A invasão da Ucrânia por tropas russas pode produzir impactos econômicos a mais de 10 mil quilômetros de distância. O Brasil pode sentir os efeitos do conflito por meio de pelo menos três canais: combustíveis, alimentos e câmbio. Essa era a previsão de muitos especialistas ainda me março no início do conflito, algo que se confirmou segundo os economistas Deborah Bizarria, Cleantoni Medeiros e Daniel Karp que também explicam como a alta do preço do diesel e como ela afeta a economia.
“Sem dúvida (pagamos o preço da guerra). Toda vez que a gente tem um país autocrático, como é o caso da Rússia e outros produtores de petróleo, que querem se aventurar numa guerra, isso vai gerar instabilidade no mundo como um todo, gera aumento no preço do barril do petróleo e, consequentemente, quando esse preço bate aqui no Brasil, é bom para a Petrobras, se ela repassar o preço ao consumidor. Se ela não fizer isso, começa a ter prejuízo, começa a deixar de ter os lucros que poderia ter”, Deborah Bizarria, onde destaca ainda que, outra consequência pode ser gerada se a Petrobras não repassar o preço ao consumidor. “As refinarias brasileiras não conseguem dar conta do volume que a gente consume de gasolina e diesel no Brasil. Então, a gente precisa de outras empresas importando esse petróleo. Mas, se a Petrobras fica com esse preço abaixo do valor de mercado, esses outros importadores não conseguem competir e isso gera escassez de gasolina, o que pressiona ainda o mais o preço para cima, gera um ciclo vicioso difícil de manter por muito tempo”, comentou.
Atualmente o preço médio do litro do óleo diesel disparou em postos na Paraíba e superou o da gasolina em R$ 0,39. Levantamento realizado na semana de 19 a 25 de junho pela Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) indica que o litro do diesel custa uma média de R$ 7,62, chegando a R$ 8,51, em Patos. No último dia 18, a Petrobras reajustou em 14,26%, o preço do diesel para as distribuidoras e em 5,18%, o da gasolina. O reflexo deverá ser sentido na inflação do mês de junho, não só na atividade de transportes, mas em toda cadeia produtiva.
Para Cleantoni Medeiros, o aumento do custo do óleo diesel onera os alimentos duplamente. “O diesel é essencial para a logística do transporte de mercadorias, provocando impactos no custo do frete de todos os produtos que consumimos, os quais são repassados pelos comerciantes ao consumidor final. Contudo, o combustível também é utilizado nas máquinas agrícolas, aumentou também o custo de produção dos alimentos”. O economista opina que a inflação continuará seguindo a tendência de alta. Ele destaca que a política econômica para conter a inflação com o aumento da Taxa Selic, que influencia as taxas de juros e está em 13,25%, não está funcionando. “Considerando a alta demanda por combustível e que não há a mesma capacidade de oferta, os preços devem permanecer altos”, afirmou.
Assim também pensa o economista Daniel Karp, onde lembra que a gasolina tem peso de 6,8% no índice oficial de inflação e diz ver risco de novos aumentos no curto prazo, “uma vez que diferentes métricas apontam defasagem de 13% até 50% em relação aos preços internacionais. O aumento de 5,2% da gasolina tem um impacto direto de 0,1603 p.p. no IPCA, enquanto o aumento de 14,2% no diesel tem um impacto direto de 0,0256 p.p. no IPCA, totalizando 0,1859 p.p.”, no geral.
Da Redação