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A geopolítica do coronavírus: especialistas da Paraíba analisam consequências da crise

A declaração de pandemia feita pela Organização Mundial da Saúde oficializa a entrada na terceira grande crise do pós-Guerra Fria, depois do 11 de Setembro e do colapso financeiro de 2008-2009. Estes dois momentos, com epicentro nos EUA, podem ser vistos como resposta à sua espargata militar triunfalista dos anos 1990 e à vertigem desregulatória do seu modelo financeiro. Ambos tiveram efeitos globais tremendos com repercussões que ainda hoje se sentem. Para analisar esse cenário pesquisadores do curso de Relações Internacionais da Universidade Estadual da Paraíba (UEPB), analisam os efeitos do coronavírus sob uma perspectiva geopolítica.

Ao ver o cenário mundial basta lembrar a crescente securitização das democracias, a agressividade contra imigrantes, o custo humano, geoestratégico e financeiro das longas guerras do grande Médio Oriente, o fosso social entre a pequena fatia que mais tem e a multidão que menos possui, a descredibilização das instituições, o alastramento do vírus nacionalista, o bullying ao multilateralismo, a desvalorização da ciência.

Para além das consequências na saúde global, o “evento coronavírus”, segundo os especialistas apontam para a necessidade de transformações na organização política e econômica mundial. “O que está acontecendo reforça a necessidade de uma revisão das instituições internacionais. E essa crise de saúde internacional reforça a necessidade de se ter essas instituições fortalecidas”, diz Henrique Altemani, que foi coordenador adjunto do Mestrado em Relações Internacionais da UEPB e atualmente é pesquisador na Universidade de Brasília (UnB). Ele se refere à atuação da Organização Mundial da Saúde, como instituição internacional técnica e a forma como os países aplicam essas recomendações. “Há a necessidade de uma cooperação global muitas vezes prejudicada por decisões políticas.”

Já a coordenadora do Curso de Graduação em Relações Internacionais da UEPB, Raquel Melo, salienta que a cooperação internacional é uma necessidade básica para os países se relacionarem. “Num surto pandêmico, especialistas precisam dar uma orientação global sobre o que fazer. A Organização Mundial da Saúde uniformiza as informações a partir de um conhecimento técnico científico. O problema é que nenhuma decisão técnica é considerada sem a política exercida nos países. Os estados não abrem mão de suas vontades soberanas de fazer da forma como eles entendem. No Brasil vimos o líder do país reagindo de forma descompromissada diante de uma doença seriamente contagiosa. Mesmo estando em suspeita de contaminação, ele saiu a apertar as mãos de pessoas. Uma atitude baseada meramente em aspectos ideológicos, sem considerar os técnicos”, afirmou.

Redação

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