A greve dos policiais militares da Bahia já afeta a indústria do carnaval no Estado. A poucos dias da festa, shows têm sido cancelados e não há garantias do governo sobre um "plano B" para manter a segurança nas ruas.
O receio de que a festa seja comprometida persiste entre alguns empresários, visitantes e a população local.
A sensação de insegurança tem feito boa parte do comércio, inclusive shopping centers, antecipar o fim do expediente. Há nove dias, antes que anoiteça, a cidade tem ficado deserta; e à noite o movimento cai a quase zero.
Na manhã desta quarta, representantes de blocos de carnaval, camarotes, artistas, bares e restaurantes se reuniram com o secretário de Comunicação do governo, Robinson Almeida, na tentativa de chegar a uma posição sobre a realização ou não do carnaval.
Almeida reiterou que haverá carnaval, mas não esclareceu se há um "plano B" para a segurança da festa, caso a PM não volte à ativa.
O carnaval de Salvador leva às ruas 2 milhões de pessoas em 25 km de avenidas e gera aproximadamente R$ 1 bilhão em negócios, segundo a prefeitura. A expectativa é que o município arrecade cerca de R$ 20 milhões em cotas de patrocínio.
Segundo o presidente da Associação dos Blocos de Trio, Fernando Bulhosa, a festa vai ocorrer, mesmo sem nenhuma garantia de término da greve da PM ou de um plano de contigência por parte do Estado.
"Não temos que ficar achando que não vai haver carnaval. Temos que criar uma agenda (de notícias sobre a festa) positiva", diz Bulhosa.
Prejuízos
Embora a festa comece oficialmente na próxima semana, a greve já espalha prejuízos no setor turístico e de entretenimento.
Dono de uma casa de shows na cidade, o empresário Jorge Sampaio conta que não abriu as portas desde que a greve foi decretada e já acumula prejuízo em torno de R$ 50 mil.
Segundo o presidente da Associação de Bares e Restaurantes, Luis Henrique Amaral, as perdas de faturamento dos estabelecimentos variam entre 50% e 90%.
Com a falta de movimento à noite, falta trabalho para profissionais como Ricardo Cavalcanti. Com o cancelamento de dois shows da banda para a qual trabalha, o engenheiro de som free-lancer diz que deixou de faturar cerca de R$ 4 mil.
"A preocupação agora é o carnaval: mesmo que aconteça, temo que as empresas cortem custos, trabalhem com menos pessoal para cobrir o prejuízo causado pela greve", diz o engenheiro, que chega a faturar até R$ 20 mil durante a festa.
Turistas
Na outra ponta, turistas reclamam da sensação de insegurança na cidade.
Em sua terceira visita a Salvador, a gaúcha Marina Silvestre, 27, diz sentir medo de conviver com o Exército nas ruas. Ela chegou à cidade no primeiro dia da greve e, desde então, não conseguiu ir a nenhum dos três shows que havia planejado – todos foram cancelados.
"O pior de tudo é que os shows são cancelados em cima da hora", diz Bárbara Machado, 27, amiga de Marina. As duas temem por um eventual cancelamento em cima da hora também do Carnaval.
"Já paguei R$ 700 pelo (bloco de) carnaval. Mas, se continuar assim, vou embora", diz Marina.
Donos de blocos já sentem no bolso os prejuízos. Segundo o Axé Mix, grupo que comercializa ‘abadás’ (ingresso para os blocos), as vendas caíram 30% em relação ao ano passado.
Os prejuízos também atingem os taxistas. "Desde que começou a greve, já tive dez desistências de passageiros que chegariam ao aeroporto", afirma José Sena, 60. Segundo o taxista, seu faturamento diário, que nessa época do ano costuma chegar aos R$ 200, já caiu a menos da metade.
"A partir das 16h, a cidade fica parada. Eu também tenho ido para casa nesse horário. Não vou correr o risco, né?".
IG
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