de peso e relevância histórica.
Pedro Jeremias Dentro dos Cariris Velhos
Nesta continuação, Pedro Jeremias e seus “cabras” seguem pelo Sertão paraibano em uma busca implacável por vingança e justiça. Com uma trama repleta de encontros inesperados e uma perseguição contínua, o personagem principal é perseguido pela volante do Capitão Miguel Eugênio, que reúne os melhores homens para acabar de vez com o cangaço. Efigênio destaca os temas da política, do papel das mulheres no cangaço e do misticismo nordestino, abordando as complexidades sociais do período.
Pedro Jeremias nos Cariris Novos
Neste último livro da trilogia, Pedro Jeremias atravessa os Cariris e o sertão paraibano, chegando ao sul do Ceará, onde personagens históricos como Antônio Conselheiro e Padre Cícero ganham vida novamente. A obra mescla política, religião e violência, apresentando um desfecho que simboliza a luta, o sacrifício e as transformações na trajetória de Pedro Jeremias e de sua época. Efigênio Moura entrelaça ficção e realidade, oferecendo uma visão profunda e crítica da história e da cultura nordestina.
Siá Filiça
Inspirado na famosa música de Bira Marcolino e Fátima Marcolino, filhos do lendário Zé Marcolino, parceiro de Luiz Gonzaga, este livro celebra o São João rural de tempos passados. Desde as brincadeiras, como quebra-panelas, até as danças de quadrilha e os vestidos de chita, a narrativa revisita e reimagina a cultura nordestina.
Chã dos Umbuzeiros
Após uma enchente que isola a cidade de São Sebastião do Umbuzeiro, o autor explora as diversas facetas da vida sob o isolamento. Em um cenário onde o tradicional e o moderno se encontram, as histórias de um raizeiro, a herança a judaica no Nordeste, e o empoderamento feminino se desenrolam.
Sertão de Bodocongó
Mesclando aventuras e reflexões profundas, este livro examina os dilemas universais da vida, da morte e da busca pela sobrevivência. Através do realismo fantástico, Efigênio Moura convida os leitores a explorar as complexidades emocionais do ser humano, utilizando o personagem João Heleno para instigar discussões filosóficas em um cenário que ressoa com a experiência de todos.
Beijo de Pesatana
Ambientado na Campina Grande dos anos 70, “Beijo de Pestana” é uma crítica social envolvente. Em um contexto de urbanização desordenada, favelas e repressão, os personagens lutam para sobreviver e resistir aos desafios cotidianos.
A Currulepes
Voltado para o público infanto-juvenil, Currulepes narra as aventuras de José, que ao calçar um par de chinelos especiais é transportado para o Cariri paraibano. Junto com seus amigos, ele embarca em uma jornada para salvar a fauna, a flora e as tradições da caatinga.
Condado de Brevard
Neste livro, Efigênio Moura narra a experiência de viver no Condado de Brevard, Flórida, onde encontrou as histórias de imigrantes latinos em um novo mundo. Mesclando fatos reais com a fantasia, a obra revela a luta e a saudade de quem busca um futuro melhor. Através da ótica do autor, a narrativa destaca que, apesar das diferenças culturais e linguísticas, a solidão é um sentimento universal.
Carolino
Carolino retrata a vida e a simplicidade de um sertanejo que, através de sua trajetória, simboliza as lutas e a resiliência do povo nordestino.
Com vasta obra, Efigênio garante que caso eleito, vai trabalhar para fortalecer o espaço das vozes nordestinas na Academia, assegurando que o falar autêntico do povo continue ecoando nas letras brasileiras.
Severino Lopes
PB Agora
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