O crescimento do mercado de crédito proporcionou um aumento recorde na venda de veículos novos em 2010. Mês após mês o setor bateu recordes sucessivos, já superando o patamar antes da crise financeira mundial, no final de 2009, graças também a medidas do governo, como a redução do IPI (Imposto sobre Produto Industrializado).
Pesquisa recente realizada pelo Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), com base na Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio) do ano passado, mostrou que quase metade da população brasileira possui carro ou moto na garagem. Isso significa que um contingente de quase 100 milhões de brasileiros conseguiu comprar um veículo.
São pessoas como Conceição dos Santos, que conseguiu trocar o carro velho – adquirido por meio de um consórcio – por um zero quilômetro. Moradora do Grajaú (zona sul da capital), ela comemorou a aquisição do veículo feita por meio de um empréstimo.
– Meu marido usa o carro para trabalhar, já que ele faz entregas porta a porta. Além disso, ele consegue me buscar na empresa e a nossa família se sente mais segura de viajar, já que o carro novo não tem problemas.
Dados da Anfavea (associação que representa as montadoras) aponta que a venda de veículos neste ano já chega a 3,36 milhões, superando o total comercializado no ano passado, de 3,13 milhões de unidades. Parte desse resultado foi o crescimento do financiamento, segundo explica Décio Carbonari de Almeida, presidente da Anef (Associação Nacional das Empresas Financeiras das Montadoras).
– A indústria [de veículos] foi muito bem e, para vender, o financiamento foi essencial, já que quanto menor a renda, maior a necessidade do empréstimo. O que nós vimos foi uma troca do seminovo pelo veículo zero, já que o valor das prestações é quase o mesmo.
Segundo Décio, a modalidade do leasing deu lugar para o CDC (Crédito direto ao Consumidor) na preferência dos compradores. O motivo é o valor da parcela e também a diminuição da burocracia, já que no leasing o carro fica em nome do banco – o que acarreta em despesas pelo proprietário que precisa gastar com documentação.
A economia aquecida e o crédito chegando a quase metade do PIB (soma das riquezas produzidas no país, o Produto Interno Bruto) fez com que o governo adotasse medidas para conter a expansão desenfreada. Para isso, o Banco Central retirou do mercado R$ 61 bilhões no final de 2010 para forçar os bancos a diminuírem a oferta de empréstimos e, por consequência, segurar a inflação – que já chega a 5,63%.
Para Sérgio Reze, presidente da Fenabrave (Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores), o mercado ainda não teve abalo por causa das medidas.
– O setor está dentro da normalidade, a economia está indo bem e a tendência é que continue assim em 2010. Foi fundamental a entrada da classe C na venda de veículos mais populares, assim como no mercado de seminovos.
Apesar do otimismo do setor, há quem diga que os bancos devem dificultar os empréstimos no próximo ano, o que provocaria também uma freada na indústria automobilística. Especialistas da Anefac (Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade) afirmam que os bancos devem reduzir os prazos dos empréstimos e exigir entradas maiores nos financiamentos no próximo ano.
R7