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Ex-vice-presidente do Lehman Brothers conta bastidores de falência em livro

Para o ex-vice presidente do Lehman Brothers Lawrence McDonald, a quebra do banco de 158 anos, que deixou cerca de 25 mil desempregados em 15 de setembro do ano passado, poderia ter sido evitada.

 

 

Segundo ele, os problemas se agravaram por uma combinação de conflitos políticos e decisões erradas tomadas pelo ex-presidente do banco Richard Fuld, apontado por ele e por outros funcionários como o principal responsável pelo declínio da instituição financeira.

“O Lehman foi executado. Eles [o governo dos EUA] colocaram a cabeça do banco sob a água e ficaram observando as bolhas”, afirma o executivo que, desde que saiu do banco no ano passado, dedica-se a contar sua versão dos fatos que culminaram na falência do quarto maior banco dos EUA.

Em parceria com Patrick Robinson, o livro “A Colossal Failure of Common Sense”, que será lançado no Brasil em janeiro pela Editora Record. Além de divulgar o livro, McDonald trabalha atualmente como palestrante e é proprietário da empresa de investimentos Pangea Capital Management.

O pedido de concordata anunciado pela instituição sediada em Nova York, cidade em que McDonald mora até hoje, ficou marcada como o símbolo do início do agravamento da crise que derrubou os mercados em todo o mundo e levou as principais economias a um período de forte recessão.

Para McDonald, que trabalhou na instituição de 2004 a 2008, a situação financeira do Lehman era parecida com a de outras empresas que chegaram perto do colapso, mas receberam ajuda do governo norte-americano, como foi o caso do Bear Stearns (que foi comprado pelo gigante norte-americano JPMorgan , com ajuda do Banco central dos EUA) e a seguradora AIG.

“O Lehman fez um monte de coisas estúpidas, mas a AIG fez ainda mais coisas estúpidas”, afirmou o executivo em entrevista que concedeu ao G1, por telefone, de Nova York.

O senhor afirma que a quebra do Lehman Brothers poderia ter sido evitada. Como?
Muitas pessoas alertaram Richard Fuld várias sobre o perigo de se investir no subprime [empréstimos hipotecários de alto risco]. Pessoas que eu conheço muito bem e respeito, que conheciam o mercado, tentaram avisar e foram esmagadas como uvas, afastadas do banco. O que aconteceu no Lehman Brothers é similar ao que aconteceu em Wall Street. […] Quem ficou no comando eram pessoas políticas, que não eram do mercado financeiro do século 21. Eu mesmo fiz parte de grupo que foi afastado em março de 2008. No Lehman, eu negociava títulos de empresas que estavam com problemas financeiros e ficava no andar de operações, que é onde fica o “fogo cruzado” do mercado. Richard Fuld, nunca, em todos os anos em que eu trabalhei lá, uma vez sequer apareceu nesse andar. [Fuld, em entrevista à Reuters, classificou o livro de "absolutamente difamatório"]

O senhor diz também que o governo poderia ter salvado o Lehman Brothers, mas preferiu deixá-lo quebrar. Por quê?
São muitos os motivos. Um deles é que Paulson sabia que pessoas muito respeitadas por ele tinham avisado sobre o risco do subprime e tinham sido ignoradas por Fuld, desde 2006. Diante disso, Paulson adotou uma atitude na linha "Fuld preparou sua cama, agora precisa dormir nela". Outra coisa era que Henry Paulson estava irritado porque, depois que o governo ajudou o Bear Stearns, Richard Fuld ainda continuava assumindo riscos e investindo em "hedge funds", ele não levou a sério. E o governo também acreditava que, no auge das dificuldades, Fuld não estava se esforçando o suficiente para tentar vender o banco, talvez prevendo que o governo fosse ajudar de alguma forma.

O Lehman poderia ter sido incluso no pacote de ajuda aos bancos concedido pelo governo, na sua opinião?
O programa de ajuda ao governo às instituições com problemas era como um desfribilador em um momento em que todo o sistema bancário estava tendo um ataque cardíaco: Bank of América, Wachovia, Merryl Linch, todos estavam em uma situação horrível e precisando de reanimação. Era isso o que o programa representava, e o governo precisava da falência do Lehman para pressionar para que ele fosse aprovado pelo Congresso. Eles pensaram que isso assustaria os políticos em Washington.

 

O senhor entrevistou muitos ex-funcionários do banco para escrever o seu livro. O que mais lhe marcou nos depoimentos sobre a falência do Lehman?
Falei com 150 funcionários e 45 diretores e gerentes de alto escalão. As pessoas sentiram que o banco foi assassinado, ficaram extremamente preocupadas, emocionalmente devastadas e também com raiva. Metade das pessoas que foram demitidas ainda não está trabalhando.

Em sua opinião, uma regulação diferente poderia ter evitado o que aconteceu?
O Lehman tornou-se terminam e acabou morrendo porque era uma monarquia. A Securities and Exchange Comission [SEC, a Comissão de Valores Mobiliários americana] permitiu que Richard Fuld fosse um monarca, um rei. Ele era presidente do conselho e presidente do banco. Tinha um incrível poder tanto sobre o conselho quanto no comitê executivo.

O que o senhor acha do rumo das discussões sobre mudanças na regulação do mercado financeiro que tem sido feitas pelo governo?
Acho que o foco está errado. Você não precisa de mais regulação, só precisa de regulação mais efetiva. Há centenas e milhares pessoas que eram reguladores que não estavam fazendo seus trabalhos. A SEC precisa de mais bônus lá, como remédio de prevenção. Do jeito que funciona agora, as pessoas que trabalham lá ganham US$ 150 mil, enquanto as pessoas de Wall Street ganham US$ 4 milhões. Não é uma comparação justa. Em vez de focar de imediato em diminuir os bônus em Wall Street, deveria se focar em aumentar os bônus da SEC. Então, por exemplo, se alguém da SEC desmascarasse o próximo Bernard Madoff, ganharia um bônus de US$ 5 milhões.

 

G1

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