Os investimentos brasileiros no Chile registram entre 1974 e 2008 um estoque acumulado de US$ 426,2 milhões, mas atualizado este valor somaria pelo menos US$ 2 bilhões, segundo o Comitê de Investimentos Estrangeiros do governo chileno.
Este salto foi registrado, principalmente, após a Petrobras comprar os 240 postos de distribuição de gasolina da ESSO no país, além da aquisição da Chevron, a partir da qual produzirá o óleo Lubrax.
Em entrevista, o embaixador do Brasil em Santiago, Mario Vilalva, disse que estes dados foram possíveis e "tendem a crescer", porque o Chile é visto como território com "segurança política, econômica e jurídica" para os investidores.
O Chile, lembrou Vilalva, foi o primeiro país da região a contar com o grau de investimento, passando a oferecer, por exemplo, créditos com taxas de juros baixas aos investidores – inclusive estrangeiros.
Foi também o primeiro da América do Sul a entrar para a OCDE (sigla da Organização de Cooperação para o Desenvolvimento Econômico), um grupo de países desenvolvidos, após adaptar uma série de leis às exigencias do organismo.
Acordos de livre comércio
País com cerca de 16 milhões de habitantes (a população brasileira é 12 vezes maior), o Chile, recordou o embaixador, conta com maior número de acordos de livre comércio no planeta. Segundo dados oficiais, são 21 entendimentos com 56 países e grupos de países, incluindo China, Japão, Estados Unidos e União Européia, entre outros.
"Apesar do seu tamanho, o Chile é atraente para o investidor brasileiro porque se ele montar uma fábrica de sapatos aqui e trazendo partes dos insumos do Brasil sabe que poderá exportar com a marca chilena para várias partes do mundo", disse Vilalva.
O senador eleito Ricardo Lagos Weber, da frente governista Concertación, negociou os acordos com a China e Estados Unidos, e disse à BBCBrasil que a opção de economia aberta do Chile já faz parte do perfil do país.
"O Chile é, obviamente, um país da América Latina, mas que optou por uma relação comercial aberta com o mundo", disse. Segundo ele, que foi ministro no atual governo de Michelle Bachelet, começou a ser "notória" essa maior presença de investimentos brasileiros no Chile.
Energia
O país andino, às margens do Pacífico, já foi dependente do gás enviado pela Argentina, que há um ano passou a ter problemas de abastecimento e deixou o vizinho sob ameaça de apagões. Desde então, o Chile importa energia de Trinidad Tobago, no Caribe, e discute alternativas para resolver a escassez de energia, recordou Vilalva.
"O Chile deve construir uma nova matriz energética e aí também podem ser realizados investimentos brasileiros", disse. Atualmente, além da Petrobras, figuram entre os investidores do Brasil no Chile, a siderúrgica Gerdau, os bancos Itaú e do Brasil, e a EBX.
Na mão inversa, o Chile é hoje o maior investidor da América Latina no Brasil, com cerca de US$ 8 bilhões, de acordo com Câmara de Comércio de Santiago. Ou seja, quase quatro vezes mais do que o Brasil tem investidos no Chile.
Caminho escolhido
Analistas chilenos observam que o "clima de negócios" não foi afetado pela campanha eleitoral, já que os presidenciáveis – o ex-presidente Eduardo Frei, da Concertación, e Sebastián Piñera, da Coalición para el Cambio ("Frente para a Mudança", numa tradução livre) – sequer discutiram se vale a pena ou não continuar com a atual política econômica.
"Esse assunto está resolvido no Chile, foi um caminho que escolhemos e ninguém pensa em revê-lo", disse o analista político Ricardo Israel, da Universidade Autônoma. Nos últimos anos, segundo dados do governo chileno, o país é o terceiro, depois do Brasil e do México, a receber investimentos estrangeiros.
Até 2008, em 34 anos o Chile já tinha atraído investimentos de cerca de US$ 70 bilhões. Em 2009, a cifra foi de aproximadamente US$ 6 bilhões, e entre os principais investidores estiveram Estados Unidos, Austrália e Peru, nas áreas de serviços e minério, sobretudo.
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