O dólar opera em alta nesta quinta-feira (20), batendo a máxima recorde de R$ 4,39, em meio à força da moeda norte-americana no exterior e à falta de perspectivas mais positivas para o real e a atividade econômica no cenário doméstico.
Às 11h55, a moeda norte-americana era vendida a R$ 4,3813, em alta de 0,40%. Na maior cotação até o momento, chegou a R$ 4,3918 – renovando maior cotação intradia já registrada. A máxima até então tinha sido atingida no dia 13 de fevereiro (R$ 4,3830). Veja mais cotações.
Já o dólar turismo era negociado a R$ 4,5861, sem considerar a cobrança de IOF.
Na quarta, o dólar subiu 0,19%, para R$ 4,3650, renovando sua máxima de fechamento um dia após o presidente do Banco Central dizer que está tranquilo em relação ao câmbio e com os investidores atentos ao noticiário do coronavírus.
Na parcial do mês, o dólar acumulou até o fechamento da véspera alta de 1,87%. No ano, o avanço chega a 8,86%.
“É mais do mesmo”, disse À Reuters Italo Abucater, gerente de câmbio da Tullett Prebon, sobre o movimento desta sessão. “Já vinha um processo de apreciação da moeda (norte-americana) no cenário global. O internacional está todo ruim, e o real pode ter uns solavancos distorcidos um dia ou outro, trabalhando em linha com o exterior.”
Segundo Abucater, o cenário doméstico também colaborava para a alta do dólar, com a falta de perspectiva de fluxo, o atraso das reformas econômicas e os juros baixos no Brasil reduzindo a atratividade do real.
“Não temos juros, então não tem prêmio para os investidores. O Banco Central fala de encerramento de ciclo (no corte de juros), mas a atividade indica que será necessário mais um corte, e isso vai afetar dólar”, acrescentou.
No exterior, o novo coronavírus da China seguia sendo o principal ponto de atenção dos operadores e investidores, que — apesar da queda nas novas infecções nesta quinta-feira — reagiam à notícia de que cientistas alertaram que o patógeno pode se espalhar mais facilmente do que se pensava, agravando os temores sobre o impacto econômico da doença e gerando aversão a risco.
Guedes reitera que novo normal do câmbio é ser mais desvalorizado
O ministro da Economia, Paulo Guedes, reiterou nesta quinta-feira a avaliação de que o patamar do dólar deve ser mais alto, e afirmou que a economia passará a crescer 2% com as reformas, destaca a Reuters.
Guedes minimizou riscos advindos da “turbulência internacional” e considerou que o Brasil vai “decolar” enquanto o mundo está enfraquecendo e a América Latina está “estagnada”.
Em cerimônia de lançamento do Crédito Imobiliário com taxa fixa – xom presença do presidente Jair Bolsonaro e do presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto -, Guedes disse ainda que o crédito está chegando às camadas mais simples da população.
O que explica as altas recentes
Além das preocupações sobre o impacto do coronavírus na economia global, o dólar mais valorizado nas últimas semanas também tem refletido os juros em mínimas históricas no Brasil e as perspectivas sobre o ritmo de crescimento da economia brasileira e andamento das reformas.
Diversas instituições financeiras têm revisado para baixo suas perspectivas para o crescimento econômico em 2020 na esteira da disseminação do novo coronavírus e da percepção de uma lentidão um pouco maior que o esperado no ritmo de crescimento neste início de ano.
O mercado brasileiro reduziu para 2,23% a previsão a alta do PIB em 2020, segundo pesquisa Focus divulgada na segunda-feira, mas diversos bancos e consultorias já estimam um crescimento de, no máximo, 2%.
A redução sucessiva da Selic desde julho de 2019 também contribui para uma maior desvalorização do real ante o dólar. Isso porque diminuiu ainda mais o diferencial de juros entre Brasil e outros pares emergentes, o que pode tornar o investimento no país menos atrativo para estrangeiros e gerar um fluxo de saída de dólar.
G1