Categorias: Cultura

Zé do Norte é homenageado em disco da cantora paraibana Socorro Lira

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O nome de Zé do Norte é associado basicamente a duas músicas, Mulher rendeira (1) e Sodade, meu bem sodade. E mesmo assim por pessoas que tenham relativa informação musical. A maioria desconhece esse cantor, compositor, poeta, folclorista e escritor, nascido em 1908 em Cajazeiras, na Paraíba, e autor de obra musical fascinante, recuperada, em parte, com o lançamento do CD Lua bonita, da cantora e compositora Socorro Lira. São apenas 12 músicas, escolhidas entre mais de 100 assinadas pelo compositor, mas suficientes para dar ideia do poder criativo do artista, que atuou como consultor do linguajar nortista no filme O cangaceiro (1953), de Lima Barreto, além de contribuir com Mulher rendeira para a trilha sonora.

A própria Socorro, paraibana como Zé, só veio conhecer melhor a obra do compositor quando se mudou para São Paulo, em 2004. “Na época, comecei a frequentar o acervo de música brasileira do escritor e jornalista Assis Ângelo. Assis me apresentou tudo o que tinha de Zé do Norte — que na verdade se chamava Alfredo Ricardo do Nascimento — e, de repente, percebi que gostava da dinâmica que tem os discos dele… Ritmos diferentes, temas diversos, uma amplitude excepcional”, lembra a cantora, que procurou trazer no repertório do disco coisas mais próximas da memória do público. “Nos concertos que temos feito, é puxar Mulher rendeira ou Sodade, meu bem, sodade que a plateia vem junto.”

Humildade
O projeto de Socorro não teve dificuldades em encontrar adesões. Para participar do disco, ela convidou Geraldo Azevedo (que já havia gravado Meu pião). O pernambucano não só aceitou como sugeriu que ela convidasse Elba Ramalho e Vanja Orico, a atriz que celebrizou Mulher rendeira ao cantá-la em O cangaceiro. “Assis Ângelo conseguiu o contato dela. Telefonei e fui muito bem recebida. Confesso que fiquei sem graça ao conduzir em estúdio, de certo modo, aquela artista tão experiente, dirigida no cinema por Fellini (Vanja atuou em Mulheres e luzes) e Lima Barreto. Mas a prosa foi por outro lado. Na verdade, eu só sugeria alguns caminhos a uma pessoa humilde, madura e generosa, dessas que aprendem sempre, até com os mais jovens”.

Com Socorro, Vanja cantou Sodade, meu bem, sodade; Elba, Flor do campo, e Geraldo, Lua bonita. O resultado desses encontros, e do disco como um todo, é de beleza rara e comovente. As recriações da artista paraibana — a começar pela versão lenta e pungente da célebre Mulher rendeira — demonstram que, em sua simplicidade, as canções de Zé Norte guardam uma atemporalidade e uma universalidade que contradizem o que Socorro ouviu do próprio compositor contar em uma entrevista de arquivo: “Perguntaram a Zé se Luiz Gonzaga teria gravado música sua. Ele respondeu que não. E disse mais, que tinha oferecido suas canções a muita gente que, em geral, respondiam que essas músicas serviam para ele mesmo cantar, coisa assim regional demais, demasiadamente nordestina.”

1 – Preconceitos
Mulher rendeira, composta por Zé do Norte a partir de motivo atribuído a Virgulino Ferreira, o Lampião, ficou mundialmente conhecida — e projetou o nome do autor — ao ser tocada no filme O cangaceiro (premiado em Cannes). Depois dela, somente Sodade, meu bem, sodade é tão lembrada. Foi gravada por Nana Caymmi, Maria Bethânia, Joan Baez e teve trechos incluídos por Caetano Veloso em It’s a long way, do disco Transa (1972). Outras gravações conhecidas do autor foram as de Meu pião, feitas por Geraldo Azevedo e Astrud Gilberto. Inusitado, contudo, é saber que Raul Seixas incluiu uma versão de Lua bonita no disco A pedra do Gênesis (1988). Para Socorro Lira, o descaso com a obra do compositor, morto em 1979, tem a ver com “preconceitos, pouco discernimento acerca do que tem valor artístico ou não; e o desprezo da Paraíba oficial, que deveria promover seus valores culturais”.

ENTRE XOTES E MAXIXES
Zé do Norte (foto) não era, de fato, um cantor de olhar estreito. Ele, que nos anos 1940 chegou ao Rio de Janeiro e fez carreira no rádio, atuando em emissoras como Tupi, Tamoio e Fluminense, compôs xotes, maxixes, cocos, choros e carimbós. Em suas letras, conseguiu ser lírico (Flor do campo, Lua bonita) brejeiro (Meu pião, Balança a rede, Sapato de algodão), tratar de temas afro (Rainha de tamba, No reino de Iemanjá)… “Gosto justamente dessa perspectiva de Brasil e de mundo que tinha Zé do Norte. Ele estava antenado com outros espaços. Já no final da década de 1930, cantava e levava para o rádio essas coisas de caipira, de matuto, do interior do Brasil, e até foi incompreendido por isso… O que tentamos fazer hoje, por percebermos que a sabedoria popular é um importante caminho para salvar a humanidade de si mesma, ele já fazia há muito tempo”.

Correio Braziliense

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