O algodão colorido de Campina Grande, na Paraíba, também chamado de “algodão ecologicamente correto”, ganha o mundo e, depois de mais de dez anos de investimentos, chega ao mercado internacional. O tecido é um produto sustentável, com apelo ético e responsabilidade socioambiental. Agora, tem muita gente ganhando dinheiro com o algodão colorido.
A matéria-prima cresce nos campos do sertão paraibano. Nas tonalidades marrom, rubi, verde e o branco tradicional. Ao todo, 152 produtores rurais colhem seis toneladas por ano. Os agricultores aprenderam a manter plantações orgânicas e foram certificados. Eles são capacitados pelo Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) no projeto Algodão naturalmente colorido.
“A gente vem só capacitando, com consultoria, acesso à feira, com missão técnica, área de gestão, franquia, oficinas gerenciais, até toda a cadeia. Não só a cooperativa, mas toda a cadeia”, explica Jeanne Darc Nóbrega Quinho, do Sebrae de Campina Grande.
O Sebrae ajuda na negociação entre os agricultores e a Coopnatural, a cooperativa de produção têxtil da Paraíba, que compra todo o algodão. O material passa por dois processos: a fiação e a tecelagem. Depois, é levado à sede da cooperativa. “A gente corta as peças e manda para as pequenas empresas que pertencem aos cooperados”, diz Maysa Gadelha, presidente da
Coopnatural.
As empresas transformam o algodão colorido orgânico em roupas e acessórios. As sobras do tecido são transformadas em bonecas. Tudo sem agredir o meio ambiente. “É um produto ético, um produto que respeita as pessoas e respeita o meio ambiente. Na verdade, um produto chique”, afirma Maysa.
Uma das cooperadas é Socorro Sobreira, dona de uma confecção de roupas infantis. A empresária trabalha com moda há 22 anos. O algodão colorido mudou o negócio. “A gente tem conseguido alcançar cada vez mais clientes, pessoas interessadas, que geralmente se encantam com o produto. A gente ouve muito o cliente, está sempre pedindo a eles que nos dê retorno”, diz.
Uma pesquisa informal mostra que a empresa está no caminho certo. O faturamento aumenta 10% ao ano. Dezesseis funcionários produzem de 3 mil a 5 mil peças por mês. Cada coleção tem 50 modelos diferentes. A idéia é atrair o interesse das crianças para as roupas de algodão colorido. “Eu tenho que criar alguma coisa que desperte a atenção delas. A gente vende roupa para crianças, não vende para adultos. Consciência não se desperta na criança, então tem que haver interatividade”, afirma Socorro.
As crianças podem brincar com as roupas. Em um modelo de camiseta, o capuz preso por botões vira uma bolsa. Um macaquinho vem com um mordedor para os bebês. São essas inovações que conquistam a clientela.
A estratégia fez a confecção conquistar clientes pelo mundo. As roupas são exportadas para Alemanha, Itália e Austrália. E também são vendidas em 40 lojas de vários estados brasileiros. A empresa vai mais longe justamente quando aposta na cultura regional. “A gente está valorizando o lugar da onde a gente vem, a gente está criando autoestima”, comenta Socorro.
Maysa Gadelha participa de feiras no exterior e já garantiu clientes em 11 países. Ela também leva as roupas de algodão colorida para eventos no Brasil inteiro. Em uma feira em São Paulo, os produtos fizeram muito sucesso. “O toque do tecido é diferente, o cheiro é diferente”, diz Josbel Borges, cliente.
“Feira é sempre uma vitrine muito importante para a gente ter tempo, durante uma venda, de explicar o nosso conceito e a nossa filosofia de trabalho”, diz Maysa.
O algodão colorido da Paraíba busca agora o selo de indicação geográfica. O certificado garante a procedência de um produto e a maneira como ele é feito. O processo já está no Instituto Nacional de Propriedade Industrial. O selo costuma impulsionar as vendas. “Conforme a pesquisa que a gente fez, já aponta que o consumidor está disposto a comprar e pagar mais caro por um produto com o selo”, diz Jeanne, do Sebrae.
G1