O preço diferente dos combustíveis tem feito motoristas do sul de Minas atravessar a divisa de Estados e abastecer em São Paulo, economizando quase R$ 0,50 por litro.
O peso dos impostos é a principal causa dessa debandada de terras mineiras para território paulista na hora de encher o tanque.
O ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços) cobrado na gasolina é de 27% em MG e 25% em SP. No álcool, 19% em MG e 12% em SP. No diesel, é de 15% em MG e 12% em SP.
Ao trocar de município e Estado, de Poços de Caldas (MG) para Divinolândia (SP), o motorista percorre 15 km. Num carro que faz essa distância por litro, são gastos dois litros para ir e voltar, e mesmo assim tem compensado.
Logo após a divisa, o preço da gasolina cai de até R$ 3,15, em Minas, para R$ 2,69. No caso do diesel, de R$ 2,71 para R$ 2,37.
Marcelo Rodrigues não gasta na cidade onde mora. Vai até Divinolândia duas vezes por mês. Economiza R$ 20 a cada ida. "Faço isso há muito tempo. Parece pouco, mas são R$ 40 por mês de economia", ressaltou.
A pesquisa semanal da Agência Nacional do Petróleo confirma a disparidade. Realizada em 555 municípios e atualizada toda sexta-feira, mostra que em Poços, na semana passada, o preço médio da gasolina era de R$ 3,00; álcool, R$ 2,22; diesel, R$ 2,51.
Já em São João da Boa Vista (SP), cidade mais próxima onde a ANP faz a coleta de preços, os valores médios eram, respectivamente, R$ 2,78, R$ 1,80 e R$ 2,41.
Analisando detalhadamente, nota-se, por exemplo, que o preço mais baixo do álcool na cidade mineira (R$ 1,98) é praticamente o mesmo do litro mais caro do mesmo combustível no município de São Paulo (R$ 1,99), segundo a ANP.
"Dois ou três centavos fazem diferença. E dá até 15 centavos a menos por litro", diz o taxista Adalcir Tavares. Ele afirma que abastece em cidades paulistas uma vez por semana, frequência com que faz viagens.
Imposto é responsável, dizem donos de postos
Para o Minaspetro, sindicato dos revendedores de combustíveis em Minas Gerais, não há como competir com São Paulo por causa dos impostos diferentes.
"É uma concorrência legal, porque está na lei, mas essa diferença de impostos chega a ser desleal porque não é benéfica para ninguém", diz o presidente da entidade, Carlos Guimarães.
Segundo ele, no caso do diesel, vários postos nas divisas estão fechando. A tributação encarece o litro em Minas, em média, em R$ 0,10. "Num caminhão com 600 litros, o tanque fica R$ 60 mais barato. Quem passa por Minas abastece em São Paulo."
Do lado paulista, o presidente do Sincopetro, José Alberto Paiva Gouveia, diz que apesar de os postos em São Paulo lucrarem, deveria haver uma tributação única para os combustíveis no país. "É uma briga de estados, ruim para todo mundo."
A concorrência apresenta acusações dos dois lados. "Muita gente que atravessou a divisa voltou com problemas no motor por causa da gasolina de lá", disse um dono de posto em Poços de Caldas, sem querer ter o nome revelado.
Nas cidades paulistas vizinhas, o argumento é o lucro. "Em Poços, a margem deles é muito mais alta. A gente ganha no volume", afirmou o proprietário paulista que não quis se identificar. Ele também disse que a última fiscalização não flagrou nenhum problema no produto que vende.
UOL
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